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Críticas

Cineplayers

Comédia de costumes com ambientação contemporânea que fala à geração dos trintões que não souberam crescer.

7,0

De problemas geracionais o cinema entende e sabe como ninguém acolher e dar vazão aos seus tipos e inquietações. De uns tempos para cá, é comum esbarrarmos com personagens beirando à casa dos trinta anos, mas assolados por inquietações ainda tipicamente juvenis. Em Por Uma Vida Melhor, Sam Mendes deixou de lado a denúncia da falência do sonho americano para mostrar a história de um casal que diante de seu maior desafio – ter um bebê – precisa parar de improvisar a vida para construir algo mais maduro; já em  Uma Vida Sem Regras o queridinho Robert Pattinson interpreta um confuso exemplar do jovem ocidental de 25 anos cuja vida é tão vazia e arrastada que parece ter contaminado o próprio ritmo do filme.

O cinema brasileiro não costuma apresentar respostas rápidas a questões contemporâneas, mas a situação parece estar mudando. Desde Cão Sem Dono, de Beto Brant, até o mais recente Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho, não apenas a temática, mas também a linguagem, tem buscado inspirações e sensibilidades atuais para tratar temas e desenhar personagens que hoje poderiam dividir o banco do ônibus conosco.

É nessa perspectiva que se inscreve o primeiro filme dirigido pelo roteirista Paulo Halm, que já no título atenta para a liquidez das relações, sentenciando que Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos, apenas o tempo suficiente para caber num longa-metragem.

Caio Blat e Maria Ribeiro interpretam um casal jovem que segue tentando estruturar a vida enquanto dividem um apartamento num bairro boêmio e pouco luxuoso. Zeca é o narrador e talvez - quem sabe? - escritor da própria história. Um escritor cujo grande romance empacou na página 50, que vive da mesada do pai, de uma herança da mãe, e da paciência da esposa. Com tempo de sobra para perambular pelo centro do Rio de Janeiro (e aqui engato um parágrafo subjetivo para contar o quanto foi prazeiroso reconhecer aqueles lugares) e inventar histórias, ele cria a pior – ou melhor – das fantasias: Julia está tendo um caso. E com uma mulher! Daí para frente não é segredo que Zeca vai se envolver com a bonita Carol (interpretada pela argentina Luz Cipriota), complicando bastante a história.

Apesar de alguns aspectos da trama serem reconhecíveis à distância - como a formação do triângulo amoroso - o sabor de comédia de costumes é seu grande trunfo. Os diálogos são bastante críveis e pontuam bons momentos do filme, principalmente na relação entre Zeca e seu pai, interpretado com  mérito por Daniel Dantas. O modelo apresentado para a relação de Zeca e Júlia, os lugares que eles frequentam, as figuras que os rodeiam e o próprio perfil do personagem de Caio Blat certificam a questão geracional que a trama aborda.

Outro ponto de destaque é a direção de arte, que ficou a cargo de Renata Ribeiro, que para os que  não a conhecem, costuma assinar os filmes de Cláudio Assis (Amarelo Manga e Baixio das Bestas). No caso de Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos, o grande acerto de Renata foram as composições dos três apartamentos que aparecem na trama (o do casal, o de Carol, e o do pai de Zeca), garantindo credibilidade à ambientação de cada personagem.

Filme de ritmo fluido e fácil identificação, tem como grande trunfo a aura atual de seus conflitos e o frescor da linguagem coloquial dos diálogos, que acompanhados pelas boas escolhas da direção de arte, compõem, senão um filme inovador, pelo menos uma história bem contada.

Comentários (1)

Adriano Augusto dos Santos | terça-feira, 30 de Agosto de 2011 - 08:41

Excelente crítica,os dialogos são mesmo muito naturais,e esse filme é ótimo.

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