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Críticas

Cineplayers

Situações inverossímeis e a falta de química entre os protagonistas fazem desta uma comédia romântica sem o menor atrativo.

4,0

Há algum tempo, li uma entrevista de Jason Segel, roteirista de Ressaca de Amor e ator integrante do grupo que revitalizou a comédia norte-americana sob o comando de Judd Apatow. Segel disse que, antes de escrever o filme, recebeu uma valiosa dica de seu amigo: primeiramente construir o roteiro como se fosse um drama, com personagens interessantes e reais, e somente depois inserir as piadas. Segundo Apatow, uma história somente funciona se os personagens e as relações entre eles convencem – a comédia deve vir em segundo plano. Essa é uma regra que, ao que tudo indica, o desconhecido Bart Freundlich ainda não aprendeu.

Freundlich é o roteirista e diretor de Novidades no Amor, comédia romântica sobre a aproximação entre uma mulher madura e um jovem perdido na vida. Catherine Zeta-Jones interpreta Sandy, uma recém-divorciada que se muda com seus dois filhos pequenos para Nova York. Sempre que precisa, Sandy contrata Aram, um jovem trabalhador da cafeteria abaixo do seu apartamento, para cuidar de seus filhos. Pouco a pouco, os dois vão criando uma afeição e terminam por se apaixonar, tendo que enfrentar as dificuldades que um romance entre pessoas com quinze anos de diferença pode proporcionar.

Situações e pessoas reais, como Judd Apatow ensinou a Jason Segel, não têm lugar em Novidades no Amor. Assim como acontecia em Totalmente Apaixonados, seu trabalho anterior, Bart Freundlich trabalha sobre estereótipos e piadas sem graça, sendo incapaz de tornar críveis os acontecimentos do filme. As atitudes são falsas e as falas são artificiais, impedindo a identificação do espectador com aquilo que vê na tela. Novidades no Amor força e apela para a boa vontade da plateia e, ao final, não passa de uma tentativa vazia e inútil de criar uma comédia romântica capaz de encantar.

O grande problema de Freundlich é realmente tentar demais. Não há qualquer naturalidade na história. Praticamente todas as piadas de Novidades no Amor não possuem a menor graça, principalmente por se tratarem de situações inverossímeis, criadas com o único objetivo de fazer rir a qualquer custo. Convenhamos: não se trata de um besteirol e, portanto, os momentos engraçados devem ser orgânicos à trama, algo que os personagens realmente poderiam fazer na vida real. Não é o que acontece. Cenas como a do encontro de Sandy ou a do pai de Aram falando sobre uma cirurgia anal para as crianças são nada mais que ridículas e apelativas, completamente deslocadas da história.


O mesmo vale para as crianças. Os dois pequenos de Novidades no Amor são os típicos “garotos prodígios” que geram tanta repulsa quando aparecem nas telas. Eles não agem como crianças e, principalmente, não falam como crianças. Toda vez que abrem a boca é para largar alguma tirada supostamente espirituosa ou de baixo nível, soando apenas irritantes. Ou alguém acha que uma garota de oito anos diria: “Pode ser contração post-mortem”?

Este é o grande problema do roteiro de Freundlich. A história é repleta de conveniências, gratuidades e mudanças de atitude dos personagens sem qualquer justificativa, que não deixam a narrativa fluir com naturalidade. E um exemplo disso está no próprio relacionamento entre Sandy e Aram, que deveria ser o núcleo de todo o filme. A aproximação entre os dois é realizada de forma abrupta e Freundlich não dá motivos para o espectador acreditar que realmente existe um sentimento maior naquele romance. Pelo contrário, o laço afetivo entre os dois é apresentado em uma montagem com diversas cenas de Aram cuidando das crianças e passando tempo com Sandy: o resultado é que, quando eles finalmente ficam juntos, a plateia não acredita naquilo e não consegue torcer pelo casal.

Não ajuda, também, o fato de que a química entre Catherine Zeta-Jones e Justin Bartha é nula. Os dois formam o par mais estranho dos últimos tempos no cinema. Não que sejam maus atores: Zeta-Jones já provou ser competente e está correta no papel, ainda que prejudicada pelo roteiro que deixa sua personagem subdesenvolvida; Bartha, por sua vez, demonstra novamente bom timing cômico, conseguindo salvar algumas das piadas com seu jeito tímido, porém não funciona como galã romântico. E, se nem mesmo o casal principal convence, não há muito o que esperar de Novidades no Amor.

Para ser justo, o filme ainda dá uma melhorada nos minutos finais, após um certo acontecimento. Ali, a obra parece encontrar o seu foco e ameaça falar com sinceridade com o espectador. É uma pena que isso aconteça apenas nos últimos minutos. Pelo jeito, Freundlich poderia fazer como Jason Segel e aprender algumas lições de quem realmente sabe o que faz.

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