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Críticas

Cineplayers

Paixões Latentes.

6,5
O tema intrépido presente nesse Homesick pode afastar boa parte do público. Nesse sentido, levanto uma característica particularmente interessante do filme: não efetivar sua polêmica no sentido de transgredir o tabu do incesto. O relacionamento entre uma mulher e seu meio-irmão é tratado com bastante sutileza, esboçando muito mais a solidão ou desamparo dessa personagem do que seu interesse sexual por um ente desconhecido. Deste modo, torna-se um drama comum e o romance vira alguma espécie de fuga. A crítica a essa relação irá se realçar em outra vertente dentro da história.

Concentro-me especialmente em Charlotte (Ine Marie Wilmann), professora de dança que leva a vida com agitação entre o trabalho, amigos e namorado. Entendemos seu cotidiano e através de diálogos pontuais descobrimos a existência de um irmão desconhecido, Henrik, filho de sua mãe. Para conhecê-lo, bastam poucas cenas, o que implica numa pressa comprometedora do roteiro. A cena é agressiva: há um ressentimento entre ambos. As respostas para tudo surgirão dentro do desenrolar da história.

Homesick funciona como um drama familiar, pois se atém a um episódio drástico: a enfermidade do pai de Charlotte. É o ponto o qual a história explana possibilidades do que foi o passado de ambos, justificando o convívio aparentemente disperso entre Charlotte e seu namorado. Com a repentina aparição de Henrik, inicia-se uma espécie de jornada de resoluções pessoais, de questões improváveis sobre um caso outrora ignorado. Henrik, um estranho para Charlotte, imagina que a vida levada por ela deveria ter sido sua, justificando ter sido abandonado pela mãe quando criança. 

A partir de encontros marcados como tentativa de reconciliação, o relacionamento da dupla alcança outras camadas cujas interpretações ficam por conta do espectador. Certa cena em especial é belamente desenvolvida, quando os irmãos discutem e brigam tal como dois adolescentes antes de se queixarem aos pais. O cunho efusivo dessa relação não é sobre o sexo, mas paixões e descobrimentos. O desejo explode em cena, alinhado a uma consideração tênue a respeito de concepções familiares: o brinde e o discurso de Charlotte demonstra o quão ela fora acolhida por estranhos e o quanto isso lhe importou. Seu namorado é irmão daquela a qual ela considera a irmã que nunca teve. 

A cineasta Anne Sewitsky não se preocupa em questionar o incesto, permite que a história se delongue sem posicionamentos ou julgamentos. Ela filma uma descoberta pessoal. Os dois atores vivendo os irmãos são competentes, especialmente Ine Marie Wilmann, ótima ao equilibrar sensatez e infantilidade, divertindo-se em meio a crianças com um sorriso afável e inocente. Em outra cena, durante a apresentação de dança que ensaiava, sua personagem vê seus alunos correrem para os braços dos pais enquanto fica sozinha, como se tal ação lhe fosse distante. Isso não quer dizer que o filme se entregue a um dramalhão pueril e convencional. Também não deixa de ser um filme de pura melancolia, com muito mais função numa mesa de debate do que dentro da sala escura. 

Visto durante a 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Comentários (3)

Landerson DSP | terça-feira, 03 de Novembro de 2015 - 16:52

Caraca, Marcelo. Fica um tempo sem publicar críticas, mas quando volta, vem logo quatro de uma vez. Muito maneiro.

Marcelo Leme | quinta-feira, 05 de Novembro de 2015 - 12:46

Olá Landerson
Tem mais algumas para sair. Esse ano contribui pouco com o site.

Muito obrigado por nos acompanhar.

Landerson DSP | segunda-feira, 09 de Novembro de 2015 - 12:45

Quem deve agradecer sou(somos) eu(nós). A equipe faz por merecer a dedicação.

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