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Críticas

Cineplayers

Um belíssimo drama existencial, que cita O Apanhador no Campo de Centeio.

8,0

Há muito o que falar sobre Por Um Sentido na Vida. É um filme praticamente completo e extremamente bem feito. Jennifer Aniston é mais conhecida por fazer parte do seriado Friends, mas desde que entrou para o cinema, vem trilhando um caminho bastante feliz. Com este filme, ela prova é que uma atriz competente, coisa que numa sitcom fica muito difícil demonstrar, e não apenas um rostinho bonito. Seu próximo trabalho é a principal comédia do ano, Todo Poderoso, onde contracenará ao lado de Jim Carrey. Voltando agora a falar do filme (e de Aniston, mais pra frente), ele é dirigido por Miguel Arteta, que também é bastante inexperiente em relação ao cinema, pelo menos como diretor. Aqui ele conseguiu criar, a partir de situações e pessoas comuns, um drama tocante e também muito divertido.

Por Um Sentido na Vida é um ótimo drama existencial. Grande coisa! Nada de novo aqui... Mas é tão simpático e tão honesto (as interpretações são ótimas e muitos poderão se identificar com a história) que acaba se tornando algo que se destaque nas prateleiras das locadoras. Jennifer Aniston é Justine, que trabalha numa loja de conveniência em uma cidade pequena norte-americana (parece que esses lugares são chamarizes para dramas). Ela é casada com Phil (em mais uma ótima interpretação de John C. Reilly, o rei dos papéis coadjuvantes na atualidade), um marido desligado que a ama à sua própria maneira, o que parece não satisfazê-la. Justine considera sua vida monótona e infeliz, sem sentido.

Certo dia, um novo empregado passa a trabalhar na mesma loja. Tímido, mas cheio de idéias (ele é escritor, ou pelo menos diz ser), Holden (Jake Gyllenhaal, de O Céu de Outubro, entre outros), logo se envolve com Justine, que encara-o como uma espécie de escapismo do seu casamento. A relação é intensa e complicada. Enquanto se curtem, surge a dúvida na cabeça de Justine: deixar o marido e sua vida atual para trás, fugindo com Holden, ou ser honesta consigo mesma e fingir que tudo não passou de uma paixão momentânea. Essa relação é extremamente confusa, principalmente por causa de amigos e dos outros empregados da loja, que podem descobrir tudo a qualquer momento, dificultando ainda mais as coisas para Justine.

O clima do filme lembra bastante o também muito bom Retratos de Uma Obsessão, com Robin Williams. Parte dele se passa também numa loja de conveniência, que é um “personagem” importante do filme. Aqui, a loja onde Justine trabalha também pode ser considerada uma personagem. O clima da loja é um pouco mais humano que a encontrada em Retratos, mas ainda assim é muito frio e robótico para não se tornar deprimente. O filme conta com alguns personagens de apoio bem interessantes, principalmente os colegas de trabalho de Justine (já que boa parte do filme passa-se lá dentro), mas também o melhor amigo de Phil (que é o marido dela, lembra-se?), que tem uma história só sua dentro do filme, que também é muito bem desenvolvida e interessante.

Finalmente voltando a falar de Aniston, além de interpretar uma personagem bastante difícil, onde deve passar por momentos constrangedores, engraçados, sofrer pressão, e até chegar a ser tratada como prostituta, a atriz se sai muito bem, dando bastante veracidade à sua personagem. Quando o filme foi lançado nos Estados Unidos, chegou-se a comentar em uma indicação ao Oscar. Bem, ainda não chegou a vez, talvez seja realmente cedo, mas potencial ela demonstrou ter. Além de Aniston, a direção do filme é outro destaque. Mighel Arteta (que é porto-riquenho) consegue, com a ajuda de um ótimo roteiro de Mike White, criar uma atmosfera envolvente para o filme e seus personagens, sempre apresentando situações interessantes na tela. O filme nunca é lento demais, mas também nunca chega a descambar. Logicamente, esse não é um gênero que todos curtem, pois é um filme com partes bastante tristes e nada motivadoras.

Há uma mensagem no filme. Uma bela mensagem. Mas está bastante implícita, e você deverá cavar um pouco para descobri-la. Afinal, assim são os dramas existenciais, não? Eles nos fazem refletir sobre nossas vidas, mesmo que nem sempre dêem as respostas mastigadas. A vida de Justine pode servir apenas como um exemplo, que é apresentado a você. Você é quem decide o que fazer com esse exemplo. Como foi dito no início desse texto, Por Um Sentido na Vida é um filme praticamente completo. E eu explico o porquê exatamente. Ele faz chorar, pensar, rir, ou simplesmente entretém. Seus personagens são reais. Só não tem cenas de ação... Bom, aí dificilmente seus personagens seriam reais. Ou não?

Falando da parte técnica. Bem, nesse quesito não há muito o que dizer. É um filme feito evidentemente com orçamento baixíssimo, uns 8 milhões de dólares. Mas mesmo assim possui boa fotografia, uma edição muito boa (contando com narração em off, que ficou muito bem empregada) e... Bem, é isso! O filme não foi nenhum mega-hit nos cinemas, mas conseguiu recuperar o seu pequeno investimento e ainda render alguns bons milhões para a Fox Searchlight, distribuidora do filme. No Brasil, seu lançamento foi limitado e sumiu rápido dos cinemas. Agora está disponível em vídeo e DVD, onde deve fazer mais sucesso a longo prazo (principalmente depois de você ler isso aqui – apenas brincando...).

Por tudo isso, recomendo que você vá correndo à locadora nesse exato momento para ver esse filme, a não ser que você deteste qualquer tipo de drama. Recomendado pela excelente história (mesmo não sendo a mais original de todas) e por toda a parte artística. Só Aniston e John C. Reilly já valem o aluguel.

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