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Críticas

Cineplayers

O primeiro longa-metragem de Jorge Furtado, aparentemente um romance adolescente clichê, é muito mais do que isso.

8,0

Que todos conhecem os curtas-metragens de Jorge Furtado já se sabe, o realizador do lendário Ilha das Flores se consagrou já em seu primeiro curta, o também muito bom O Dia em que Dorival Encarou o Guarda. Além destes, também mereceu destaque com Barbosa e O Sanduíche, e após este último, conseguiu fôlego para filmar seu primeiro longa-metragem, Houve uma Vez Dois Verões.

Por se situar fora do principal eixo brasileiro (Rio-São Paulo), Jorge precisou dar alguns destaques em suas produções. No caso dos curtas, de forma genial utilizou os recursos de flashbacks, colagens e outras peripécias que lhe são cabíveis na 7ª arte. Porém em sua primeira película, optou por uma narrativa mais básica e tradicional com grande destaque para o roteiro mirabolante, cíclico e genial.
 
O filme se passa em uma praia (a maior e pior do mundo como é dita no filme), de começo parece mais uma estória infantil, um romance praiano adolescente com objetivo único de sexo e muita curtição. Nosso personagem principal é Chico (André Arteche), um vestibulando dócil e ingênuo que tem muito a aprender com a vida. Na praia, mais precisamente em um fliperama, conhece a garota que mudará sua vida Roza (Ana Maria Mainieri), uma jovem madura e sonhadora, que tem como planos uma viagem a Austrália. Muito gananciosa, ganha a vida dando truques em garotos virgens e com isso acumula um bom dinheiro que alimenta seu sonho de viagem e cuida de seu irmão mais novo. Além destes ainda temos o filho do diretor, Juca (Pedro Furtado) um rapaz engraçado e tolo, que dá o tom sarcástico do filme.

O verão vai caminhando calmo e manso, monótono de certo modo para Juca e seu amigo, até que um dia Chico conhece Roza e como se não fosse clichê, se apaixona à primeira vista. O romance juvenil se move rapidamente e já na primeira noite dos protagonistas ocorre a transa. Após essa noite que não sairá da cabeça de nosso amigo começam os transtornos, sua parceira some e Chico vê seu final de férias sendo jogado ao lixo atrás dessa garota. Somente dias depois, quando todos retornam a Porto Alegre é que Juca tem notícias de Roza, ele tem planos férteis para o futuro do casal, porém ela pensa de outro modo, pois está grávida. De maneira simplificada, a estória parece boba e já contada, é nesse ponto que o diretor põe seu dedo e transforma a fita em algo totalmente diferente e imprevisível.

O filme parece se mover como uma roda, às vezes sim, às vezes não; é e tempos depois não é; voltas e mais voltas em pouco mais de uma hora. Um tipo de comédia jamais vista antes no cinema brasileiro que, ao final, nos satisfaz de alegria e contagia os casais. Assim como o primeiro curta O Dia em que Dorival Encarou o Guarda, o primeiro longa de Jorge Furtado também merece amplo destaque, pela dramaticidade dos personagens. O trio jovem se sai muito bem em suas atuações, com uma dose certa e consistente de humor e diálogos bem elaborados. Consegue ao final do filme concretizar o seu objetivo principal, divertir o espectador. 

Como já dito, o que mais agrada no filme é seu roteiro ágil e inteligente. Não se trata de um besteirol praiano americano como American Pie, onde os personagens são verdadeiras mulas atrás de sexo. Houve Uma Vez Dois Verões se parece muito mais com um filme mexicano, E Sua Mãe Também. Felizmente o filme brasileiro é muito mais engraçado e inteligente, original de certo ponto, pois não se vê muitas fitas direcionadas ao público adolescente por aqui.

Não é o melhor trabalho de Jorge Furtado, mas é muito bom por seu pioneirismo, com toda uma regionalização, tanto nos diálogos, sotaques, gírias quanto na sua trilha sonora composta de roqueiros da região sul (Wander Wildner, Ultramen e Sombrero Luminoso). Se você procura uma boa comédia, pode ter certeza que este filme será de seu agrado.

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