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Felicidade Delas, A

(A Felicidade Delas, 2019)
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Críticas

Cineplayers

Desejos pra fora da clandestinidade

8,5

Como organizar alguma originalidade imagético-narrativa a um recorte tão atual de imagens que não param de ser realizadas e sintetizadas a todo momento pelo cinema atual? Ainda que a palavra (e a função) "original" e suas derivações estejam em desuso e em processo de banalização, as manifestações de todas as ordens que começaram a invadir o país nos últimos 7 anos foram perseguidas por um grande número de cineastas. Ao acompanhar A Felicidade Delas, Carol Rodrigues desdobra a partir do que já foi dito algo muito próprio e peculiar.

A princípio um novo retrato do painel de lutas feministas através da união das mesmas, Carol muito rapidamente situa sua ação para dois rostos que não simplesmente são mais "dois na multidão", gradativamente focados. Ao colocá-las longe porém próximas, distintas e também uníssonas, o filme emparelha suas protagonistas para um encontro que se transformará em descoberta, sob múltiplos aspectos. A partir de um momento de desespero e indefinição, esse encontro significa não só proteção, como reconhecimento.

Em fuga, ambas são enclausuradas em um "mundo subterrâneo", um lugar onde, uma vez escondidas, encontram a liberdade que a superfície não abarca. Estão ocultas e sob as sombras, mas é nesse lugar que seus interiores encontram sublimação. São atrizes, e também são arqueólogas escavando o hoje real, o mundo libertário que desejam para todos está provisoriamente às escuras; a cada nova iluminação da lanterna, um novo descortinamento sobre as pinturas rupestres do amanhã.

Carol também propõe fisicalidade de ação, não apenas reflexão estática. Suas protagonistas, que estão no olho do furacão, anseiam também pela urgência do desejo, pela materialidade do que apregoam na teoria. Tudo acontece de maneira simples, como é simples a atração; de forma direta e sem subterfúgios, uma pulsão de colocar em prática a ascensão do desejo e da fisicalidade, explode a poesia. É nesse momento que o filme une o que é palpável com o que é "sonhável", "delirável", e ainda assim, a saída possível para o futuro. 

Carol Rodrigues em parcos 15 minutos sugere uma abertura de comunicação através do entendimento empático, que pode desenrolar para uma análise do desejo que precisa ser consumado. Em imagens cheias de luzes, cores e texturas, temos em tela um exemplar absolutamente renovado sobre as lutas necessárias, as possíveis e os lugares onde os poderes podem se encontrar, e frutificar.

Crítica da cobertura da 23ª Mostra de Tiradentes

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