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Críticas

Cineplayers

Uma excelente idéia de execução falha.

5,0

Fonte da Vida foi um filme difícil de sair do papel. O primeiro trabalho mainstream do talentoso Darren Aronofsky estava previsto para sair com orçamento generoso e dois astros do alto escalão – Brad Pitt e Cate Blanchett. Abandonado pelos protagonistas e depois cancelado pelo estúdio, só viu a luz do dia com o roteiro reescrito, orçamento cortado drasticamente e novos atores nos papéis principais: o ascendente Hugh Jackman e Rachel Weisz, esposa do diretor e atual vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante (por O Jardineiro Fiel).

É até espantoso perceber a grandiosidade do projeto com o passado do diretor, até então atrelado a produções independentes de baixo orçamento, no caso o instigante Pi e o chocante Réquiem para um Sonho. Por mais que Aronofsky mantenha o estilo que o consagrou, com transições de cena inventivas, ângulos de câmera sofisticados e cortes ágeis, percebe-se em Fonte da Vida que tudo parece grandioso demais para suas rédeas. A impressão que se tem ao assistir ao filme é que este vai desandar a qualquer momento, que a mão do diretor não foi firme o suficiente.

Das três histórias correlacionadas (e contadas simultaneamente), aquela que deveria ser o elo forte e que provocaria maior identificação com o espectador, acaba sendo a que mais falha, uma contemporânea história de amor banal, já vista e revista centenas de vezes : Thomas Creo (Jackman) é um neurocirurgião obcecado na busca da cura do câncer, doença esta que está matando sua esposa Izzi (Weisz). A cura pode estar em uma árvore da Guatemala, mas essa fixação de Thomas em concluir os experimentos acaba afastando-o da amada, cada vez mais dominada pela doença.

Esta árvore guatemalteca é o centro das duas outras linhas narrativas, estas alegóricas. A primeira, passada no século XVI, mostra o corsário Tomaz (novamente Jackman), sob desígnios da rainha Isabel da Espanha (também Weisz), em busca do Éden e da árvore da vida, que poderia prover a imortalidade – história esta contada em um livro que está sendo escrito por Izzi. O outro segmento, passado meio século no futuro, mostra Tommy ainda vivo, dentro de uma bolha, viajando para uma estrela que está morrendo na derradeira tentativa de trazer a falecida esposa de volta à vida. É quando o protagonista percebe que a morte, e não a vida, pode aproximá-los novamente.

É fascinante o nível de complexidade do filme, exatamente o que assusta e afasta o público que vai ao cinema para desligar o cérebro e se divertir. Fonte da Vida, montado da forma como está, é um desafio de entendimento e que exige atenção redobrada para que nada seja perdido durante a jornada de Thomas – uma segunda, e terceira, e quarta revisão são muito bem-vindas. Até porque o roteiro dá margens para muitas interpretações, e nem todas se conectam como deveriam, o que pode ser proposital. Por isso mesmo está sendo rejeitado de forma tão sucinta, e suas questões metafísicas, rejeitadas.

Nesse sentido, só atrapalham a percepção a fotografia cansativa em tons amarelos, a música onipresente de Clint Mansell e os efeitos visuais de gosto duvidoso. Hugh Jackman também não consegue transmitir a profundidade que o papel exige, e Rachel Weisz não tem chances de mostrar o comprovado talento. Somando-se todas essas questões, fica apenas uma certeza: Fonte da Vida é uma excelente idéia de execução falha.

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