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Críticas

Cineplayers

Antes de se tornar um dos cineastas mais conhecidos do mundo, Bergman já fazia suas obras-primas.

8,0

Quando se lê sobre o início da carreira do cineasta sueco Ingmar Bergman, tem-se como marco inicial o ano de 1955, quando o diretor venceu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes por Sorrisos de uma Noite de Verão, seu 16.º filme, comédia de fundo teatral que não escondia as origens artísticas do diretor (dramaturgo e encenador). Afinal, nos dois anos seguintes Bergman faria os dois filmes que o consagraria mundialmente: O Sétimo Selo e Morangos Silvestres.

Mas Bergman já havia dirigido pelo menos dois filmes bons: Monika e O Desejo, em 1952, e esse grande Noites de Circo, de 1953, seu verdadeiro début fílmico, não só porque foi a parceria inaugural do diretor com o fotógrafo Sven Nykvist, mas porque todo o seu aparato cênico expressionista (ele começou a filmar em 1945, em plena emergência do expressionismo), os temas reincidentes, os diálogos rascantes, as interpretações fulminantes, aparecem em seu esplendor. Até uma de suas atrizes-fetiche está lá, Harriet Anderssen. É o grande cineasta já em grande forma em um de seus trabalhos mais eletrizantes.

Noites de Circo foi massacrado pela crítica na estréia e permaneceu no limbo por muitos anos. A decana Pauline Kael, na New Yorker, chamava-o de masoquista, não sem razão: ninguém no filme escapa da humilhação, sendo que em pelo menos duas cenas, na terrível abertura, quando um palhaço é obrigado a carregar a esposa nua para casa, pois fora se banhar com as tropas, ou no duelo final, a agonia das personagens é lenta e filmada em minúcias e sem comiseração.

Conta a história do Circo Alberti, trupe circense em bancarrota que chega na cidade natal de seu fundador três anos após ele deixar esposas e filhos para ganhar a estrada. Cansado da vida itinerante, sem dinheiro nem esperança, Alberti tenta a reconciliação com a mulher, que o repele: ela odeia o circo e tudo o que ele representa. Enquanto isso, a amante de Alberti (Harriet Anderssen) tem um caso com o mais presunçoso dos atores do teatro.

Bergman monta um contraponto entre a companhia de teatral, elegante e endinheirada, com a “decadência” que representaria os circenses. Por meio de uma sucessão de ultrajes e ofensas constantes, os atores do palco relacionam-se com os do picadeiro numa posição de altivez e desdém, não só artístico, mas também humano.

Poucos filmes foram tão bem fotografados na história do cinema quanto esse Noites de Circo – mesmo os mais aguerridos detratores, e foram muitos e exagerados, reconhecem o trabalho de Sven Nykvist. Baseado no claro/escuro do expressionista, foco no rosto, deslocamentos bruscos, além de tortuosos pontos de emanação da luz, Nykvist iniciou aqui uma carreira de sucesso que o tornaria um dos maiores na área.

Comentários (3)

Adriano Augusto dos Santos | terça-feira, 13 de Dezembro de 2011 - 09:54

Demetrius sempre escreve bem,mas poucas vezes foi tão lúcido como aqui.

Alexandre Marcello de Figueiredo | sexta-feira, 16 de Novembro de 2012 - 19:09

O retrato cruel de uma companhia circense na bancarrota e sem esperança no futuro. Seus personagens convivem com a traição e humilhação; suas desventuras e seus dramas em meio a um ambiente sujo e podre. Belíssima fotografia.

Vinicius Marins | sexta-feira, 20 de Setembro de 2013 - 12:18

\"dois filmes que o consagrariam...\"

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