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Críticas

Cineplayers

Megan Fox vive garota possuída pelo demônio em filme pouco inspirado.

4,0

Uma lenda urbana adolescente no estilo terror, um conto macabro para o público juvenil, com pitadas da cultura pop atual, em clima soturno porém altamente sexy. Seria algo assim um modo de definir Garota Infernal, sendo bem otimista com relação à proposta do filme.  Mas é preciso muita boa vontade para embarcar numa obra dessas, onde a falta de verossimilhança extrapola demais o bom senso e o bom gosto, e simplesmente não há como se deixar levar por um argumento de roteiro simplesmente ridículo.

É ver pra crer: em uma pequena cidade chamada Devil’s Kettle (trocadilho infame de cattle, querendo dizer “rebanho do demônio”), duas inseparáveis amigas, com fortes pulsões de lesbianismo, Jennifer (Megan Fox) e Neddy (Amanda Seyfried), combinam de ir a uma apresentação de uma banda de rock indie conhecida através do site MySpace, chamada Low Shoulder (como um The Killers bem capenga). O local da apresentação pega fogo, e eis que, após isso, Jennifer abruptamente passa a demonstrar um comportamento de pessoa possuída pelo mal, na linha de O Exorcista, lançando jatos de vômitos, entre diversas outras peripécias diabólicas.  Sua missão agora é, tal como um mito no melhor estilo Hera Venenosa, atrair os machos para depois devorá-los em carne viva.

Por mais que inicialmente possa parecer chocante, todas essas ideias, essa personagem meio vampira, meio zumbi, meio mitológica, as cenas de canibalismo escatológicas, a utilização de uma estética do grotesco, não são novidades nenhuma no cinema. Não há uma transgressão como se pretende - são inclusive recursos bem velhos. A trama é fraca, não fisga o interesse, porque as cenas de puro horror são lançadas de modo gratuito, sem uma tensão, sem um suspense com densidade. O eixo narrativo não convence, o espectador e apresentado a uma historinha banal típica de High School norte-americano, novamente apelando para os mesmos estereótipos de sempre (a menina popular, a nerds de óculos, o gótico emo etc.), sem acrescentar nada de muito original.

Contudo, o filme pretende ser cool e, para tanto, como manda o clichê pós-moderno, dá-lhe referências a cultura pop e banalidades em geral, aspirando talvez um tom crítico. Estudantes discutem sobre a legitimidade do Wikipedia (personagem afirma que “se está no Wikipedia, portanto é verdade”); banda de rock para atingir a fama, e quem sabe se tornar o próximo Maroon 5, planeja pacto com forças ocultas; jovens confundindo Rocky Horror Show com filme de boxe; menções a Hanna Montana e até zombaria pra cima da personalidade mais “desrespeitada” da  história do rock, Phil Collins. Tudo isso, é claro, porque o roteiro é da novata Diablo Cody, a ex-stripper que ganhou o prêmio Oscar logo no seu filme de estreia, o superestimado Juno, também cheio das intertextualidades que agradam em cheio a moçadinha do meio alternativo.

Infelizmente, se em Juno a roteirista Diablo Cody era uma grata surpresa para o mundo do cinema, uma promessa autêntica, um novo e inesperado talento cheio de frescor e ímpeto juvenil, aqui ela parece um artista beirando o amadorismo no seu ofício. Fazendo uma analogia com a indústria da música, é como o artista de um sucesso só: a duras penas lança o seu aguardado segundo álbum, sem repetir a qualidade e o sucesso do anterior. Mesmo contando com uma das maiores estrelas do cinema momento, Megan Fox, o filme parece todo um equivoco, a não ser justamente pelo fato de que a atriz caiu muito bem no papel de uma sexy porém amedrontadora garota diabólica – somente os traços faciais de Fox, deveras expressivos e cinematográficos, já conseguem dar forma a personagem da possuída.

Em suma, Garota Infernal parece arriscar-se no território de Shyamalan, abordando o sobrenatural e o oculto, mas sem uma pegada de suspense. Pende para algo aterrorizante como um Jogos Mortais, mas não é tão chocante – é manjado. Passa pelo terror, pela comédia teen de colégio americano e até mesmo conta cenas sexy bem picantes, mas perto dele, filmes como Crepúsculo e Segundas Intenções parecem obras primorosas. E sem dúvida isso não é lá um bom sinal.

Comentários (2)

Marcus Almeida | domingo, 10 de Junho de 2012 - 17:31

Tudo isso, é claro, porque o roteiro é da novata Diablo Cody, a ex-stripper que ganhou o prêmio Oscar logo no seu filme de estreia, o superestimado Juno, também cheio das intertextualidades que agradam em cheio a moçadinha do meio alternativo.

Falou tudo.

No mais: Garota Infernal > Juno.

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