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Críticas

Cineplayers

Um filme retardado.

0,0

O cinema 3D existe há décadas, mas somente há menos de uma delas é que ele vem ganhando ares populares. A tecnologia, então, não é lá muito nova, mas ela vem se refinando e barateando, fazendo com que cidades de médio-porte já tenham suas salas equipadas para passar esse tipo de filme. A tendência é que chegue às pequenas salas no decorrer da década de 2010. No meio crítico, há quem diga que o 3D é mais inofensivo que um bebê, que a tecnologia vem para somar e não há perigo de que ela acabe desvirtuando o Cinema. Em contrapartida, há quem diga que o 3D criará (ou já vem criando) uma forma de entretenimento paralela ao cinema, que parece cinema mas na verdade é apenas um brinquedo de parque de diversões.

Acho cedo para decidir quem está certo, mas o fato é que até hoje não há filme que utilize o 3D em benefício da Arte. Isso vale também para o tão popular Avatar, de James Cameron, que não tem realmente nada de revolucionário, visualmente falando (as pessoas simplesmente deixam-se levar pela máquina de marketing, competentíssima, sem dúvidas), e sua história é das mais medíocres que existem, um atentado ao cinema de arte ou mesmo ao cinema mediano (aquele que não é estúpido demais nem complexo demais também). Chegamos, então, a Premonição 4, um dos piores exemplos de como utilizar essa tecnologia. Se filmes anteriores desse tipo eram simplesmente burros, este aqui extrapola quaisquer limites, denunciando sem dó que seus produtores, roteiristas e diretor venderam-se da forma mais barata possível para máquina de Hollywood.

A única coisa que surpreende aqui é saber que o roteirista Eric Bress é o responsável pelo bom Efeito Borboleta e o diretor David R. Ellis fez filmes verdadeiramente divertidos como Serpentes a Bordo (limitadíssimo, é bem verdade, mas que funciona como entretenimento genuíno). Aqui eles são os principais responsáveis por uma bagunça sem precedentes, um filme curtíssimo (quase sempre é sinal de problemas criativos) que serve meramente para trazer planos em 3D cobertos com os piores efeitos especiais vistos em anos. Não parece um filme mainstream de forma alguma, e sim uma tentativa extraordinariamente amadora, produzida em fundo-de-quintal por pessoas das mais incompetentes.

O elenco é formado por jovens de pele perfeita, rostos de modelo e personalidade de um vaso – todos eles basicamente se parecem robôs declarando textos de forma inexpressiva, a bem da verdade apenas declarando-os da forma que foram escritos, possivelmente enquanto Eric Bress estava no banheiro fazendo suas necessidades mais básicas. Devem ser sido escritos em papel higiênico. A história é exatamente a mesma dos três filmes anteriores, e nego-me a gastar uma linha sequer escrevendo sobre ela. Somente deixo registrado que todas as mortes são repetitivas, forçadas até o talo e previsíveis tal como uma telenovela da televisão aberta no Brasil. Entre as dezenas de incoerências, por que a premonição inicial de Nick, na pista de corrida, foi em alta resolução, cristalina e as outras visões compunham-se de imagens em computação gráfica feitas por estudantes do Studio Max ou qualquer outro software de modelagem em 3D?

O filme tem um tipo de humor estúpido em seu contexto (o personagem que tenta mas não consegue se matar de forma alguma) e até utiliza-se da mais básica metalinguagem (no ato final, duas garotas vão assistir a um filme em 3D) como forma de talvez ser menos óbvio, mais inteligente ou simplesmente menos retardado. É muito pouco, pois os efeitos especiais medonhos, interpretações nulas, roteiro sem um pingo de inteligência e cenas de suspense das mais previsíveis que alguém pode conceber tiram a atenção, a boa vontade e a paciência de qualquer espectador minimamente exigente com qualquer coisa. O cinema 3D pode ter sido criado para somar, para criar novas opções, para salvar o cinema da pirataria, mas até o momento ele só está provando a tese da Idiocracia – a inteligência, nesse caso dos produtores, está indo pelo ralo. Não é culpa da tecnologia, é verdade, e sim das mulas que a utilizam.

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