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Críticas

Cineplayers

Uma comédia dos anos 80 que não representa o melhor que aquela década tem a oferecer dentro do gênero.

4,0

Lançado em uma grande década para a comédia e a aventura, este filme idealizado e roteirizado pelo próprio Dan Aykroyd em 1985 é uma amostra interessante de como os anos 1980 também produziram muitos (e são muitos mesmo) filmes descartáveis. Os Espiões que Entraram Numa Fria brinca, mais uma vez, com o tema da Guerra Fria (em uma época, vale lembrar, que ela ainda era realidade). Em teoria, um prato-cheio para boa comédia. Na prática, pelo menos nesse caso, foi um tiro que saiu pela culatra, ou então um roteiro que saiu mal escrito mesmo.

Um poderoso míssel nuclear foi detectado pela Inteligência dos Estados Unidos na União Soviética, e para isso são enviados quatro agentes para resgatá-lo: dois deles “sérios e capazes” e duas iscas “burras e atrapalhadas”, Emmet e Austin (Aykroyd e o sempre divertido Chevy Chase), para confundir os russos. Enquanto isso, numa base subterrânea secreta do governo americano, oficiais tramam os melhores caminhos para a missão desses agentes. O filme está cheio de furos óbvios, mas tem um espírito avacalhado que justificaria e anularia tais furos diante do público caso não tivesse um grande problema.

Esse grande problema, o maior problema do filme, é o fato dele se levar à sério demais. Grandes oportunidades cômicas foram desperdiçadas, e a aventura desinteressante no deserto e também a sub-trama dentro da base secreta pareceu ganhar prioridade sobre a comédia escrachada dois nossos dois "heróis" em território inimigo. Oras, o clássico Doutor Fantástico conseguiu, 20 anos antes, zombar da Guerra Fria de forma muito mais inteligente e divertida, e sem se esforçar tanto. Aqui, foram criadas um milhão de possibilidades no roteiro que acabaram não sendo aproveitadas. Pois é isso que Spies Like Us faz: cria inúmeras situações e nunca consegue dar o xeque-mate nas piadas.

Uma pena, pois, hoje, décadas depois, o filme que poderia ser visto como até mesmo um registro cinematográfico da Guerra Fria – mesmo que em forma cômica – é apenas um apanhado de cenas sem sal e deveras desinteressante. Chevy Chase seria o único motivo, nos dias atuais, para despertar para o filme o interesse de um público cada vez mais ávido por obviedades no gênero. O ator hoje é uma sombra do passado – algo comum em Hollywood, dar uma carreira curta a seus atores cômicos – mas naquela época, mesmo com um roteiro medíocre, apenas sua aparição em tela divertia a audiência. Seu rosto de bobalhão era praticamente inigualável. Isso, pelo menos, ainda está presente no filme.

A melhor das cenas – impagável – acontece bem cedo no filme: um teste de admissão para um cargo melhor dentro dentro do FBI, que nossos dois protagonistas realizam de forma hilariante. É onde o filme melhor funciona como comédia – os trejeitos visuais e o texto são simplesmente perfeitos. A partir daí, a coisa começa a ficar cada vez mais morna, até esfriar totalmente. Uma coincidência, visto que a segunda metade do filme passa-se em cenários com neve. Os anos 80 podem oferecer coisa muito melhor do que esta comédia, e não é necessário procurar muito para encontrar.

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