Saltar para o conteúdo

Família da Madrugada

(Midnight Family, 2019)
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Sob pressão

6,0

45 ambulâncias para mais de 9 milhões de pessoas. Esses são números oficiais da Cidade do México, que se viu em meio ao colapso quando o governo restringiu o cuidado da saúde de emergência do país a isso. Em resposta à essa calamidade, a população desesperada parte para uma solução alternativa e um sistema de socorro particular nasce. São grupo de pessoas que compram ambulâncias e passam a servir a sociedade de maneira particular, sem qualquer garantia de pagamento. Esse é o ponto de partida de 'Família da Madrugada', documentário que se propõe a seguir um grupo familiar que sobrevive graças a esse trabalho, e mostra suas noites intermináveis em situações surreais em alguns pontos, que parecem abrir precedentes para a ficção se tornar cada vez mais absurda.

O diretor Luke Lorentzen conheceu a família Ochoa e sua atividade, e imagino ter sido inevitável transformar seu cotidiano em registro audiovisual, resultando em um dos longas mais tensos do Olhar de Cinema desse ano. Acompanhar seu dia a dia é absorver todo o arsenal de situações vividas diariamente, que vão desde disputas com outras ambulâncias para atender primeiro a um chamado, subornos à polícia para conseguir informações sobre acidentes, a falta de dinheiro da população para arcar com um serviço que deveria ser gratuito por obrigação, a vida da própria família que se divide entre o trabalho e a atividade... peraí, quando chega nessa seara, percebemos um distanciamento não muito saudável pro projeto. Tem família no título, acompanhamos uma família, entramos na casa dessa família, porque então temos tão pouco acesso a suas relações familiares?

Ainda que o centro gravitacional do projeto seja os muitas vezes insanos acontecimentos que pautam as tentativas da família Ochoa em conseguir sobreviver com uma atividade muito irregular, sua estrutura de formação deveria servir de base para contar essa história, principalmente quando o filme decide mostrá-los fora do habitat de trabalho. Com duas personagens femininas apenas (que exercem funções predatórias ou inexistentes), o filme gira em torno de um gênero apenas a disputar o carisma do público, e faltam elementos para conseguir conexão com seus quarteto protagonista - que dividem as funções na ambulância familiar. Pai, dois filhos (entre eles, uma criança) e um amigo, saem toda noite pelas ruas do México, e transformam o longa no que poderia ser o piloto de uma série; aliás, acho que o filme parece perceber que vai desenvolver suas outras questões "no próximo capítulo", quase com clareza.

A montagem de 'Família da Madrugada' faz toda a diferença para o produto final. O filme tem agilidade de um filme de ação eletrizante em alguns momentos, em outros consegue absorver as mais sutis piadas de sitcoms, criando um pacote de interesse universal. Todos os personagens tem carisma e denotam possíveis desenvolvimentos mais ricos, com um imenso leque se abrindo de tramas que cabem acompanhar e torcer. Fica a dúvida: porque o quadro final é visto tão pouco?, ou... será que o mais adequado realmente não era criar um seriado com mais espaço para ampliar os horizontes mostrados nos breves 80 minutos de projeção, onde não apenas a família Ochoa pudesse brilhar, mas essencialmente tivéssemos acesso aos motivos que levaram o México a chegar nesse caos do atendimento público? 

Filme visto no Olhar de Cinema de Curitiba

Comentários (0)

Faça login para comentar.