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Críticas

Cineplayers

Esvaziamento de propósito.

1,0
Steve Waugh. De onde conhecemos esse nome? Bom, de Need for Speed e Ato de Coragem, o próprio cartaz indica isso. Mas não leve isso em consideração porque O Poder e o Impossível fica bem longe da comparação com essas duas produções numa análise crítica, ambas mais relevantes e cinematograficamente superiores. Na verdade, é difícil entender os motivos que levaram esse filme a ser produzido. Uma produção barata, inspirado em eventos reais (que abre com uma cartela inexplicável, 'isto é uma história real'), que em outras circunstâncias estaria tentando passos mais largos, como visibilidade na temporada de prêmios ou uma gorda fatia de bilheteria, mas que não chegará nem a um lugar nem outro. Não porque a qualidade seja uma prioridade para qualquer um dos lados (vide os prêmios para algo do nível de Clube de Compras Dallas ou a quantidade de dinheiro que arrecadou Esquadrão Suicida), mas porque é necessário um mínimo de garbo narrativo e/ou estético, um mínimo de competência narrativa, um mínimo de empenho nos valores de produção para chegar a um desses lugares, e o longa de Waugh não tem nada disso. E talvez não tenha muito mais.

Na tela, vemos a trajetória de um pobre menino de classe média que entra em rota de colisão com a vida a partir da separação dos seus pais. Outrora uma criança prodígio do hóquei no gelo treinada pelo próprio pai, o jovem Eric Lemarque é abandonado assim que o divórcio ocorre. E tal separação encontra eco na exploração que seu pai exercia sobre ele (o homem tem um quê de J. K. Simmons em Whiplash), desaprovada pela mãe, que demonstra seu amor pelo filho na tela ao rodar seu filho em câmera lenta diversas vezes ao longo da projeção. Nesse ponto, a criança entra em colapso e se transforma num jovem auto destrutivo, em busca da adrenalina de esportes radicais e de drogas ainda mais radicais. Um dia numa espécie de retiro em uma montanha nevada, ele desce pra esquiar e escolhe de propósito uma via perigosa, e finalmente parece que encontra o que está procurando: perdido na neve, passará dias esquecido a espera da morte. Não sem antes sofrer um bocado. 

Esteticamente, o filme acerta num ponto até importante. Cobrindo os passeios do protagonista pelo gelo, as imagens conseguidas por Waugh são eficientes e trazem alguma emoção a um filme estéril e repetitivo. Essas cenas, que infelizmente não duram muito e não são necessariamente longas, realizam para o filme um árduo trabalho de tentar criar empatia no espectador de alguma forma - e até consegue, mas como já dito, isso é breve e acaba sendo em vão, já que é o único ponto de conexão real com o público. De resto, sobra uma história batida e narrada da maneira mais burocrática possível do tal 'triunfo do espírito humano', aquelas narrativas que mostram as adversidades sem fim pelas quais certo indivíduo passa e graças ao imponderável e por elementos que geralmente não são de controle do humano, conseguem perseverar e vencer tais obstáculos. Mas essa história já foi vista e contada milhares de vezes, muitas vezes por ano, às vezes bem sucedidas (127 Horas), às vezes não (Evereste), e mesmo o nosso recente Gabriel e a Montanha tem uma pegada assim. No entanto, às vezes resulta num misto de desperdício de tempo com aborrecimento.

Na frente da câmera, o protagonista Josh Hartnett mostra que não tem mais nada a perder na carreira ao aceitar um projeto tão capenga. Outrora um super astro, talvez a ausência de talento mais evidente o levou a ver sua possível carreira ruir, e o que sobrou é aceitar uma biografia que acaba não interessando a absolutamente ninguém. Entendam, a história do rapaz é intensa e definitivamente aterradora, mas a produção não consegue levar nada a cabo nenhuma das situações que deveria através das imagens e roteiro, nem pena, nem emoção, nem torcida, nem senso de justiça divina, nada. Só indiferença. Ao lado de Hartnett, a figura da vencedora do Oscar Mira Sorvino é ainda mais triste e desoladora do que a imagem do retratado na tela. O que levou essa grande atriz de Poderosa Afrodite a esse ponto de indigência? Porque uma atriz especial acabou assim, esquecida e necessitada de papéis ruins em filmes idem?

Apesar disso tudo, saber que todos aqueles lances foram vividos por alguém nos fazem pensar nos motivos para tal obra. Ainda que consiga atingir um certo público pouco exigente e que foque exclusivamente na mensagem. Produzido também por Waugh com base num livro escrito pelo próprio Lamarque, seria muito fácil identificar essa história como sendo de fácil identificação emocional, mas sendo contada se maneira tão burocrática e com recursos ínfimos, sobra a vontade de tocar alguém através exclusivamente do fato acontecido. Graças a apatia do todo, nada muito alem é conseguido, afinal o roteiro só auxilia para a distância dos eventos reais, com seus personagens avulsos e suas ações mecanizadas. Um filme que aparenta ter sido feito por robôs, atrás e na frente das câmeras.

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