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Críticas

Cineplayers

Seqüência surpreende pelo abuso de clichês e tentativas frustradas de fazer rir.

4,0

Quando lançado em 2005, Madagascar não tinha muitos diferenciais perante as animações digitais que constantemente chegavam e ainda chegam aos cinemas, mas foi um enorme sucesso de público, obtendo quase US$ 500 milhões em arrecadação mundial. Como em todos os grandes estúdios norte-americanos a palavra lucro caminha lado a lado com a palavra seqüência, em exatamente três anos temos uma nova aventura protagonizada pelos simpáticos Alex, Melman, Gloria e Marty. 

Repetindo todas as técnicas oportunistas do primeiro filme, Madagascar 2 parte de uma premissa extremamente simplista e nada inventiva: os quatro amigos animais planejam a tal fuga presente no título original para voltarem à suas vidas normais no zoológico do Central Park, em Nova York, com a ajuda do já conhecido quarteto de pingüins. Quando caem no coração da África, em um acidente de percurso, os amigos descobrem suas origens ao encontrarem em grande quantidade vários animais de suas espécies.

Roteirizado por Etan Cohen, que não deve ser confundido com um dos irmãos Cohen (o oscarizado tem o nome grafado com ‘h’: Ethan), um dos responsáveis por Trovão Tropical, a nova aventura da DreamWorks apela para uma série de clichês e não se preocupa em renová-los. Cohen já erra ao inserir em sua história uma série de sub-tramas que não são resolvidas, como a dos turistas perdidos na savana africana. Outra tentativa frustrada de fazer graça acontece no retorno da vovó ‘ninja’ (aquela do primeiro filme, que deu umas bolsadas em Alex no metrô), que fica como a presença mais desnecessária e menos divertida da animação.

No roteiro de Madagascar 2 ainda se encontram inúmeros outros exemplos da falta de criatividade de seu escritor, e o excesso de novos personagens parece se justificar apenas para dar metragem ao filme, e não necessariamente o tornar mais interessante. Cada um dos personagens principais ganha uma pequena história que apresenta seu relacionamento com os seus semelhantes na savana africana, e a partir daí surgem os momentos menos inspirados do filme, como na seqüência do sacrifício no vulcão, que traria água novamente para os animais. Temos ainda todo o desenrolar do reencontro de Alex com sua família, que lembra muito certa animação da Disney, ainda mais quando coloca como vilão um leão oportunista de juba espessa e negra. 

A direção da animação ficou a cargo novamente de Eric Darnell e Tom McGrath, responsáveis também pelo roteiro do primeiro filme, mas que aqui se limitaram ao trabalho de dirigir o aborrecido texto de Etan Cohen. Darnell e McGrath mostram competência na elaboração das paisagens africanas, mas poucas evoluções podem ser notadas quanto ao desenvolvimento dos animais, que continuam com seus traços cartunescos e desproporcionais. O design dos novos personagens também não é muito inovador, mas é interessante notar pequenos detalhes adicionados aos animais, como os cabelos desgrenhados na juba dos leões mais velhos ou os pelos no peito (!) de Moto-Moto, hipopótamo que se apaixona por Gloria.  

A última chance de ouvir Bernie Mac no cinema esteve restrita a poucas pessoas que puderam conferir alguma cópia legendada do filme no Brasil, já que o ator faleceu este ano. Na versão original ainda existem as divertidas caracterizações de David Schwimmer, que dubla a girafa Melman, e de Chris Rock, o Marty, além de contar com Sasha Baron Cohen como o rei Julien e também com o cantor Will.I.am, em uma participação como Moto-Moto. As versões de Heloísa Perissé e do restante do elenco de dubladores nacionais são chatas, pouco inspiradas e tornam o filme ainda menos interessante. O grande destaque vai para Guilherme Briggs, dublador profissional com anos e muitos trabalhos de experiência, que dá todo o charme e comicidade ao Rei Julien, um dos poucos personagens que continuam divertidos na continuação de Madagascar. Briggs foi o responsável pela voz de Buzz, em Toy Story 1 e 2, e faz valer a cópia dublada da maioria das animações a que empresta sua voz.

Incluindo lições de moral baratas em seu cerne, como “O amor transcende todas as diferenças!” e tendo passagens recorrentes dos piores exemplos de comédias românticas, em “É loucura pensar que cruzei metade do mundo para descobrir que o cara perfeito vivia ao meu lado!”, a animação vale por uma ou outra piada, pelos pingüins e pelo Rei Julien, mas merece descrédito por tirar todo o carisma e diferencial dos personagens principais. Diferente de outras animações mais recentes, que direcionam seu humor para o público adulto sem deixá-lo ininteligível às crianças, Madagascar prioriza o entretenimento dos pequenos, com piadas que se tornam apenas engraçadinhas para os mais velhos.

Em tempos onde a arrecadação de um filme subestima os espectadores e se sobrepõe à sua originalidade, Madagascar 2 é apenas outro pequeno exemplar dentre diversas produções, igualmente pretensioso e vazio.

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