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Críticas

Cineplayers

Cômico enquanto trágico.

8,0

Primeiro foi Woody Allen, que levou seu típico humor nova-iorquino para Londres. Seduzido pelos investidores europeus, o rei da comédia “cabeça” filmou por lá, em 2005, o excelente Match Point, um de seus melhores filmes em anos e, curiosamente, também um dos mais distantes do seu estilo idiossincrático.

Com o “caminho” aberto, foi a vez do também veterano Frank Oz (Os Picaretas) fazer da capital britânica o cenário de seu mais recente trabalho, a comédia de humor negro Morte no Funeral. Ao contrário de Allen, Frank Oz é inglês de nascimento. Ainda assim, sua nacionalidade nunca foi determinante para imprimir a marca do “humor britânico” em seus filmes – marca que, aliás, é perceptível no trabalho de diretores como Mike Newell (Quatro Casamentos e um Funeral) e Roger Mitchell (Um Lugar Chamado Notting Hill). Talvez porque o cineasta tenha emigrado para a América muito cedo. Seu primeiro grande sucesso, a comédia A Pequena Loja de Horrores, de 1986, foi rodada nos EUA e já trazia o humor negro como forte característica.

Em Morte no Funeral, prevalecem as gags clássicas do gênero – Oz recorre ao ritmo novelesco para mostrar as várias confusões que se sucedem durante o velório do patriarca de uma típica família de classe média inglesa. Reunidos em torno da “tragédia”, cada parente traz sua parcela de problemas para a cerimônia, o que vai transformá-la num verdadeiro pandemônio.

Em meio à confusão, aparece o anão Peter (Peter Dinklage). Ele vai revelar a Daniel (Matthew Macfadyen), primogênito do falecido, que mantinha um relacionamento amoroso com seu pai. Por isso, exige que os herdeiros se disponham a “compensá-lo” pela ausência de seu nome no inventário do velho – caso sua exigência não seja atendida, mostrará à família fotos mais do que comprometedoras dos dois.

A partir daí, Frank Oz lança mão de sua “metralhadora” de piadas, que vem sendo “afiada” desde os tempos em que ele trabalhava como co-roteirista e manipulador de marionetes no extinto sitcom The Muppet Show. Nesse ritmo, novas e estapafúrdias gags surgem em seqüência. O modo de vida inglês fica restrito ao sotaque do elenco e ao chá com biscoitos servido no funeral. O filme é moldado no melhor estilo de humor pastelão, com direito a tiradas escatológicas de causar inveja aos irmãos Farrelly (Quem vai ficar com Mary?).

Também não faltam clichês a Morte no Funeral: da figura do velho rabugento ao cunhado que não se dá bem com o genro, os estereótipos se sobrepõem na tela, mas o filme consegue orquestrar todas as situações com um roteiro bem costurado e com uma montagem inteligente. Mérito também de seu ótimo elenco, que empresta um novo verniz a tipos tão surrados.

Os “tipos” de Morte no Funeral

Uma “mãozinha” para situar você dentro do tumultuado mosaico de personagens do filme:

Daniel (Matthew Macfadyen) – Para Daniel, a morte de seu pai representa uma oportunidade para que ele deixe a casa da família e compre, enfim, um apartamento para viver com a esposa – longe de sua mãe. Ao mesmo tempo, as despesas do funeral e uma inesperada chantagem podem atrapalhar seus planos. Enquanto tenta administrar os trâmites da cerimônia, ele precisa lidar com a reprovação dos parentes devido ao fato do discurso de despedida ter ficado sobre sua incumbência, e não de seu irmão Robert.

Robert (Rupert Graves) – Se Daniel é um romancista frustrado, Robert representa exatamente o contrário: é um escritor de sucesso e vive em uma cobertura em Nova York, onde desfruta dos excessos da fama. Depois de voar de primeira classe, ele chega à casa do pai sem dinheiro nem para ajudar nas despesas do funeral – e nem pensa em ceder à extorsão do anão Peter.

Peter (Peter Dinklage) – A presença do baixinho Peter (ele tem apenas 1,20m) incomoda Daniel desde sua chegada à cerimônia. Sempre ao lado do caixão e com um olhar de quem tem algo a dizer, ele revelará aos irmãos que manteve uma duradoura relação amorosa com o falecido. Como prova, guarda várias fotos comprometedoras, e está disposto a divulgá-las caso não receba uma alta quantia em dinheiro. Perplexos, os irmãos buscam negociar com o anão, mas ele acaba mesmo é “detido” pelo coquetel de mescalina e outros alucinógenos preparado por Troy.

Troy (Kris Marshall) – Nem um pouco abalado com a morte do tio, Troy tem como intenção “dar somente uma passadinha” no funeral e depois entregar uma encomenda a um amigo. Mas a entrega, um frasco de pílulas alucinógenas, acaba sendo confundida com calmantes e será ingerida por boa parte dos presentes à cerimônia. O primeiro deles é seu cunhado, Simon.

Simon (Alan Tudyk) – Como se não bastasse ter de enfrentar a repulsa do sogro e anunciar que vai se casar com Martha, Simon tem seu estado, digamos, “alterado” pela ingestão de drogas, e já chega ao funeral completamente fora de si. É ele quem vai protagonizar as cenas mais engraçados e escandalosas do filme.

Martha (Daisy Donovan) – Se já seria um verdadeiro desafio convencer o pai de que Simon é um bom partido, Martha se vê com dois grandes problemas nas mãos: esconder o comportamento estranho do noivo, que parece não discernir a diferença entre um enfeite de jardim e uma galinha, e ainda se esquivar dos assédios de Justin (Ewen Bremner), que sequer é parente ou amigo do falecido, mas decide ajudar Howard (Andy Nyman) no “traslado” do tio Alfie até a cerimônia e assim se reaproximar dela. É que no passado, eles tiveram um breve “affair”.

Tio Alfie (Peter Vaughan) – Tio Alfie é o típico velho ranzinza, reclama o tempo todo e despeja palavrões e pequenos socos em quem estiver em seu caminho – no caso, Howard e Justin, responsáveis por levá-lo até o enterro, já que ele se locomove numa cadeira de rodas. Por ser um dos anciãos da família, a tradição pede que a cerimônia só comece com a sua presença, o que agrava ainda mais a situação dos atrasados Howard e Justin.

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