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Críticas

Cineplayers

Uma excelente biografia para aqueles que duvidavam do reinado de Pelé no futebol. Já a vida pessoal...

8,0

Confesso que estava com medo do que poderia vir. Os filmes que Pelé estrelou antes não são grande coisa e um bom documentário sobre a vida do astro parecia apenas um sonho. Quando vi a horrorosa abertura então, parecia que meus medos iriam se concretizarem. Para minha alegria, estava errado. Quando a primeira imagem de arquivo apareceu na tela, fiquei todo arrepiado. Ver um Maracanã lotado, na despedida de Pelé da Seleção, gritando "FICA!" em coro enquanto o ídolo dava uma volta olímpica pelo campo foi uma das imagens mais marcantes que já vi no futebol.

Começar o filme assim foi ótimo. Isso porque nossa opinião sobre o craque já vem a tona. Quem gosta dele, embarca e já entra no clima do que está por vir. Quem não gosta, vai seriamente revisar essa opinião quando a imagem retornar na tela, após todo o invejável arquivo já tiver sido exibido. Acredite, é impossível ficar indiferente a tudo o que Pelé fez por nosso futebol. Como diria meu grande amigo Sérgio Santos, “o filme é um delicioso massacre em cima de quem sempre tentou menosprezar o Pelé. É um documentário sobre um mito que acaba com um monte de mitos”. Disse tudo.

Essa frase é a alma do filme, isso porque todos os argumentos que sempre usaram para tentar diminuir Pelé são contra-argumentados no documentário de maneira perfeita. Aquela besteirada de que zagueiro era tudo imbecil e não fazia nada para parar Pelé é mostrada de maneira bem clara na tela, com os zagueiros caçando o craque em campo e desferindo pontapés de um lado para o outro, torturando os tornozelos e joelhos de Pelé.

Mas o filme não tem “raiva” por causa dessas respostas, elas estão lá naturalmente, são conseqüências de tudo o que Pelé fazia em campo. Prepare-se para assistir Pelé fazendo aquilo que ele mais sabia fazer: gols. De tudo e de todas as maneiras. De cabeça, de peixinho, de bicicleta e, principalmente, aquele tipo de gol que era sua especialidade, tirando os zagueiros da jogada e chutando com precisão ao gol. Não importavam quantos haviam na frente, ele sempre conseguia.

Mesmo com um arquivo de mais de 400 gols do craque, um teve de ser reconstituído em computação gráfica. Aquele que o próprio craque e diversas outras testemunhas consideram o gol mais bonito feito por ele. Um gol em que ele saiu “chapelando” quatro adversários, inclusive o goleiro, antes de marcar. Foi contra o Juventus, e infelizmente nenhuma câmera, de foto ou filme, registrou tal golaço.

Além dos gols, dos dribles extremamente humilhantes e objetivos que Pelé conseguia fazer mesmo sem a tecnologia das chuteiras e bolas que temos hoje em dia, há uma emoção natural de acompanhar as conquistas brasileiras das Copas do Mundo. Isso porque o filme segue uma linha cronológica natural, partindo da chegada de Pelé ao Santos, com apenas 16 anos, até o encerramento de sua carreira nos Estados Unidos e o que ele está fazendo hoje em dia. Não contive as lágrimas ao ver a felicidade daquele jovem de apenas 17 anos que ajudou e foi uma peça fundamental em nossa primeira conquista do título mundial, em 58 na Suécia, com a vitória de 5 a 2 sobre os donos da casa.

Além das Copas do Mundo, vemos também Pelé destruindo os principais times brasileiros, como o meu pobre Botafogo, Vasco, Flamengo, Corinthians, Palmeiras e São Paulo. Só que o melhor ainda estava por vir: as curiosidades e histórias de botequim famosas que o filme provam ser reais. Você já deve ter ouvido falar que Pelé já jogou até no gol. Pois bem, o filme prova que essa lenda é verdadeira, e não contente com isso, mostra as imagens e explica o porquê ele teve de jogar debaixo das traves.

Outras histórias também ganham vida no filme, como o juiz colombiano que o expulsou por implicância, mas foi expulso pelos milhares de torcedores que começaram a fazer um  reboliço no estádio porque haviam pago para ver Pelé jogar; o dia em que o time do Santos agradou a torcida carioca fazendo um jogo onde cada um de seus jogadores entrou com uma camisa diferente de um time do Rio em agradecimento ao apoio da torcida carioca nos jogos internacionais realizados pelo Santos no Maracanã; ou ainda o zagueiro que foi vaiado pela torcida do próprio time que lotava o estádio, quando ele salvou em cima da linha aquele que seria o milésimo gol de Pelé. Essas e muitas outras histórias, mostradas em vídeo, enriqueceram muito o trabalho do diretor Aníbal Massaini.

Mas nem tudo são flores. Ao invés de se concentrar apenas na vida de Pelé como jogador, o filme cita alguns pequenos desvios na vida pessoal de Pelé. Já que foram citados, esses deviam ser aprofundados (afinal, estamos falando sobre um documentário). Para piorar tudo, além dessa superficialidade, alguns deles são tratados como se fossem “normais” na vida de uma pessoa. Tudo bem, todo mundo comete erros na vida, mas transformar esses erros em algo positivo, isso não é bacana. É o principal defeito do filme. A emoção devia ser deixada crua, vinda de modo natural, como a já citada conquista da Copa do Mundo ou quando Pelé chorou no reencontro com os velhos amigos de Santos (quase que conseguiram estragar essa parte também, ao inserir uma artificial representação de alguns familiares).

Para ser sincero, Pelé Eterno é um filme para quem ama o futebol. No mais, pessoas podem ficar decepcionadas com o modo de como a vida do craque foi tratada ou por não ser nada além disso; a perfeita resposta do porquê Pelé é o Rei do Futebol e o maior atleta de todos os tempos. Já disse, mas é bom repetir. Se você ama o futebol, sente na cadeira e relaxe para ver tudo o que Pelé fez enquanto jogava. Dessa forma o filme vai ser uma experiência inesquecível.

“Se Pelé não nascesse humano, nasceria uma bola de futebol

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