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Críticas

Cineplayers

Inocentes ou culpados?

8,0
Um homem surge do horizonte, embaçado pelo sol como um fantasma, e chega à pequena cidade de Lago. No saloon, acaba provocado por três homens e os mata para se defender, descobrindo logo a seguir que eles eram a proteção da cidade contra bandidos que estão para sair da cadeia e buscar vingança contra a população que os prendeu. Assim sendo, esse forasteiro, esdrúxulo, sujo e sem sentimentos acaba se tornando a principal esperança de Lago, que entrega tudo o que tem para que ele a defenda sem maiores problemas.

Clint Eastwood já era um rosto conhecido do cinema western na época por suas participações em filmes tanto do gênero, principalmente com Sergio Leone, quanto policiais, então era com certa expectativa que, em 1973, O Estranho Sem Nome (High Plains Drifter, 1973) chegou aos cinemas sob sua direção. Porém, a recepção não foi tão boa, pois o filme é violento, impiedoso e pessimista, ao contrário de tudo o que o tradicional faroeste construiu desde 1903 com Kit Carson e John Ford. Apenas em seu segundo trabalho como diretor, Eastwood já mostra extrema personalidade e entrega um trabalho crescente, bem pensado, pegando emprestado características do western italiano e que se encaixa todo com o mistério central: quem é aquele homem?

Enquanto a cidade é movida por medo - primeiro, dos bandidos, depois, do forasteiro e mais a frente ainda, do terrível segredo guardado -, todos os seus habitantes concordam em fazer tudo por ele para que fique e proteja a cidade, que vive sem um xerife de ofício após esse ter sido brutalmente assassinado a chicotadas na frente de todos. A realidade é que aquela cidade revela-se suja, pecaminosa e esse medo, na verdade, é resultado de ações do passado. Então, quando o forasteiro abusa do acordo, mata ou estupra, ele está se vingando de quem 'merece', e não apenas seguindo um instinto maligno; basta lembrar que a família de índios, também de fora da cidade, é muito bem tratada por ele.

O quebra-cabeça construído engloba de tudo: um banquete irônico, casas pintadas de vermelho - a cor do pecado, das chamas, do ardor -, e até mesmo uma renomeação de Lago para 'Hell', o inferno propriamente dito - e nunca ninguém questiona a ponto de fazer algo para impedir. Conforme vamos conhecendo aquelas pessoas, entendemos tudo o que o forasteiro faz. Esqueça o herói bom moço que estamos acostumados, pois O Estranho Sem Nome inova e segue muito mais uma linha de suspense, pegando emprestado algumas características do horror também para criar um filme muito mais denso e culpado, ainda que tenha um momento ou outro de diversão.

Mesmo que previsível, toda essa ambientação em cima da jornada de redenção gera boas cenas, uma trilha sonora impecável e pelo menos duas ou três passagens inesquecíveis em um filme que abusa física e psicologicamente de todos que protagonizam aquela história - além do público, claro, que vê passivo essa reconstrução do arco ser redefinida sem muito poder fazer além de se chocar. É um filme que muito mais denuncia a corrupção do ser humano do que está interessado em dar respostas, respeitando a inteligência do público. Apesar disso, em certo momento é dito que um homem sem lápide não tem descanso, o que deixa bem claro quem é o homem forasteiro que some tão rápido quanto apareceu no horizonte.

Comentários (3)

Carlos Eduardo | terça-feira, 27 de Junho de 2017 - 22:03

Grande filme, assisti recentemente. Boa crítica Rodrigo.

Alexandre Koball | quarta-feira, 28 de Junho de 2017 - 08:10

Agora que percebi que ainda não assisti...

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