Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Excessivamente confuso para um filme que deveria ser apenas inteligente.

6,0

Adoro filmes inteligentes e complexos, que desafiam o espectador comum a pensar e, ao mesmo tempo, parar de encarar o cinema como um pacote de respostas prontas e fáceis. Sem dúvida, O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy, 2011) se encaixaria perfeitamente nessa definição caso sua ambição não fosse maior que a execução final. Como não se perder em pelo menos um momento deste filme? Falemos a verdade, é confuso.

Apesar da áurea de intrigas ser construída magnificamente, a edição não joga a favor. É aí que Tomas Alfredson, brilhante em seu trabalho anterior, o sueco Deixa Ela Entrar (Låt Den Rätte Komma In, 2008), mescla momentos irretocáveis com confusões de quem se ludibriou com o potencial da história. Seu trabalho deveria ser o de facilitar, sem perder a inteligência intrínseca à boa trama, a compreensão da história sobre qual daqueles homens da elite de espionagem inglesa é, na verdade, um espião russo infiltrado. 

Para essa missão, um agente aposentado interpretado com competência por Gary Oldman é chamado de volta para liderar a tarefa de descobrir a identidade do traidor. Enquanto a edição desfila confusão na tela – não demorei muito a me perder e demorei a me reencontrar –, os atores seguram qualquer desinteresse – e uma vontade maluca de reiniciar o filme para vê-lo com atenção redobrada – graças às maravilhosas interpretações que, sem dúvida, formam uma das grandes atuações coletivas do ano.

E são esses fatores complementares, como os intérpretes, os responsáveis por, no fim das contas, o longa-metragem ser acima do convencional. Pode parecer contraditório criticar a forma como a história é contada, julgá-la confusa em excesso e, mesmo assim, tecer elogios. Mas realmente o clima construído prende, enquanto a forma expulsa. O espectador cai, inevitavelmente, nesse jogo de querer desistir de tudo, mas não conseguir. E é nesse aspecto que reside todo o acerto de Alfredson. Ao mesmo tempo em que erra a mão, também acerta ao desenvolver aquele ambiente de eterno conflito, escuro, em grande trabalho ao lado do diretor de fotografia. As paisagens são sempre cinzas, não importa em qual país ou dia os personagens estejam, e os enquadramentos parecem dizer um pouco mais sobre aqueles homens de rostos fechados. 

Só que nesse jogo de altos e baixos na direção, Alfredson se equivoca ao achar que pequenos e difíceis detalhes em cena serão suficientes para o espectador acompanhar o que é passado e o que é presente. Nem sempre a sutileza é sinônimo de inteligência, às vezes, como aqui, pode significar confusão. E não adianta só redobrar a atenção, porque mesmo assim o ritmo da narrativa poderá boicotá-lo.

Se a história vai e volta a bel prazer, se é difícil acompanhar a todo instante qual papel cada um está desenvolvendo, tudo piora na hora em que as peças daquele xadrez ganham apelidos, justamente os que dão título ao filme em inglês (Tinker, Tailor, Soldier, Spy). Confesso, fui incapaz de guardar quem era quem e acompanhar perfeitamente a trama a partir do momento em que ora se referiam a eles pelo nome, ora pelo apelido. 

O pior é que ao final da projeção, tendo mais claro na mente tudo que o se passou, não senti nenhuma vontade de rever O Espião Que Sabia Demais para aproveitar melhor a história. Esse é o maior erro: a complexidade não suscita curiosidade, reflexão, ou mesmo o sentimento de provocação racional, mas sim um profundo desinteresse por aquele universo que, visualmente, é mais atraente do que seus conflitos.

Comentários (22)

Gustavo Santos de Araújo | sábado, 14 de Abril de 2012 - 21:48

Péssimo, audacioso, prepotente e distante a mil léguas da platéia! Uma afronta aos cinéfilos. Emilio traduziu muito bem o filme: '' sua ambição foi maior que a execução final''
E a tentativa de fazê-lo inteligente foi frustrada. A edição descompromissada e sem objetivo. Solta. Que pena!O filme tinha tudo para ser muito agradável com sua premissa inicial, mas a tentativa de fazê-lo inteligente o tornou uma lástima. Filme inteligente é o que te faz pensar refletir ao longo da trama e contatenar as idéias, e não um filme que te faz voltar 2, 3 ou mais vezes para o início para ver se você consegue tentar achar uma solução. Horrível.

Rodrigo Torres | quinta-feira, 19 de Abril de 2012 - 05:07

Confuso, e daí?! Um filmaço que certamente estará na minha lista de melhores (já bem incorpada) ao final do ano.

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 26 de Novembro de 2013 - 14:52

Um filmaço!!! Acredito que alguns filmes, como esse, são confusos propositalmente para nos transportar para a mente de seus personagens, que, por vezes, se encontram confusos assim. Oldman está perfeiro, mais uma vez. Nem acredito que um ator que já interpretou, tão magníficamente, o Conde Drácula (Drácula de Bram Stoker), Stainfield (O Profissional), Mason Verger (Hannibal) e Jim Gordon (Batman de Nolan) tenha recebido apenas sua primeira indicação ao Oscar, sende que seu desempenho em Hannibal e Dracula são impressionantes!!!

Marcos Freitas | terça-feira, 15 de Novembro de 2016 - 18:27

Tive a mesma impressão!!!

Faça login para comentar.