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Mad Max: Estrada da Fúria

(Mad Max: Fury Road, 2015)
8,3
Média
730 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

O alquimista Miller entrega a apoteose dos sentidos

9,5

Poucos cineastas são bissextos como George Miller. Tendo estreado no cinema em 79 com o primeiro filme da franquia que agora lança esse quarto segmento, Miller dirigiu somente outros 10 filmes e podemos dizer que se deu bem em tudo. Na comédia (As Bruxas de Eastwick), no drama (O Óleo de Lorenzo), na fábula (Babe 2), na animação (os dois Happy Feet), Miller acertou seus poucos alvos mirando em gêneros diferentes mas sendo fiel a um cinema que descortina universos e apresenta um olhar rigoroso sobre esse mesmo universo, explorando com exatidão o exotismo a que se propõe.

Esse anunciado 'reboot' de sua franquia vem sendo anunciado há muito tempo, entre projeto e lançamento, finalmente explodindo na tela a partir de hoje. E o primeiro traço que fica claro em menos de 5 minutos de filme é a mão firme de seu criador sobre cada elemento singular daquele universo. Maquiagem, direção de arte, fotografia, edição, cores, som, tudo parece e é capitaneado por um homem que tem controle absoluto de tudo, um maestro atento sobre cada milímetro de sua obra.

Alguns pontos extremamente positivos sobre a obra:
1) não há qualquer didatismo: somos apresentados a um universo que já é conhecido por todos os personagens. O que os cineastas/roteiristas incorrem nesse momento? Colocar um elemento exterior para que a explicação dada a ele funcione também ao espectador, recurso esse que costuma ser feliz quase nunca. Miller não se preocupou de forma alguma com isso; tirando uma rápida narração inicial, muito mais atmosférica e alucinógena que explicativa, a obra se mostra por completo, apenas e simplesmente. E nós que corramos atrás dela, o que mostra respeito pela inteligência do público e total confiança no que o projeto pode alcançar.

2) o não-deslumbramento pelo deslumbre: como já dito no início, acima de tudo 'Mad Max' é um filme lindíssimo de todo, com cada elemento sendo absolutamente necessário para a beleza do todo. Mas ao contrário do que qualquer outro cineasta costuma fazer, Miller quer acima de tudo contar sua potente história e não correr atrás de planos grandiosos e/ou descrição fílmica. Logo, o ato de assistir se faz tão essencial quanto o de rever, já que claramente a profusão de elementos não será captado na totalidade apenas em uma visita.

3) blockbusters podem ir além: tudo que foi dito acima reitera o que costumo dizer à exaustão sobre a máquina hollywoodiana. Se é oferecido ao público produtos como a trilogia Bourne, A Origem e esse novo passei pelo universo de Max, porque haveria eu de aceitar e gostar da pobreza absoluta que é Transformers, por exemplo? Blockbusters não precisam subjugar ninguém, nenhum gênero ou ramo cinematográfico precisa.

A envergadura do elenco corresponde com o máximo em qualidade física e a temperatura adequada de emoção que cabe no projeto, mas um peão se sobressai no resumo da ópera. Cabe a Nicholas Hoult as inflexões humanas necessárias para capturar a retina do público para além da sessão, da primeira a última cena em uma entrega e um acerto bem raros de conseguir numa produção desse porte gigantesco; o riso e as lágrimas são dele.

Miller compreende aquele universo não é de hoje, deitando e rolando sobre cada aspecto sem fetichizar ou arregaçar suas intenções reais, deixando as metáforas e as homenagens aos primórdios do cinema (que vão da valentia de John Ford e Sergio Leone a beleza embrutecida dos melhores Kurosawas) nas mãos do público, mais uma vez confiando no poder de cada indivíduo em absorver as referências, que chega a beber visualmente inclusive nos aborígenes de sua Australia natal. E no meio do carnaval pop-rock estilizado de carruagens esvoaçantes, nesse faroeste moderno (ainda que repleto de dedos clássicos) de caravanas insandecidas, ao ritmo da guitarra flamejante e da percussão furiosa que trás a mais pura hipnose imagética que chega pra gente agora, a certeza final de que um Diretor por trás de qualquer história faz toda a diferença. E transforma, num lampejo do olhar, toneladas de pó em ouro.

Comentários (57)

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 20 de Junho de 2015 - 18:49

Caro Davi: Todo o filme é feito pra ganhar dinheiro. Afinal, é um segmento, como qualquer outro, composto por profissionais que precisam dar retorno aos seus contratantes. O que não impede que o filme possua seus laços artísticos.

Robson Oliveira | sábado, 02 de Fevereiro de 2019 - 17:59

"Sabe aquele sentimento de "PQP que foda"? Bem, senti isso durante o filme inteiro."

Somos dois meu caro! QUE FILMEEE...

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