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Críticas

Cineplayers

Retrato da classe média francesa atual não decola.

6,5

Christophe Honoré está se firmando como um dos mais delicados cineastas franceses. Em toda sua carreira, ele foca seu olhar sobre grupos sociais da sociedade de seu país, como jovens em vários tipos de relacionamentos (Canções de Amor), e alunos e funcionários de um liceu parisiense em A Bela Junie. Mas mesmo nestes já ficava claro o núcleo que interessava de fato ao diretor francês: a família, em todas suas implicações, mas geralmente sendo apresentada como uma célula unida em torno das dificuldades da vida, ainda que cada integrante seguisse para um lado.

Nos outros filmes em especial, a ação gira sempre entre membros da família: Todos Contra Léo e Em Paris na união entre irmãos, Minha Mãe em uma relação incestuosa entre mãe e filho, e finalmente agora com Não, Minha Filha, Você Não Irá Dançar, em que somos apresentados logo de cara a Léna (Chiara Mastroianni) e sua tentativa frustrada de dar conta de sua vida enquanto cuida dos dois filhos pequenos, após abandonar o marido e o emprego.

Ao passar o fim de semana na casa dos pais, vemos a difícil relação que Léna possui com sua família: seus pais Michel e Annie (Fred Ulysse e Marie-Christine Barrault) estão se preparando para uma viagem romântica a Roma enquanto Michel descobre que tem um problema grave de saúde. Annie tenta arrumar a vida de Léna junto de sua outra filha, Fréderique, que mesmo grávida de seu segundo filho não consegue parar de fumar um cigarro atrás do outro enquanto briga com o marido. E ainda tem o outro irmão Gulven (Julien Honoré, irmão de Christophe), mais pé no chão e que vive com os pais. Todos não param de dar conselhos para Léna, que se vê rapidamente sufocada.

Sua impaciência com a família vai a um nível estratosférico quando chega Nigel (Jean-Marc Barr), seu ex-marido, convidado pela sua mãe para cuidar dos filhos no verão enquanto os pais viajam, para que Léna possa voltar a seu emprego, que ela abandonou. Irritada pela interferência, ela ameaça voltar para cidade para alguns minutos depois mudar de idéia.

Inconsistência é uma palavra que define bem a protagonista, nunca se mostrando segura de si e hábil para cuidar apropriadamente de seus filhos. Em alguns momentos parece mais é que Anton (Donatien Suner), o filho mais velho, é que cuida da mãe, se preocupando com o bem-estar dela e da sua irmã mais nova. Em determinado momento da trama ele conta para a mãe uma lenda bretã sobre uma jovem bela e que só se sujeitava a casar com um homem que dançasse por 12 horas seguidas. Por cerca de 15 minutos testemunhamos esta bela encenação de época, uma metáfora de Léna e sua vida, na qual poucos tem disposição ou talento para acompanhar, mesmo um adolescente que se apaixona por ela, interpretado pelo ator-feitiche do diretor, Louis Garrell.

Apesar do pouco desenvolvimento das relações entre Léna e sua família, especialmente seus filhos, conseguimos nos aproximar de suas preocupações e desesperos, já que sua personagem poderia se tornar meramente uma louca sem rumo na vida. Porém falta mais prumo ao filme, uma relação melhor entre as personagens. Somos apenas apresentados a esta família, talvez por ser tão numerosa, mas não saímos da sessão já familiarizados com a prole toda, como nos filmes anteriores do diretor.

Mastroianni, a coadjuvante que roubou a cena em Canções de Amor, segura bem o longa-metragem, mas quem rouba a cena é o pequeno Suner como seu filho, personagem que vai ganhando importância na medida em que o filme progride. Laurent Brunet continua sua parceria com Honoré depois de A Bela Junie com uma bela e evocativa fotografia, dando um clima de tranqüilidade para contrastar com o turbilhão emotivo pelo qual passa Léna nesta espécie de pesadelo da classe média burguesa sem rumo na França atual.

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