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Críticas

Cineplayers

Simplicidade que funciona.

9,0

Minha queixa constante com a animação computadorizada da Disney é a falta de sofisticação estética. Discutindo com alguns amigos que adoraram o ótimo Frozen – Uma Aventura Congelante, insisti muito na questão da gratuidade gráfica do filme, um problema nas animações do estúdio desde O Galinho Chicken Little, mas que pela primeira ficou para mim evidente. O azar de Frozen é que, enquanto Bolt e outros têm uma narrativa iluminada — Detona Ralph é um caso interessante, pois o gráfico está ideologicamente atrelado àquele universo, funcionando muito bem —, a história das irmãs Elsa e Anna é bem sombria, além ter sido a melhor história da Disney desde Lilo e Stitch, por isso me incomoda ser tão mal contada cinematograficamente.

Frozen não tem um único belo plano. Na série de artigos publicada no site, coloco essa falta de cinema na conta da animação digital. Até para acusar Frozen de fracasso estético comparei fotogramas da neve do filme com os do inverno de Bambi. O traço deste não era delineado com a precisão científica daquele, mas a cena tinha sombra, galhos torcidos, textura real, ou seja, tinha tom. Mas mesmo assim talvez não seja correto colocar a suposta perda disso na conta da animação digital. Ora, a Pixar, Dreamworks e Laika fizeram maravilhas com o valor de produção que tinham. O quanto o cenário em que Mérida vive não diz sobre a personagem em Valente? O enfrentamento de Norman com a bruxa em ParaNorman guarda muita consciência cinematográfica. E temos planos de Como Treinar Seu Dragão 2 entre os mais belos do ano.

Em Operação Big Hero parece que a Disney finalmente encontrou na animação digital o cinema que dominava tão bem na tradicional. O filme, apesar de muito simples narrativamente, é um grande (e bastante despretensioso) encanto visual. Faz muita diferença o filme animado saber se colocar cinematograficamente: estar a serviço da história, o que significa entender necessidades objetivas ou subjetivas para contá-la e, principalmente, conter luz, cores e o espetáculo gráfico pelo desenvolvimento de um personagem.

Operação Big Hero também funciona porque a sua história, além de bem contada, parte de uma universalidade narrativa extremamente eficaz, porque é facilmente relacionável, unida a uma jornada moral de personagem, também universal. Operação Big Hero não subverte ou pretende subverter na construção de personagens ou na narrativa (como Frozen e Detona Ralph, por exemplo, pretendiam), mas também não precisa disso: seus personagens são bons o bastante fazendo o que é esperado deles.

Assim como o último filme Disney que eu ouso chamar de obra-prima, Lilo & Stitch, Operação Big Hero é uma trama de crescimento que se apoia nas relações fraternais como enfrentamento a nossos instintos selvagens. Acho justo dizer que o fato de cada um dos dois filmes ter uma perspectiva de gênero diferente (o universo de Lilo é um feminino; o de Operação Big Hero é um masculino) tem certo efeito na convencionalidade do segundo. Mas, ao mesmo tempo, Operação é feliz ao sair do núcleo familiar e explorar a amizade e a compreensão das limitações do outro.

É dessa fraternidade que o filme consegue colocar com tanta força e beleza que surge o que eu, na minha empolgação, chamei de o filme de super-herói mais legal desde Os Incríveis. Colocando as coisas dessa forma, é preciso dizer que Operação Big Hero não é nada realmente espetacular, mas o filme acerta tão bem na doçura que, pra mim, terminou sendo profundamente tocante, tive uma relação parecida com Nós Somos as Melhores, outro coming of age do ano.

Na verdade, eu gosto muito de onde o filme permanece, sem ultrapassar e ir além. Gosto de como todos os coadjuvantes são estereótipos assistindo a trajetória do protagonista. Eles bastam dessa forma, e o jovem Hiro (primeiro protagonista não caucasiano da Disney desde a princesa Tiana) sai maior, mais personagem, dessa escolha. Devo também dizer: acho que estava um tanto sensível no dia da sessão, considerando que o muito simples Banquete, curta-metragem que antecede o filme, fez-me começá-lo já às lágrimas.

Comentários (14)

Daniel Mendes | terça-feira, 23 de Dezembro de 2014 - 03:45

Eu acho que Frozen peca um tiquinho na concepção de espaço/atmosfera, mas depois de uns 30 minutos atropelados o filme se torna bem legal. Além de tudo algums opções e soluções me surpreenderam positivamente quando comparadas a de outros filmes da Disney. Eu não amo, admito inclusive que prefiro diversas animações japonesas e da Disney.

Lucas Souza | terça-feira, 23 de Dezembro de 2014 - 09:36

Todo filme da Disney tem que ter um coadjuvante bastante cômico para dar mais apelo, até mesmo para venda de produtos, vide Mushu em "Mulan", Timão e Pumba em "O Rei Leão", Olaf no próprio "Frozen", O Gênio em "Aladdin" e por aí vai...

Matheus Bezerra de Lima | sábado, 27 de Dezembro de 2014 - 13:20

Heitor Romero, vi sua nota e sua opinião e respeitosamente discordo. O filme tem muita identidade, sim. A história de Hiro Hamada é envolvente e Baymax é muito carismático. Os personagens coadjuvantes são razoáveis. O filme me emocionou. Se não é um filme excepcional, está longe de ser ruim. E acho maneiro eles virarem heróis.

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