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Críticas

Cineplayers

O Cálice de Fogo é medíocre como cinema e não acrescenta quase nada à mitologia do mundo de J. K. Rowling.

3,0

Fui com um simples pensamento para a sessão - obviamente lotada de pirralhos: não pode ser pior que os três primeiros. Não pode ser pior que os três primeiros. Não pode...

J. K. Rowling certamente é a maior e mais bem sucedida canastrona de todos os tempos. Bem, pelo menos das últimas décadas. Seu mundo inventivo é mixuruca, entediante. Baseando minha opinião nos filmes, a grande maioria das passagens são gratuitas e simplesmente não dão ao filme um núcleo forte. Qual o objetivo de Potter? Qual é a do Valdemort? Por que em todos os filmes alguém entre os personagens secundários é um bandido que revela-se ser quem não era apenas no final? Por que eu deveria me interessar por um bando de moleques mimados descobrindo a sexualidade?

A história de O Cálice de Fogo, não surpreendentemente, não adiciona muita coisa à "mitologia" de Potter. Temos a reencarnação do grande vilão - ou algo que o valha - mas a cena é tão ruim e tão constrangedora que a vontade é de rir. O filme possui mais de 2:30 h. Os fãs dizem que é pouco. Eu digo que a metade disso já teria sido suficiente. Ele consegue divertir. Ele é uma boa comédia. Um bom filme infantil. Toda a sequência do baile na escola (se o baile é anual, porque nos três anos anteriores nunca sequer citaram ele?) diverte - na verdade, é a sequência mais divertida do filme. Onde as risadas saíram.

Mas não é um filme sobre bailes pré-adolescentes! É para ser um filme cujo mundo é rico, uma história que, sei bem eu pelas vendas dos livros, deveria ser interessante, excitante. Não apenas uma sequência de esquetes e pequenas aventuras que, num todo, não acrescentam nada para nada em nada. Não entendo como tantos aceitam isso passivamente. Idolatram a autora e os filmes. Ora, no final de O Cálice de Fogo é que as coisas realmente começaram a acontecer. Para quê existiram quatro histórias longas e entediantes antes disso? Acredito (embora não espero mais nada) que do quinto livro/filme para frente deva existir algo com real valor narrativo e que constitua uma história de verdade.

Tecnicamente o filme possui passagens lindas, os 15 minutos iniciais possuem beleza e planos exuberantes. Mas a partir daí a coisa descamba. O visual permanece repetitivo, escuro, sujo e feio. É o filme com maior censura da série até o momento. Realmente, é o filme mais violento. Mas ainda assim é um filme infantil. Merecia ser mais colorido, bonito. As sequências dentro dos corredores monótonos do castelo parecem intermináveis. Muito papo e pouca coisa interessante acontece. Isso se não se é fã, claro. Creio que os filmes foram feitos só para os fãs. Isso eu entendo. O que não entendo é como há tantos fãs dessas histórias bobas e sem sal. Os livros devem ser muito melhores. TÊM que ser muito melhores. Senão vivo num mundo que não preza pela originalidade, pela qualidade de um enredo bom, onde seus personagens crescem com o mundo, que fica menor e mais claustrofóbico, que realmente constituam uma ameaça para seu personagem principal. Mas não, tudo continua a mesma coisa desde 2001, quando A Pedra Filosofal surgiu.

As interpretações não melhoram de filme para filme. Os diálogos, tampouco. São rasos e muito entediantes. A obviedade das situações constrange quem vai atrás de bom cinema, não de um apanhado de esquetes engraçadinhas e aventurazinhas infanto-juvenis. Harry Potter em momento algum mostra ter força para ser um personagem principal de coisa alguma. Quanto mais de uma série que vai ser lembrada por pelo menos 10 anos após seu encerramento. Fica complicado definir o personagem principal de todo o mundo superficialmente imaginado por J. K. Rowling. Sendo Potter tão fraco, e seus dois principais amigos tão sem sal, o que mais importa?

A direção de Mike Newell, que sempre foi um diretor razoável no máximo (estranha escolha para dirigir tamanha responsabilidade), pode ser considerada medíocre. Há aqueles bons momentos, já citados, aqui e ali. Mas o seu trabalho é burocrático. Fico imaginando que não teve muita liberdade de direção. Ou o diretor continua sendo apenas razoável mesmo. Nos dois casos não importa. Potter é um filme com ritmo irregular e lento.

Teria mais o que reclamar, mas quando sei que é complicado ser ouvido, perante a certeza que que os fãs desse mundo fraudulento não iriam dar o braço a torcer, prefiro continuar no meu canto e ir atrás de bom cinema. De diversão real. Seja lá onde isso existir nos dias de hoje. Potter é sempre um evento e acredito que continuará sendo um evento até o fim de sua existência. Mas só graças à passividade de um público cada vez menos pensante.

Adendo à crítica (05/01/2006)

Como vários leitores me alertaram por e-mail, há uma parte da crítica acima INCORRETA: referenciando-me ao baile acontecido no filme, afirmei (reclamei) que era um baile anual e estranhei o fato de não ter sido mencionado  nos outros filmes. Obviamente não é o caso. O baile ocorre "quando há o torneio Tribruxo", em intervalos indeterminados.

Preferi retificar o erro com esse adendo a simplesmente corrigir o texto e "fingir que nunca aconteceu". Ele foi originado do fato de (1) eu nunca ter lido nenhum livro de Potter e (2) não ter prestado a atenção correta às informações dessa parte específica do filme. Minhas sinceras desculpas a todos os fãs. Sei bem como é ler algo negativo de algum filme que se gosta/ama quando esta crítica negativa é injusta por estar incorreta. Ainda assim, isso não torna o filme melhor, apenas um pouco menos bagunçado em seu roteiro, e a avaliação permanece a mesma.

Comentários (2)

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