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Poderoso Chefão, O

(Godfather, The, 1972)
9,2
Média
2146 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um realista e chocante retrato de como a máfia agia nos anos 40. Uma obra-prima de valor incalculável.

10,0

Sempre afirmo que, por trás de quase todo grande filme, há uma história quase tão complexa por trás da que está sendo contada na tela. Com O Poderoso Chefão, um dos maiores clássicos já criados em Hollywood, não poderia ser diferente. Quem assumiu a frente do projeto foi o jovem diretor Francis Ford Coppola, que com apenas 33 anos e pouquíssimos filmes no currículo, mostrou ter competência o suficiente para levar a produção da Paramount não só a frente, mas também escrever o seu nome na história do cinema como um dos mais completos filmes já feitos.

Baseado na obra de Mario Puzzo (roteiro do próprio, alterado por Coppola), conheça a história dos Corleone, uma família de mafiosos italianos dona de boa parte dos negócios ilegais em Nova York. Don Vito Corleone (Marlon Brando) é o padrinho, o homem que tem o controle, o chefe da família, a quem todos temem pedir um favor, com medo de ficar em dívida. Ele está preparando Sonny (James Caan) para ser o seu sucessor, deixando-o sempre por dentro de tudo, ao contrário de seu outro filho Michael (Al Pacino), um herói da Segunda Guerra Mundial, que vive normalmente como um civil.

Toda a 'normalidade' do dia-a-dia da família é colocada em xeque quando surge o interesse por parte das outras famílias em introduzir o tráfico de drogas na cidade. Don Corleone posiciona-se totalmente contra, não oferecendo o auxílio político e policial que as outras famílias acharam que poderiam contar. Essa posição gera uma série de atentados contra sua família, com o objetivo de fazer com que mudem de opinião e passem a ajudá-los com seus interesses. É nesse caótico cenário de guerra entre as famílias que, por ironia do destino, Michael vê a necessidade de proteger o seu pai e manter todos os negócios construídos ao longo dos anos.

Apesar da sinopse sugerir que a história seja simples e fácil de entender, as ações que os personagens tomam deixa tudo muito mais complexo. Fica impossível para uma pessoa entender tudo à primeira vista, porque alguns personagens tomam atitudes baseadas no código da máfia (não confundir nada pessoal com negócios). Tendo isso em mente, fica um pouquinho de nada mais fácil entender porque alguém traiu alguém, porque um matou o outro, porque fulano seqüestrou beltrano. Um dos grandes méritos do filme é que, para que ele seja inteiramente compreendido, você tem de pensar como os personagens. Fora desse eixo, as ações serão interpretadas de formas diferentes de suas intenções.

Para transpor esse complexo mundo do livro para as telas, Coppola teve que suar a camisa. O resultado foi quase uma dezena de cenas memoráveis: a lenta abertura do filme, a festa de casamento, a seqüência da mansão do produtor de cinema (sim, a cabeça de cavalo é real), o tiroteio na barraca de frutas, a cena do restaurante, o tiroteio no pedágio, e o final, contando a parte das laranjeiras e do batizado. Tudo é assustadoramente real, em uma ambientação impressionante do mundo da máfia dos anos 40. O cuidado com o roteiro foi tanto que Puzzo e Coppola evitaram ao máximo utilizar essa palavra, máfia, durante o filme. Isso para dar um ar orgânico e não simplificar à uma palavra toda a complexidade onde os personagens vivem.

Al Pacino teve a difícil missão de encarnar Michael Corleone. Apesar de Marlon Brando ser a grande estrela do primeiro longa, sempre acreditei que o protagonista do filme é Michael Corleone. O filme é sobre ele. A trilogia se abre e se fecha com ele. E pensar que, em uma interpretação tão memorável, Al Pacino era a última das opções imagináveis pelos produtores do longa, devido a incerteza se ele poderia convencer ou não no papel, porém sempre foi a única escolha de Coppola. Muitos dólares foram gastos com testes para o papel, que teve nomes de peso como Jack Nicholson, que já havia rodado o importante Sem Destino, e Dustin Hoffman, depois de explodir em A Primeira Noite de um Homem.

Claro que Marlon Brando teve um peso de ouro na obra. Sua carreira estava um pouco fria, mas ganhou novo gás no papel que lhe rendeu mais uma estatueta de melhor ator (a anterior havia sido conquistada através de Sindicato de Ladrões). Brando não foi recebê-la no dia do Oscar. Ele estava protestando contra o mal trato com os índios norte-americanos, e enviou a atriz Maria Cruz vestida como uma para fazer um inflamado discurso de protesto contra a indústria cinematográfica.

Mas o fato é que Marlon Brando teve uma das melhores performances de todos os tempos. O modo delicado como ele expõe o personagem é algo simplesmente fantástico, uma aula de interpretação. O pequeno sorriso que ele dá quando vê Michael no hospital, ou então sua reação sutil, profundamente dolorosa, ao receber a notícia da morte de um familiar muito próximo são apenas dois exemplos da maestria com que Brando conduziu o seu personagem, tornando a estatueta uma das mais justas de toda a história do Oscar. Ironias a parte, quase que Brando fica de fora da produção, por não querer estimular algo sujo como a máfia. Ainda bem que mudou de idéia.

Nos demais nomes do elenco, destaque para uma Diane Keaton perdida em meio a um mundo de sujeira, dinheiro e sangue. Ela interpreta Kay Adams, a mulher de Michael, que acaba entrando neste mundo que tanto odeia por amar o marido, em uma relação que vai ser profundamente discutida ao longo de toda a trilogia. Outro nome de peso é James Caan, encarnando um raivoso Sonny Corleone, em um dos melhores personagens da trilogia. Robert Duvall, que trabalharia novamente com Coppola em Apocalypse Now!, teve o difícil encargo de ser Tom Hagen, o advogado da família - em outras palavras, quem limpa o que escorre e quem tem que dar o tom de equilíbrio pensante em suas ações.

Uma produção dessa magnitude, que não tinha a crença total de sucesso por parte do estúdio, só podia terminar em um orçamento estourado. Os produtores queriam até mesmo transpor todo o filme para os anos 70, tentando baratear a obra. Ter Marlon Brando no elenco parecia até piada de mal gosto aos seus ouvidos. Porém, Coppola não só conseguiu tudo o que desejava, como também teve o dedo em milhares de mínimos detalhes que engrandeceram ainda mais sua obra. Desde pequenos detalhes de época originais na arte até todo o elenco que desejava, tudo estava a seu gosto.

A técnica de O Poderoso Chefão é algo a frente de seu tempo. Além de ter alguns planos minuciosamente pensados, longos e cheios de significados, as luzes contribuem para um clima sempre quente e gostoso de se ver - mesmo com cenários bastante urbanos e sem serem necessariamente bonitos - com exceção da Sicília, linda. O diretor de fotografia Gordon Willis foi extremamente competente ao enquadrar um ambiente violento, que poderia soar gratuito, da forma delicada como Coppola queria. Nino Rota, fiel contribuidor de Fellini, ficou responsável pelo tema musical. Sinceramente, não há como pensar em O Poderoso Chefão e não lembrar dele. É forte, possui uma boa versatilidade, é tocado de diversas maneiras... Ninguém menos que um bom italiano poderia captar a essência do roteiro e transformá-la em notas dessa forma.

O resultado de tanto esforço veio pouco tempo depois. Três prêmios na Academia (roteiro adaptado, ator e filme), uma fortuna nas bilheterias e a garantia de que Coppola conduziria as continuações que estavam por vir, dessa vez com um orçamento bem mais folgado e total liberdade criativa. Poucas vezes na história da premiação um filme que recebeu o principal prêmio da noite levou menos estatuetas que um concorrente. Nesse caso, quem representa o outro vencedor da noite é Cabaret, que anotou na conta nada mais nada menos do que oito estatuetas - cinco a mais que O Poderoso Chefão.

Violento e realista, é um perfeito retrato de como a máfia podia ser boa e cruel ao mesmo tempo. Cheio de significado, mortes e personagens marcantes, é absolutamente impossível desgrudar os olhos da tela por um segundo sequer. Eles podem não confundir nada pessoal com negócios, mas quem saiu ganhando nessa confusão toda fomos nós, o público. E não precisamos matar ninguém para isso.

Comentários (8)

Jordham Barbosa | segunda-feira, 19 de Setembro de 2016 - 15:32

O filme mais importante de todos os tempos

César Barzine | quarta-feira, 11 de Janeiro de 2017 - 11:49

sério que o poderoso chefão ganhou só 3 Oscars? Nem os de melhor trilha sonora, figurino, fotografia e direção?

César Barzine | quarta-feira, 11 de Janeiro de 2017 - 11:50

não e um dos 5 filme mais importante dá história e actuação de Al Pacino está melhor do que a do Brando

Felipe Ishac | quarta-feira, 11 de Janeiro de 2017 - 15:37

actuação de Al Pacino está melhor do que a do Brando
actuação de Al Pacino está melhor do que a do Brando
actuação de Al Pacino está melhor do que a do Brando
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