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Interestelar

(Interstellar, 2014)
7,8
Média
731 votos
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Sua nota

Críticas

Usuários

Além das estrelas.

6,0

Apesar da recente estreia, o novo filme do diretor Christopher Nolan já vem sendo apontado como o mais ambicioso e diferente de sua carreira. Interestelar pode até ser o seu trabalho mais ambicioso, mas está longe de apresentar grandes diferenças com relação a seus demais filmes, principalmente no que diz respeito à forma como ele procura estruturá-lo. Na verdade, chega ao ponto de se equivaler como um irmão próximo de A Origem, só que dessa vez partindo para o campo científico e deixando para trás a fantasia do terreno onírico.

O crucial ponto de diferença entre Interestelar e A Origem é justamente essa questão do peso do conteúdo pretendido pelo roteiro. Se no filme de 2010 a ação se desenrola no mundo dos sonhos através de uma fantasiosa teoria que permite o diretor fazer o que bem entender sem se perder em explicações muito racionais (embora ele recorra sempre a elas), nesse novo trabalho a responsabilidade é maior em todos os sentidos, visto o roteiro estar baseado nos estudos do cientista Kip Thorne. Ou seja, por mais absurdo que possa parecer, Interestelar se baseia em teorias reais e, portanto, se estrutura em algo que poderia realmente acontecer. Com isso o diretor coloca a cara a tapa para os olheiros de plantão que vão revirar seu filme do avesso procurando por furos e equívocos.

Interestelar segue uma moda alternativa dos blockbusters atuais em unir o cinema em sua proposta mais ambiciosa, comercial e visualmente espetacular com o seu lado mais minimalista e reflexivo. Parte do ponto simplório de um drama familiar para uma incrível jornada intergaláctica, e com isso consegue unir o cinema comercial a um drama que se oferece muito meditativo, quando na verdade é apenas o básico conflito de gerações. Entre esses dois extremos há um abismo de distância, que nem sempre é compreendida pela lente de Nolan e que por vezes está ali apenas para sugerir a ideia de grandiosidade não apenas visual, mas também filosófica. Em resumo, uma ambição metafísica, também compartilhada por filmes como A Árvore da Vida e Contato.

Por outro lado, é uma história que serve de suporte para o que o diretor faça aquilo que mais ama: expandir as estruturas espaço-temporais de seus filmes. Nolan gosta de mexer com o tempo fílmico de modo a influenciar a experiência do espectador em tempo real, oferecendo uma proposta quase metalingüística ao expor essa função do cinema em também conseguir esculpir o tempo de acordo com seu objetivo. Para isso ele recorre a vários recursos já utilizados em filmes como Amnésia, ao inverter a montagem e contar a história de trás pra frente; A Origem, ao criar várias camadas de ações paralelas acontecendo simultaneamente, porém em diferentes tempos; e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, no qual prolonga o clímax da trama por quase uma hora. No fim, acerta e erra também em quase todos os pontos que acertou e errou anteriormente.

O maior triunfo é também o maior problema de Interestelar. Se em uma mão oferece uma trama interessante envolvendo viagens para novas galáxias, a possível extinção da raça humana, a possibilidade de vida em outro planeta e a manipulação de conceitos abstratos como tempo e gravidade, na outra mão afoga muitas dessas ideias em excessivas teorizações matemáticas, mecanizando a emoção rogada pelo roteiro. Afinal, sua teoria-base é demasiada complicada e abstrata de se explicar ao espectador (há uma cena, por exemplo, em que um personagem literalmente desenha uma explicação sobre o que está acontecendo), porém Nolan vira refém dela para desenvolver sua história, o que acaba sufocando a intenção de fundamentar tudo na grandiosidade cósmica de sentimentos humanos como o amor. A ponte entre esses extremos é frágil, mas não ao ponto de se romper, por isso o saldo é positivo, principalmente no que se refere ao seu visual encantador e ao seu ritmo cuidadosamente cadenciado. Claro que fica a literais anos-luz de distância de obras grandiosas do naipe de 2001: Uma Odisséia no Espaço ou Solaris, que primam por uma abordagem muito mais universal e abrangente, mas a pretensão de Interestelar é chegar o mais próximo possível delas. 

Independente dos pontos que deixam a desejar, Interestelar se mostra um passo à frente na carreira de Christopher Nolan e reafirma sua posição como um dos diretores mais grandiloquentes do cinema americano atual. Com certeza voltará a ser acusado de embusteiro, pragmático e superficial, mas acima de tudo isso, é bom saber que ainda há diretores como ele que não temem em pecar por excessos, ainda mais com o cinema americano comercial cada vez mais acovardado e limitado a mais do mesmo. Resta torcer para que os anos dêem a experiência necessária para que Nolan um dia abra a mão desse costume de racionalizar e teorizar demais e entregue um filme de fato grandioso, como só conseguiu fazer até agora com Batman - O Cavaleiro das Trevas.

Comentários (106)

Caio Henrique | segunda-feira, 17 de Novembro de 2014 - 13:04

(...)[Possível Spoiler]O momento de maior beleza é quando nosso protagonista se lança no espaço morto, à deriva, calando-se enquanto, junto a nós, contempla o momento[The end of the spoiler]. Infelizmente, esses momentos são raros. Julgo ser o filme mais humano do Nolan que, junto com o trabalho excepcional do Mcconaughey chega a emocionar de fato vários momentos(principalmente os familiares). Ouso dizer ainda que, no que tange as atuações, este rapaz carrega o filme nas costas. Vale(e muito) pelo vislumbre técnico que, desde 2001, não vejo outro filme retratar com tamanha beleza e mistério este universo que nos rodeia.

MARCO ANTONIO ZANLORENSI | quinta-feira, 20 de Novembro de 2014 - 10:00

Não é justo citar Kubrick, o cara não era desse planeta, claro que é uma brincadeira, temos que citar Kubrick, mas Nolan é Nolan e não há nada de errado nisso. O filme é bom, trata de questões complicadíssimas com relação ao Universo, sim quem conhece física e astrologia vai dizer que não é complicado, teorias são uma coisa retratar isso na grande tela é bem diferente, ou alguém aqui já trilhou os caminhos do nosso querido personagem Cooper? No mais temos belas sequencias, algumas que emocionam outras que nem tanto.

Daniel Oliveira | terça-feira, 25 de Novembro de 2014 - 11:33

O melhor filme do Nolan desde O Cavaleiro das Trevas.

Gravei um podcast sobre o filme, se quiserem conferir, segue o link ;)
https://soundcloud.com/cinefiloemserie/the-cast-10-interestelar

Vinicius de Moraes | sábado, 06 de Dezembro de 2014 - 22:33

Eu achei um bom filme... mas decepcionante. Promete coisas demais,e entrega tudo de uma vez só de uma maneira apressada. Muito melhor que vários filmes que saem todos os anos,mas, ainda assim,decepcionante por não ser a obra-prima que se esperava(pessoalmente,nunca acreditei em obra-prima,mas esperava algo mais). Gostei do filme,é bom,mas é muito menos do que se esperava. Nolan é bom,melhor que muitos,mas não é gênio(óbvio). Só resta esperar que ele aprenda algo com esse filme e entregue,quem sabe,algo mais próximo de uma obra-prima no futuro.

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