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Críticas

Cineplayers

Um típico filme de Matthew McConaughey.

5,0

Uma das maiores armadilhas ao se escrever sobre um filme como Minhas Adoráveis Ex-Namoradas é cometer exatamente o mesmo erro da película: cair no óbvio. Porém, quando analisamos um filme clichê, de história e moral já batidas mudando apenas os rostos que estampam o projeto, não há muito para onde fugir. Ainda que tenha conseguido um certo destaque no Brasil, principalmente por estrear sem concorrência como a única opção de romance em um fim de semana de Dia dos Namorados, é o típico filme que só emocionará os extremamente sensíveis e dará linha na discussão dos casais com problemas de relacionamento (para o bem ou para o mal).

Connor Mead (Matthew McConaughey) é um famoso fotógrafo de celebridades que adora a liberdade que tem: endinheirado, vive na farra e com as mais variadas e lindas mulheres. Quando seu irmão o convida para seu casamento, Connor vai até lá tentar fazê-lo desistir da idéia, mas acaba encontrando o fantasma de seu falecido tio (Michael Douglas), um famoso mulherengo, ídolo para ele. Só que ao invés de trazer mais festas, bebidas e sexo, faz com que Connor repense suas atitudes e veja como seria sua vida sem Penny (Jennifer Garner), talvez a única mulher que realmente amou, através de três fantasmas que representam o passado, o presente e o futuro.

Há alguns anos, McConaughey vem fazendo apenas papéis seguros, desperdiçando o talento que tem. Muitas pessoas não gostam de suas interpretações, mas o carisma é inegável e o nome perfeito para qualquer diretor que queira embarcar em uma comédia romântica, já que é um galã com bastante visibilidade (ainda mais para nós brasileiros, que passamos a tietá-lo por seu relacionamento com a brasileira Camila Alves). É raro quando o ator se arrisca em algo mais ousado, como o ótimo Trovão Tropical, pois para cada projeto deste, há pelo menos cinco Como Perder um Homem em 10 Dias.

Já Jennifer Garner (que, sinceramente, de bonita e sedutora não tem nada) está no piloto automático, mostrando uma passividade que incomoda mesmo em suas cenas mais delicadas. O tom do filme nas interpretações é mesmo exagerado, destoando da arte e fotografia realistas que o diretor optou para seu longa. Uma curiosidade bacana sobre o elenco (muito bem escolhido, por sinal, pois os jovens realmente se parecem com os adultos) é que a adolescente que interpreta Jenna no passado é Christina B. Allen, que fez o mesmo papel de Garner jovem em outro filme, De Repente 30.

Michael Douglas talvez seja o único destaque realmente positivo de todo o elenco. Encarnando o garanhão sacana Wayne (Tio Wayne, uma lenda!), ele faz quase que uma paródia de si mesmo na vida real – afinal, todos sabemos que Douglas sempre foi mulherengo e, antes de sossegar com Catherine Zeta-Jones, era declarado viciado em sexo e vivia com as mais belas mulheres circulando por Hollywood. O fato é que ele incorpora um personagem maravilhosamente inspirado, fazendo rir e se divertindo com sua contradição interna: em alguns momentos, faz Connor pensar como ele deve ser sério na vida, porém, quando deve agir para si, mostra algo completamente diferente, trazendo uma ambigüidade interessante e engraçadíssima para o longa.

O roteiro é estereotipado, com mensagem batida (“Veja como sua vida é vazia! Mude, ainda há tempo!”) e não dá muitas oportunidades para que McConaughey faça algo realmente interessante. Pelo contrário, quando tem de fazer uma cena mais dramática, falha por exagerar – de tão meloso, os personagens deveriam escorregar por onde ele passou. E apesar de toda essa previsibilidade, o roteiro se vangloria de boas cenas de comédia e por uma opção que o salvou do total batimento: dividindo a vida de Connor em fases, ainda que não seja original (mais uma vez), faz com que o filme não fique cansativo e apresente uma variedade estética e de abordagem interessante.

Quando estamos nos anos 80, há toda aquela vestimenta cafona, cores extravagantes, cabelos cheios e breguice (ponto para a direção de arte e figurinos). No presente, o paralelo entre o que acontece quando ele não está presente com sua realidade é o choque que serve de virada para a trama, até chegar ao futuro, onde passamos (ou deveríamos passar) a nos preocupar com o personagem e já esquecemos o canalha que ele é (foi) com as pessoas, a ponto de terminar com três mulheres apaixonadas por vídeo conferência por puro egoísmo.

Como toda comédia romântica, tem uma trilha sonora bem escolhida, que soa bem aos ouvidos e levará os mais sensíveis às lágrimas fácil por ter um roteiro pensado, desde o início, para a redenção emocionante do personagem no fim. Se encarado de cabeça aberta, pode dar uma boa diversão, mas se visto com um olhar mais crítico, Minhas Adoráveis Ex-Namoradas é um nada. Como tem dias que estamos mais para filmes descompromissados do que para filmes cabeça, ainda mais nesse clima romântico dos apaixonados de Junho, o veredito final acaba sendo a média entre os dois extremos. O famoso “não fede e nem cheira”.

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