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Highlander - O Guerreiro Imortal

(Highlander, 1986)
6,7
Média
225 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Só pode haver um, seus animais

7,0

Highlander - O Guerreiro Imortal (Highlander, 1986). Fonte: Divulgação 20th Century Fox
Highlander - O Guerreiro Imortal (Highlander, 1986). Fonte: Divulgação 20th Century Fox

“Só pode haver um” meu amigo. Aqui um exemplo do mais puro suco dos anos 80, que abraça uma mitologia altamente estimulante no que a própria inventa de circundar; um visual exagerado em cores e neons; relações objetivamente estapafúrdias entre os personagens; atuações no limite da caricatura; pancadaria de espadas; violência e muito carisma. Connor 'Highlander' MacLeod (Christopher Lambert), o guerreiro das highlands escocesas (zona montanhosa do norte da Escócia) do século XVI, é um ser imortal que faz parte de uma estirpe de figuras imortais que só papocam caso a cabeça seja decepada. E dentro de sua questão mítica, a luta é uma obrigatoriedade tácita e tradicional e que siga à risca o seu já citado lema do “Só pode haver um”. Uma esperteza pra criar tensão. A fita oitentista aqui preconiza um entrelaçar de tramas, onde passado e presente se conectam através do tempo diante do tom depressivo de seu protagonista (transições transadas entre os séculos, há de se citar), que entende que sua existência é tal maneira sem escolha que a sua situação é a de eterno aguardo por conflitos a sua porta.

A percepção das eras por um sujeito imortal. A desvantagem da espera de combates é a suplantação da vantagem de nunca morrer. A ideia da mitologia em torno destes personagens imortais é ótima, mesmo que a execução desta na escrita seja por demais simplória. Isto não atrapalha muito por sinal, já que o clima nos seus arredores é muito bem ajambrado. Este aporte visual é de responsabilidade do diretor Russell Mulcahy, de origem como diretor videoclipeiro, o sujeito à época partiu com um aporte imagético interessantemente rebuscado na iluminação e escolha dos planos. Inclusive o cara já tinha um puta filme australiano de eco-horror que essa idiossincrasia explodia. O material era o Razorback - As Garras do Terror (Razorback, 1984), que tem excelente trabalho fotográfico, escolha de planos e montagem que dialoga bem em termos de trama, campo e contracampo. No Highlander a questão do contracampo não é tão vultosa (apesar de um plano invocado num zoológico, onde as sombras mantêm o espaço de perseguição), mas as escolhas dos planos sim, são espertas, sagazes. O uso de lentes grande angulares é graúdo, principalmente para demonstrar domínio dos personagens nos espaços, e tendo cuidado com as distorções em tela. Até no contra plongée são usadas – e em movimentos. Inclusive há uma interação decente no duelo final com usos de sombras e lues azuis num crescente do tom que serviria para a coroação final do Highlander. Cena esta que pode ter sido mais uma fonte de inspiração para Tarantino em Kill Bill – Volume 1 (Kill Bill: Vol. 1, 2003), onde há cena de luta de iluminação similar em certo trecho. Mas aí é tergiversação anti-historiador minha.

Russel parece pressupor que a movimentação de seus personagens precisa de um nível específico de deformação (e domínio). Caso bem visto na figura do vilão Krugan (Clancy Brown – aqui num deliciosamente famigerado overacting), que sempre é mais disforme que os outros, afinal, o monstro principal e – metido a punk – tem de ser exagerado dalguma maneira. A encarnação de Lambert como protagonista tem um misto de aporte correto médio com esquisitice o suficiente para segurar a obra (o sujeito estaria encontrando o tom desse personagem durante o filme, e está mais apático do que deveria). E serve de contraponto gaiato e sagaz a aparição de Sean Connery como Ramirez, um imortal que aparece ali para treinar o Highlander e ensiná-lo – um pouco – sobre sua condição. A velha carta do encontro com o mestre seguido de treinamento. O filme abraça esses chavões que são salvos tanto pelas interpretações (Connery sacou bem o tom jocoso que seu personagem deveria ter, e mete seu carisma em cima dele), quanto pelo inusitado costurado pela trama num vai e vem temporal.

Highlander - O Guerreiro Imortal (Highlander, 1986). Fonte: Divulgação 20th Century Fox
Highlander - O Guerreiro Imortal (Highlander, 1986). Fonte: Divulgação 20th Century Fox

O fascínio grudento desse material é proveniente da manutenção especificamente estilizada (e videoclipeira em alguns pontos) das escolhas de cores, luzes e planos. Some isto ao vai e vem histórico da conurbação entre Idade Média /Moderna na Escócia (mais precisamente 1536) para os anos 80 dos EUA. Um filme que cria um sistema de crenças lendárias próprio, com um visual querendo se especificar e abarrotado das influencias oitentistas e alguns embates de espadas. E sem que muito disto seja bem especificado. É um liquidificador cultural que diverte exatamente por seu propósito em assumir como um épico farofa. O charme do brega. Do esquisito. Inclusive o caráter de coisa épica é respaldado pela passagem dos séculos, uma mitologia interna sacralizada, onde as informações superficiais acabam por dar um tom de mistério até funcional à trama. As brigas de espada propriamente ditas, de fato, possuem uma dinâmica meio sambarilove, com mais empolgação dos atores do que qualidade técnica dos enfrentamentos, algo que a montagem deixa mais óbvia a questão por não ser picotada demais. É um material no completo falho. Seja em sua estória contada de forma rasa e abrupta onde fora os artifícios de transição de tempo, o tom colossal (tentativa) apostado fica meio perdido ali. Num limbo. A espera de uma grandiosidade prometida. Porém é aí que reside o magnetismo cafona desse material. A exemplo das promessas estapafúrdias da The Cannon Group, Inc. (esqueci de citar que a empresa do Menahem Golan e do Yoram Globus foi uma das distribuidoras no Reino Unido a soltarem esta peça de museu? Por um tempo a Cannon fora dona da Thorn EMI Screen Entertainment, braço da EMI que distribuía filmes, e a Cannon a comprou, e meses depois vendeu este mesmo braço. No meio dessa esculhambação empresarial estava o Highlander) que culminavam em filmes abusivamente desequilibrados e intrigantes exatamente por conta disso. Assumiam-se honestamente como o eram e preconizaram espetáculos de diversão canalha.

Pra completar temos ainda a boa trilha sonora composta pelo Michael Kamen, e – principalmente – as populares músicas do Queen compostas para o filme: "A Kind of Magic" (Roger Taylor), "One Year of Love" (John Deacon), “Princes of the Universe” (Freddy Mercury), "Who Wants to Live Forever" (Brian May), entre outras compostas para o longa [além da participação doutras músicas anteriores do grupo como “Hammer to Fall” (Brian May)]. Estas canções condicionam o filme a um tom épico de relevância maior do que a própria que o filme propõe, porque o entendimento mitológico delas encaixa bem no drama do personagem principal que é preso a sua condição e que possui uma trajetória já traçada por uma lenda que nem ele mesmo entende seu propósito. E é sobre esta colocação que versa "Who Wants to Live Forever", que inclusive é usada de início num momento de alegria de Macleod com sua mulher, mas que é um prenúncio do tempo a passar que a música já assim anuncia. A tragédia que seu estado impõe ao romance por contemplar a morte de todos que o cercam. A eternidade acaba por ter seus entraves, afinal.

Singe do Queen Who Wants to Live Forever (Brian May, 1986). Foto Divulgação EMI. Singe do Queen "Who Wants to Live Forever" (Brian May, 1986). Foto: Divulgação EMI.

"Who Wants to Live Forever" (Brian May, 1986)

Who Wants To Live Forever  Quem Quer Viver Para Sempre

There's no time for us  Não há tempo para nós
There's no place for us  Não há lugar para nós
What is this thing that builds our dreams  Que coisa é essa que constrói nossos sonhos
Yet slips away from us  E, ainda assim, vai para longe de nós? 

Who wants to live forever?  Quem quer viver para sempre?
Who wants to live forever?  Quem quer viver para sempre? 

There's no chance for us  Não há chance para nós
It's all decided for us  Está tudo decidido para nós
This world has only one sweet moment  Esse mundo tem apenas um doce momento
Set aside for us  Reservado para nós

 Who wants to live forever?  Quem quer viver para sempre?
Who wants to live forever?  Quem quer viver para sempre? 

Who dares to love forever  Quem ousa amar para sempre
Oh, when love must die?  Quando o amor deve morrer?

But touch my tears with your lips  Mas toque minhas lágrimas com seus lábios
Touch my world with your fingertips  Toque meu mundo com as pontas dos seus dedos
And we can have forever  E poderemos ter para sempre
And we can love forever  E poderemos amar para sempre
Forever is our today  Para sempre é nosso hoje 

Who wants to live forever?  Quem quer viver para sempre?
Who wants to live forever?  Quem quer viver para sempre?
Forever is our today  Para sempre é nosso hoje 

Who wants to live forever?  Quem quer viver para sempre?
Who wants to live forever?  Quem quer viver para sempre?
Forever is our today  Para sempre é nosso hoje

 

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