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Críticas

Cineplayers

Um filme que não inova em nada, não traz nada de bom e, o pior, não assusta.

2,5

Começa o filme. A câmera sai de trás de um arbusto e focaliza, em plano médio, um casarão em estilo vitoriano. O céu relampeja, claro sinal de tempestade. Corte. Câmera subjetiva sobe a escada do casarão em um ambiente sem iluminação.

Não, não é o novo filme do Scooby-Doo! É apenas a amostra do que tinha por vir. A falta de criatividade que impera nos atuais filmes de terror nem é sinal de desgaste; é de esgotamento. Difícil imaginar alguém hoje em dia que ainda se assuste com o gênero. Talvez sobreviva como obra de clima elegante, sofisticado, como fez tão bem Roman Polanski há muitos anos atrás. Recentemente, Os Outros, de Alejandro Amenábar, e A Espinha do Diabo, de Guillermo Del Toro, deram mostras de como o gênero pode se manter. Outras vertentes, como as refilmagens de filmes japoneses, já carecem de idéias e da paciência do espectador. E filmes de assassinos seriais, então, é perda de tempo, até porque Jason, Freddy, Chucky e companhia estão mais preocupados em se auto-parodiar do que assustar propriamente.

Por isso mesmo é estranha essa idéia de fazer um filme sobre o bicho-papão (o título original). Ele mesmo, que tenta assustar criancinhas atrás de armários e embaixo de camas. Mas não creio que ninguém, acima dos oito anos de idade, vá se assustar com essa premissa tão esdrúxula. E é o que acaba acontecendo: o filme passa inteirinho sem despertar um susto qualquer – algo relevante quando a proposta é exatamente essa.

Claro que isso teria que acontecer, já que quase nada na produção funciona, começando pelos atores. O protagonista, Barry Watson, não tem chance alguma de mostrar algum talento e, fisicamente, não é lá dos mais atraentes a ponto de se tornar algum galãzinho. Ele, que tem no currículo apenas filmes menores, como Curvas Perigosas e Tentação Fatal, tende a ser esquecido rapidamente. Watson também não teve a sorte de ser bem coajuvado, já que Emily Deschanel é inexpressiva (a irmã menos famosa da já pouco conhecida Zooey Deschanel, de O Guia do Mochileiro das Galáxias). A única que se sobressai mesmo é a garotinha Skye McCole Bartusiak, mas aí vêm umas perguntas: por que será que todo filme de terror atual tem que ter crianças no elenco, e ainda como peças-chave? Seria a síndrome de O Sexto Sentido?

A direção de Stephen T. Kay, cujo trabalho mais conhecido é a refilmagem O Implacável, com Sylvester Stallone, é uma das piores dos últimos tempos. Incrivelmente, ele consegue repetir absolutamente todos os ângulos de câmera, tomadas, enquadramentos e qualquer outro vício que tenha sido utilizado nos últimos anos em filmes de terror. E, claro, não deixou os efeitos visuais de fora, que todo mundo sabe que não assustam nada. Sem falar na montagem desenfreada nos minutos finais e no excesso de efeitos sonoros irritantes, além de truques idiotas de fotografia.

Talvez o resultado fosse mais ameno se o tratamento dado ao roteiro fosse um pouco menos, digamos, exagerado. A resolução final, com a risível materialização digital do monstrengo, poderia muito bem ser deixada de lado para que houvesse espaço para a ambigüidade, para o jogo psicológico que ficamos aguardando mas que jamais acontece. O roteiro do semi-novato Erik Kripke ainda falha ao ser totalmente superficial, raso, não dando base para a ação e explicando ainda menos os fatos, deixando um lastro de buracos.

O roteiro segue a história do jovem Tim (Watson, interpretado quando criança por Aaron Murphy), que ainda criança testemunha a morte do pai pelo bicho-papão e, já adulto, ainda traumatizado, volta a encarar o monstro que insiste em ficar no seu pé. Como padrão, o bicho-papão vai matando todos à volta do rapaz que, com a ajuda da misteriosa garota Franny (que tem os dois únicos – e improváveis – diálogos inteligentes da trama), travará um duelo final que esclarecerá as coisas. Nem é preciso puxar muito a lembrança e perceber que o recente No Cair da Noite tinha uma trama parecidíssima, só que com outro personagem do imaginário infantil, a fada dos dentes. Como disse anteriormente, haja falta de imaginação!

Filme de bicho-papão, pra mim, só mesmo Monstros S.A.

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