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Críticas

Cineplayers

Drama sobre uma relação mal conversada entre pai e filho e sobre a última oportunidade de um filho entender o pai.

6,5

Ingleses carregam a fama universal da frieza e até mesmo ao tocar em tema tão propenso ao melodrama encharcado, com classe, eles trabalham os clichês deixando cair uma lagriminha aqui e outra ali, sem as esquizofrênicas conseqüências a que essa mesma relação entre pai e filhos pode levar, como visto em A Família Savage, outro filme recente que trata do tema.

Colin Firth interpreta o escritor Blake Morrison, cujo romance homônimo deu origem ao filme e cujo enredo está meio que desvendado já no título, a vida adulta e os cada vez mais raros momentos dedicados aos pais. Jim Broadbent interpreta o pai de Blake, Arthur Morrison, médico fanfarrão e bem quisto por todos, seja pelo bom humor ou pela generosidade, aquele tipo malandro que conquista quem passa por seu caminho. E apesar de ser essa a relação mais explorada pelos conflitos do longa existe um quadro geral e maior pintado ao redor disso e que trata sobre a infância/juventude de Blake (na infância interpretado por Bradley Johnson e quando jovem, por Matthew Beard, esse último numa atuação digna de menção).

Logo após ser premiado por um de seus livros, Blake acumula mais um dentre muitos ressentimentos quando Arthur não é capaz de lhe fazer um simples elogio pela honraria. Ao invés disso o que o filho escuta é a costumeira reclamação sobre o fato de ele ter escolhido a literatura ao invés de uma carreira mais rentável. Quase que em seguida somos levados pelo diretor Anand Tucker a um momento de intimidade entre os dois, que encerrado por alguma queixa de Arthur, com um corte brusco nos coloca já no hospital em que ele é internado e diagnosticado: resta pouco tempo de vida ao velho Morrison.

Quando Arthur piora, Blake é chamado para estar na antiga casa da sua infância e velar os últimos dias do pai ao lado de Gillian (Claire Skinner), sua irmã, e de sua mãe Kim (Juliet Stevenson). Nesse retorno é que ele vai aos poucos puxando de dentro as memórias de sua vida e as dores que guarda do pai, e através da utilização de cenas que só se completarão na medida em que formos nos aproximando dos dois, conhecemos as infidelidades de Arthur, as suas estratégias mal sucedidas ou mal interpretadas de ter momentos à sós e intimidade com o filho. É como se o diretor nos mantivesse dentro das dúvidas de Blake, descobrindo com ele a partir do encadeamento de lembranças e conversas, que ele agora adulto pode requerer aos outros, que as respostas sobre essa figura - que ele mal compreendia e tanto amava - vão surgindo.

Com interessantes jogos de espelho a fotografia brinca com duplos e com a inserção de personagens na cena através de seus reflexos. E apesar de todas as premonições que se possa ter antes de assistir a Quando Você Viu Seu Pai Pela Última Vez, os clichês são suavizados pela inserção dos flashbacks em momentos não óbvios, sem que um personagem precise dar a deixa para que Blake lembre momentos-chave de seu passado e importantes para a trama.

Dois outros momentos se destacam pelo mesmo motivo, quando Blake finalmente interpela a possível amante de seu pai e o diretor suprime as respostas surgidas ali, e também no final quando evocando a frase-título ele se pergunta sobre qual a última vez que esteve na presença de seu pai da maneira como ele estava guardado em sua memória, na plenitude de suas forças e de seus defeitos.

O conjunto das interpretações agrada e os destaques ficam, para além do já citado, com a presença de Elaine Cassidy, (que também interpretou a personagem muda de Os Outros) como Sandra a empregada doméstica que se torna quase membro da família, e também com a mãe interpretada de maneira contida e eficiente pela experiente Juliet Stevenson.

Além das interpretações acertadas e da delicadeza de pequenos detalhes de produção e fotografia, a riqueza desse filme está em cuidadosamente espantar os clichês pra longe e emocionar na medida certa.

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