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Francisco

(Francisco, 2018)
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Identidade perdida

4,0

Filmes sobre busca da identidade, sobre reencontros com a mesma, sobre não pertencimento, sentimento de inadequação, impasses familiares, são produzidos em proporção absurda em temas não necessariamente inesgotáveis, e acho que esse Francisco é um exemplo de que a fórmula nem sempre apresenta novos elementos e que muitas vezes só reafirma conclusões já vistas em outros lugares, melhores desenvolvidos e contradições morais ainda não apresentadas. O filme de Teddy Falcão não busca novos lugares de comunicação com a plateia ou com sua temática, embora ela seja de fácil e rápida comunicação.

O protagonista de seu filme estabelece com a plateia uma cumplicidade instantânea, ao acompanharmos seu desconforto, sua ambiguidade espacial, seu desequilíbrio afetivo ante o que o cerca. Francisco busca uma conexão, emocional ou concreta, com os laços que uma tragédia desfez - saberemos disso no decorrer da produção. Antes dessa associação, o protagonista se coloca como um ser perdido, desprovido de respostas. Ele percorre zonas de conforto, informações de ordem prática, ele tenta se conectar ao que está ao seu alcance, sem sucesso. O bloqueio foi feito e é preciso todo um desprendimento para acessar o lugar de reencontro consigo mesmo.

Teddy fala sobre um lugar onde todos nós já estivemos, metaforicamente e emocionalmente, mas sua narrativa não encontra reverberação sensitiva em seu próprio desenrolar. A montagem do próprio diretor tenta evidenciar o desarranjo existencial do personagem-título, com cortes bruscos que apartam uma conexão maior entre o espectador e a narrativa, mas que ao mesmo tempo tratam de reproduzir uma realidade interrompida e difusa, sem lugares fáceis, ainda que esses gatilhos não constituam também eles algo novo; no ponto do sensorial ou do fazer cinematográfico, o filme não acrescenta dados novos à narrativas previamente vistas sobre esse vasto tema. 

Matheus Brandão se esforça, mas o roteiro não o deixa livre pra se revelar, pois está preso a um texto que carecia de uma maior elaboração, prejudicando o trabalho do ator quando longe da corporalidade, que ele realiza com certa competência. Essa provavelmente é o principal entrave de Francisco, não conseguir naturalizar o que é feito de maneira competente pelo corpo de Matheus. O filme dependeria de uma condução mais pronunciada e uma faixa de diálogos menos artificializada, para encontrar um lugar para além da sensação de repetição provocada pelo mesmo. 

Crítica da cobertura da 3ª Mostra SESC de Cinema de Paraty

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