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Críticas

Cineplayers

O melodrama de guerra de Yimou Zhang.

7,0

As escolhas feitas por Yimou Zhang para compor seu novo filme, Flores do Oriente (Jin líng shí san chai, 2011), reafirmam sua preferência por um cinema mais espelhado em moldes ocidentais – e talvez sirva como uma explicação para todo o seu sucesso por esses lados. Em seu filme anterior, A Árvore do Amor (Shan zha shu zhi lian, 2010) – uma trágica história de paixão jovem proibida em época de guerra – essa opção do cineasta se evidenciou no uso do tom melodramático ao bom estilo clássico hollywoodiano; e agora, com Flores do Oriente, as possibilidades de mergulhar de cabeça nesse estilo consolidado pelo cinema americano são infinitas – e plenamente aproveitadas.

Adaptar a história real do americano que arriscou a vida para ajudar garotinhas de um convento em plena guerra entre Japão e China em 1937, escalando Christian Bale para o papel principal, não deixam dúvidas a respeito das ambições de seu realizador. A premissa é um prato cheio para alguém que pretende fazer um épico de guerra repleto de temas como redenção, coragem, esperança, violência e salvação, e portanto, não é de causar surpresa a sensação de déjà vu que paira no ar durante quase todo tempo. E, se tratando do cinema de Zhang, isso não chega a ser um problema; pelo contrário, faz parte do seu estilo, onde o drama sempre tem um peso considerado por muitos como exagerado.

Então embora haja sim todo esse tom por vezes meloso conduzindo uma narrativa que parece não conseguir decolar em momento algum, o lado ruim realmente prevalecente de Flores do Oriente está na timidez de Zhang em explorar melhor sua estética. Mais contido do que nunca, aqui ele parece não se importar tanto com suas cores e seus hipnotizantes jogos de luzes – embora haja símbolos visuais que explorem muito essas características, como o multicolorido vitral da igreja por onde a personagem-narradora observa boa parte dos acontecimentos. Tudo bem que o cenário de guerra e desolação não é o mais favorável para a exploração de seu cinema policromático, mas mesmo quando ele procura aproveitar as possibilidades dessa cenografia (com direito a explosões coloridas e em câmera lenta), parece que há certo receio de ousar mais, talvez por conta da acinzentada atmosfera pesada de morte que domina em especial a fotografia.

Não tendo a exuberância e capricho visual tão costumeiros no cinema de Zhang, o que resta ao espectador é acompanhar uma típica trama de guerra permeada pelo melodrama sentimentalista, mas nem por isso ineficiente. O grande problema nessa narrativa é a rapidez com que esse sentimentalismo vai ganhando espaço. Em um filme de mais de duas horas e meia de duração, há tempo o suficiente para desenvolver as histórias dos personagens sem a necessidade de apelar para a condolência do público logo de cara, mas parece que Zhang quer desde os momentos inicias envolver o espectador em lágrimas, afetando grandemente a construção do personagem de Bale. John Miller é um cara egoísta e de espírito aventureiro que vai para a China apenas para cumprir com a missão de enterrar um padre, mas que aos poucos vai se compadecendo da situação das meninas órfãs da igreja e acaba decidindo ficar para ajudar. Ou seja, é um personagem que supostamente deveria aos poucos ir se deixando humanizar, mas que devido à falta de bom aproveitamento de metragem acaba mudando da noite para o dia sem muito cuidado por parte do roteiro, comprometendo assim sua verossimilhança.

Entre o sentimentalismo inspirado em A Lista de Schindler (Schindler’s List, 1993), em que também temos um personagem altruísta e abnegado lutando pela vida de pessoas desconhecidas durante uma época de guerra, e toda a técnica caprichada digna de produções do calibre de O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998), Flores do Oriente é um trabalho baseado numa história real que poderia ter rendido muito melhor se Zhang se apegasse mais ao seu próprio estilo e deixasse um pouco de lado a preocupação em americanizar cada momento. Por abordar uma guerra pouco lembrada no cinema, seus acontecimentos poderiam empolgar e jamais cair na previsibilidade, mas o foco do cineasta compromete o frescor da obra. Por isso, não é aconselhável esperar um épico de guerra chinês autêntico e diferente do que estamos acostumados a ver. O segredo é embarcar na trama clichê e chorosa e esquecer que se trata de um filme de Yimou Zhang.

Comentários (5)

Rodrigo Torres | segunda-feira, 28 de Maio de 2012 - 09:34

E uma coisa dá pra ter certeza,os filmes de Zhang saem exatamente como ele quer. [2]

Luiz F. Vila Nova | terça-feira, 29 de Maio de 2012 - 08:57

Ainda não assisti, mas como adorei "Herói" e curti também "O Clã das Adagas Voadoras", vou dar uma chance para "Flores do Oriente", ainda mais por ele lembrar o fantástico "A Lista de Schindler" e ter a técnica apurada de "O Resgate do Soldado Ryan"😉

Vinícius Aranha | terça-feira, 29 de Maio de 2012 - 13:10

Parece bem clichê, mas não quero perder meu primeiro filme do Zhang no cinema.

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