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Críticas

Cineplayers

Um filme voltado aos adolescentes que peca na superficialidade.

5,0

 

"Ahhh... a juventude é bela. Pena que tenha que ser vivida pelos jovens.”
Major Philip Kirby, personagem de Ray Milland em A Incrível Suzana, de Billy Wilder.

 

Após o sucesso de Juno, em 2007, era natural que surgissem alguns filhotes pelo caminho, tanto na temática quanto no estilo. Um deles é Uma Noite de Amor e Música, lançado aqui no Brasil diretamente no mercado de vídeo, apesar das criticas animadores que recebeu nos EUA quando lá estreou no final de 2008.

O filme abre sua história nos apresentando Nick (Michael Cera). Ele está em depressão. Acabou de ser abandonado pela namorada Tris (Alexis Dziena). Sem conseguir esquecê-la, passa as tardes deixando extensos recados na caixa postal do celular dela (e depois percebe que os apagou) e gravando CDs com coletâneas das suas das suas canções favoritas para dar de presente no dia da reconciliação. O que Nick não sabe é que Tris nunca deu muita bola para estes mimos. Para as amigas do colégio, ela não nunca fez questão de esconder que sempre achara as capas desses CDs e as músicas lá gravadas meio ridículas. Mais um acaba de chegar às suas mãos – o 12º – e ele vai imediatamente para o lixo. Nora (Kat Dennings), que detesta Tris, já recolheu as onze gravações anteriores do cesto e, às escondidas, faz o mesmo com a última versão. Ela não consegue entender como Tris pode ser tão insensível a ponto de não valorizar o presente do (ex)-namorado e de não gostar das canções gravadas. De tanto Nora falar dos CDs, Caroline (Ari Graynor), sua amiga inseparável, já percebeu que ela está meio que apaixonada por um desconhecido.

Nick é o baixista de uma banda que tem duas particularidades: não tem um nome ainda definido (sem muita convicção, eles se denominam de Os Babacas) nem baterista (em seu lugar, usam um simulador eletrônico). Os outros integrantes são seus três amigos Thom (Aaron Yoo), Dev (Rafi Gavron) e Lethario (Jonathan B. Wright). Todos gays assumidos. Eles o intimam a sair daquele luto porque foram convidados para tocar num bar naquela noite de sexta-feira.

No local, claro, a galera toda se encontra. Nick fica aparvalhado ao ver Tris com o novo namorado. Esta debocha de Nora, pelo fato de ela, aparentemente, estar sozinha. Acuada, ela se aproxima de Nick (sem saber que ele é o autor dos CDs que tanto admira) e pede pra que ele finja ser seu namorado por apenas alguns minutos. Afinal, seu orgulho de mulher estava em jogo. Eles se beijam. A confusão está instaurada. Em seguida, cada um à sua maneira, o grupo vai adentrar numa peregrinação pela noite de Nova York em busca de uma misteriosa banda pop, chamada Where's Fluffy?

Uma Noite de Amor e Música vive um aparente conflito entre o modo pelo qual ele se vende para o público e o que ele é na realidade. Sua intenção é se apresentar como uma espécie de clone de Juno, sucesso do cinema americano independente de 2007. Tudo está lá: as canções pop, os diálogos espirituosos, os personagens descolados, uma narrativa que busca um paralelo com os quadrinhos e, claro, a presença do ator Michael Cera, que praticamente repete o mesmo personagem. Na essência, no entanto, sua história está mais próxima das comédias juvenis que John Hughes dirigiu ao longo dos anos 80 como, por exemplo, Clube dos Cinco, Gatinhas e Gatões e A Garota de Rosa-Shocking.

Diferentemente de Juno, que por trás daquele verniz de comédia romântica, trata de temas complexos, como gravidez na adolescência, a necessidade de amadurecer antes do tempo, a adoção e o desejo pela maternidade, Uma Noite de Amor e Música aborda dramas mais juvenis, ligados ao sentimento de inadequação do adolescente perante os colegas, a busca pela auto-afirmação e a descoberta da própria sexualidade. Não que isso seja um defeito. São problemas, no entanto, relacionados a um tipo de público mais jovem, que parece não ter sido o alvo escolhido pelo filme.

Talvez a principal fragilidade de Uma Noite de Amor e Música seja a sua própria falta de ambição. Seus principais temas são tratados de forma muito superficial e sem muita originalidade. Não há sequer uma conversa de Nick e Tris após o rompimento e o filme desperdiça a única oportunidade em que isso poderia ocorrer. Nora é filha de um famoso produtor musical, dado que não é muito explorado pelo roteiro (há uma referência rápida ao fato de seu namorado estar usando-a para facilitar o acesso da sua banda ao mundo do show business). Não há qualquer conflito entre os três rapazes gays, que mais parecem fadas madrinhas tentando aproximar o romance entre Nick e Norah. Pior ainda é a personagem de Caroline, absolutamente sem função no filme a não ser cumprir o batido papel da amiga mais íntima da protagonista e de fonte potencial das piadas do roteiro (no que ela falha totalmente).

O filme tem seus melhores momentos quando concentra sua atenção na história de Nick e Norah (sem qualquer referência aos personagens de A Ceia dos Acusados, comédia clássica de 1934, em que William Powell e Myrna Loy tinham exatamente os mesmos nomes). Os méritos pertencem aos atores centrais e do roteiro (adaptado do romance de mesmo título, escrito pela dupla Rachel Cohn e David Levithan). De um lado, Michael Cera e Kat Dennings (vista entre nós como a filha da personagem de Catherine Keener, em O Virgem de 40 Anos) mostram química entre si. De outro, o roteiro dá espaço para que o sentimento entre os dois nasça aos poucos. A combinação faz com que o público passe a acreditar, torcer e gostar deles mais até como um casal do que como indivíduos.

É possível dizer que Uma Noite de Amor e Música é mais um integrante dessa espécie de nova fase da comédia americana, formada por uma geração emergente de desconhecidos diretores, atores e roteiristas. Há cinco anos, quem ouvira falar Judd Apatow, Seth Rogen ou Jason Reitman? Hoje eles ditam as regras do humor em Hollywood. Seus filmes transitam entre o vulgar e o sensível. A linguagem é repleta de gírias e palavrões (alguns bem fortes), antenada, para o bem ou para o mal, com o público mais jovem. Independentemente de se gostar ou não, é provável que daqui a alguns anos, comédias como O Virgem de 40 Anos, Superbad - É Hoje, Juno, Ligeiramente Grávidos e, talvez numa escala menor, Uma Noite de Amor e Música, sejam lembradas como um bloco estranhamente coerente, responsável por arejar um gênero empoeirado desde os tempos de Porky's, Loucademia de Polícia e A Vingança dos Nerds.

No fim das contas, Uma Noite de Amor e Música fica num meio termo. Se não cumpre todas as promessas anunciadas pela crítica americana, também não é de todo descartável. Ainda que superficial na abordagem de seus temas, o longa-metragem poderá interessar aos adolescentes que verão representados na tela os dramas e angustias típicos da idade.

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