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Críticas

Cineplayers

Esquisitice convencional.

5,0
Em tese, Operação Overlord tinha tudo para figurar como um certo revival de um certo nicho cinematográfico esquecido: as produções cinquentistas de “ciência estranha” filmadas no auge da Era Atômica, com roteiros amalucado às voltas com experimentos proibidos e forças sobrenaturais. Mas a nova produção de J.J. Abrams acaba refletindo mais uma forma do “cinemão” absorver gênero fundamentalmente marginalizado ao longo das décadas.

A produção, orçada em $38 milhões de dólares conta a história de um grupo de paraquedistas que sobrevive a uma batalha aérea do Dia D e, com um contingente drasticamente reduzido a um pequeno grupo, são encarregados de destruir uma torre de comunicações em uma velha igreja da Normandia. A única ajuda que o Cabo Ford e os soldados Boyce, Tibbet e Chase recebem é da local Chloe, que aceita guiá-los após ter seu irmão sequestrado pelo vilanesco Oficial nazista Wafner.

A reviravolta no filme é introduzida a conta-corrente, após o bondoso soldado Boyce invadir a torre de rádio após separar-se do grupo e conseguir resgatar o colega Rosenfeld e levar consigo uma dose contendo um soro misterioso. Os soldados e a camponesa acabarão descobrindo que, injetado no corpo humano, o soro faz os mortos voltarem à vida como zumbis fanáticos e superpoderosos - e que esse tem sido o destino dos franceses sequestrados pelas tropas alemãs.

Por um lado, o roteiro de Mark L. Smith (O Regresso) e Billy Ray (Jogos Vorazes) sabe carregar na narrativa arquetípica do gênero, como na caracterização estereotípica do vilão Wafner - especialmente após injetar-se com uma superdose do soro e tornar-se um superzumbi monstruoso porém consciente; por outro, é uma narrativa levada à sério demais, sendo um drama de guerra contado pelo ponto de vista do inocente Boyce e como a guerra o obriga a agir; todo o lado absurdo e fantástico da trama demora quase uma hora para ser estabelecido de vez pelo roteiro. Quase uma antítese dos rápidos e efetivos filmes B.

O roteiro com sua incerteza de tom parece afetar também a direção de Julius Avery (Sangue Jovem), igualmente perdido entre o drama sombrio de guerra, o horror macabro e violento e a aventura heróica. O Cabo Ford talvez seja o caso mais emblemático desse problema, por vezes sendo um sujeito pragmático e dado a surtos de violência (chegando a torturar cruelmente Wafner lá pelas tantas) como também ser um herói honrado preocupado com o destino da humanidade (como no final). Qual a visão do filme, afinal? Difícil dizer.

A coisa toda complicar quando mortos-vivos aparecem na base nazista evidencia talvez o ponto mais fraco do filme: a falta de uma autoconsciência e de um senso paródico a ser assumido de vez. As antigas produções evidenciaram nossos medos destacando temas não de maneira didática ou com aspirações romanescas, mas fazendo com que isso fosse amparado pela ação/horror constante. Hoje em dia, com tal modalidade sendo chamada de “trash” por grande parte do público a tendência é muitas vezes boas ideias decantadas em um cadeirão de fórmulas prontas para serem repetidas.

Com um medo extremo de demonstrar heróis brutais, de introduzir o diferencial da obra desde antes, perdendo grande parte do tempo nas indas e vindas na casa de Chloe ao invés de ir logo ao ponto de interesse - o mistério nos subterrâneos da Igreja - Operação Overlord é o que se poderia esperar de um filme de zumbis produzido por J. J. Abrams e não por Roger Corman, o que evidencia que Abrams pode até tratar com alguma complexidade pop alguns universos - Lost, Star Trek, Star Wars e o universo Cloverfield

Mas não é o caso nesse tipo de produção mais rasteira (apesar do orçamento considerável), onde poucas e boas cenas de ação e horror são contadas nos dedos - ainda que com momentos brutais e tensos, a impressão é o filme “negou fogo”. Qualquer coisa menos frenético, carismático ou amalucado, Operação Overlord ultrapassou em quase nada o valor investido ($41 milhões nas bilheterias), e vendo o filme não é difícil entender a razão.

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