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Críticas

Cineplayers

Apesar de ter cenas divertidas, este novo Hulk é mais do mesmo ao não se preocupar em criar algo diferenciado.

5,0

Em 2003, pouco tempo após receber diversos elogios e prêmios por seu visionário trabalho em “O Tigre e o Dragão”, Ang Lee surgiu como responsável pela direção de um projeto no mínimo curioso: adaptar para a atualidade a história do gigante esmeralda, o Hulk. Com a decepção massiva de fãs do personagem e de uma minoria de cinéfilos defendendo a aventura existencialista de Lee, o verdão parecia fadado ao esquecimento. Eis então que a Marvel em sua nova fase como produtora o faz renascer, ao trazer Louis Letterier para o novo projeto, esperançosos com as mãos hábeis do diretor para filmes de ação (notoriamente descerebrados).

E então acontece a escalação do protagonista, que não poderia ser mais surpreendente (assim como aconteceu recentemente em “O Homem de Ferro”): Edward Norton é chamado para viver o cientista Bruce Banner, papel que foi de Eric Bana em 2003. A surpresa dá-se ao fato da comercialidade do projeto em questão, com o ingresso de um ator-problema para diversos diretores, por sempre se envolver no desenvolvimento criativo dos filmes que participa. Com “O Incrível Hulk” não foi diferente, já que a última versão do roteiro do filme foi reescrita por Norton, tendo o aval do diretor e de Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, após alguns entraves (Norton e o diretor defendiam uma montagem maior e mais centrada no drama de Banner, enquanto Feige defendia um produto de ação de 90 minutos).

Analisando-se o resultado final de “O Incrível Hulk”, tem-se nos cinemas uma história que não cria muitas novidades ao universo do protagonista, e que funciona como um produto saudosista para fãs que clamavam por uma roupagem digna das HQs para o anti-herói. A direção e montagem do filme são rápidas e privilegiam os diversos cortes das cenas de ação, tornando o filme um gibi em película.

Na nova produção é evidente a intenção do roteiro de guiar o filme diretamente para a ação, ao aplicar nos créditos iniciais de forma resumida os fatores que levaram Banner a transformar-se quando exposto a uma forte emoção. A seqüência inicial que se passa no Rio de Janeiro é bem elaborada e plausível, e mostra a comoção e impacto que filmes como “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” causaram no exterior, já que um blockbuster como “O Incrível Hulk” estaria se aproveitando de tal feito ao aplicar em seu roteiro uma grande introdução tendo como locação uma favela carioca.

O que funciona extremamente bem em “O Incrível Hulk” e tem grande destaque é sua produção sonora, que impacta assim como a presença na tela do gigante raivoso. São explosões, tiros e urros que se mesclam com perfeição ao que se é visto, tudo em perfeita sincronia. Junto com o trabalho sonoro pode-se destacar também a interpretação do elenco que, em geral, desenvolve boas interpretações, sendo verdadeiros perante a fantasia à que se propõe o roteiro do filme. Norton, exemplificando a afirmação anterior, equilibra seu protagonista habilmente frente à sua condição super-humana. 

Outro ponto interessante que pede uma análise é a relação de Betty Ross com o Banner transformado, e a forma que ela é abordada nesse novo projeto. O roteiro faz menções diretas à “King Kong” ao construir um ciclo narrativo (que tem grande importância no filme) que mostra o nervoso gigante se tornar frágil e influenciado com a presença da moça. A cena que acontece em uma caverna, em particular, relembra bastante a montagem recente de Peter Jackson para a história do gorila gigante.

O filme conta ainda com inúmeros atrativos para agradar os fãs da mitologia criada ao longo dos tempos para Hulk. Passagens, frases e personagens vão aparecendo durante toda a projeção, e as referências vão desde a aparição do icônico Lou Ferrigno como um segurança - ele também dubla o personagem de Norton, quando transformado em Hulk -, até a antológica frase “Hulk esmaga”. Ainda existe a pretensiosa ponta de Tony Stark, que mais uma vez cria um gancho e mostra o interesse da Marvel em lançar futuramente o projeto do filme “Os Vingadores”, que nada mais seria que uma aventura com os vários personagens da editora já adaptados cinematograficamente.

Se formos comparar a estréia da produtora Marvel com sua segunda experiência, “Homem de Ferro” merece maiores elogios por ser mais bem resolvido quanto à sua direção e personagens. Também não se pode deixar de ter em “O Incrível Hulk” uma repetição do que foi visto recentemente nos cinemas, ao ser empregada nesse filme uma nova versão da mesma história contata por Ang Lee (os vilões são outros, mas a essência da história permanece a mesma). Por fim, “O Incrível Hulk” é um mais do mesmo que não incomoda, acomodando-se a uma imensidão de exemplos do contemporâneo cinema mainstream, em que a possibilidade de uma grande bilheteria é a principal preocupação, antes de qualquer passo frente à elaboração de um novo projeto.

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