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Filhos de Macunaíma

(Filhos de Macunaíma, 2019)
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Etnografia em questão

5,0

Ao lermos declarações públicas sobre a perda de identidade indígena, que estaria condicionada exclusivamente a manutenção frequente de suas tradições mais ancestrais, um filme como Filhos de Macunaima parece ser ainda mais necessário e pertinente. Ao investigar através de três núcleos distintos um recorte sobre a realidade de integrantes de tribos de Roraima, com suas questões diárias e seu cotidiano amplo, o diretor Miguel Antunes Ramos rebate essas "opiniões" com um entendimento mais profundo de individualidade e ancestralidade, em diálogos espontâneos que dão peso ao índio enquanto cidadão com suas opções diferenciadas, sem abandonar suas raízes.

Nos três segmentos apresentados, ao menos um código é problematizado. Na relação entre Maria e Daniel, o conflito de gerações entre mãe e filho é o típico da idade (ele, um adolescente), agravado pela situação étnica, tendo em vista que Maria ainda participa ativamente de ações da tribo. A ambiguidade está no fato de que Daniel tem a pré-disposição à dança, o que os aproxima sem que eles mesmos percebam. São, portanto, duas gerações diferentes que ainda assim ministram valores e expressões artísticas que os unem.

A vida de Teuza é separada entre sua vida familiar no Brasil e seu trabalho de babá na Guiana, onde também se distancia do imaginário da mãe que se imaginaria típica; em outro país, suas escolhas individuais tem peso, enquanto no Brasil sua responsabilidade tem um peso diferenciado. Na criação familiar, os conflitos variam com a obrigação de ter pulso, e entre filhos de sexualidade libertária, problemas na educação de um deles e a relação com o ex-marido ausente, Teuza tem as certezas necessárias para manter suas convicções, tanto no que concerne os sacrifícios para sustentar a família quanto a manter seus laços no Brasil.

Já a família Teles observa uma estagnação diante das possibilidades que o governo Dilma Rousseff proporcionou a sua realidade e o atual estado das coisas, com apreço claro pelo passado recente. Entre reuniões de condomínio, preparativos para a participação ativa em uma quadrilha junina e uma busca frequente da figura paterna por uma nova configuração econômica de sua família, essa passagem tem como caráter principal unir os três segmentos em torno de uma organização funcional para o debate do filme, e suas demandas temáticas.

O trabalho de direção cinematograficamente não tem nada de inventivo ou diferenciado de alguma forma, seguindo a paleta comum do documentário padrão, mas sua função social e etnográfica acaba garantindo o interesse durante toda a projeção, com certa agilidade no ritmo. Ainda que a experiência enquanto peça de cinema não forneça maiores possibilidades ao trabalho de Ramos, o filme mostra o que talvez seja um ímpeto do realizador ao escolher o que filmar e como filmar, propondo uma reflexão sobre o 'modus operandi' dessa fatia de sociedade no lugar de investigar propostas estéticas.

- Visto no 13º CineBH 2019

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