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Críticas

Cineplayers

Comédia pretensiosa, o filme parece se preocupar mais em citar filmes de Hollywood do que ser engraçado.

3,0

Quatro Estrelas é uma comédia romântica francesa da gema, ou seja, tem muita falação (boa parte dos franceses se acha engraçadíssima falando muito e rápido daquela forma), cinefilia, com caudalosas citações a Hollywood (sim, comédia francesa quase sempre remete a uma comédia americana dos anos 50 ou 60) e alguma imoralidade, no caso, o fato de a mocinha (Isabelle Carré) preferir o trambiqueiro gordinho, baixo e atrapalhado (José Garcia) ao piloto de corrida rico, refinado e malhado (François Cluzet).

Há que se esforçar muito o espectador para rir desse sub-produto sem grandes atrativos. O filme foi apresentado no Festival de Berlim na seção Panorama em 2006 e passou batido, sem chamar atenção. Conta a história de uma parisiense que recebe uma pequena herança da tia avó e, em vez de gastar o dinheiro de maneira apropriada, como sugere seu entediante namorado, torra tudo passando uma temporada num hotel de luxo em Cannes.

O diretor, Christian Vincent, diz que se inspirou na “comédia romântica sofisticada” de Ernest Lubitsch, em especial A Oitava Mulher do Barba Azul. A atriz Carré está vestida e maquiada para emular a Grace Kelly de Ladrão de Casaca, de Alfred Hitchcock, pois a ação se passa no mesmo local, a Côte d’Azur. Quando desce a escadaria do Hotel Carlton, onde anualmente acontece parte da programação do Festival de Cannes, a música que toca é "I wanna be loved by you", a mesma que Marilyn Monroe imortalizou em Quanto Mais Quente Melhor

E por aí vai. Quatro Estrelas é uma comédia sem graça tão recheada de citações cinematográficas que fica a impressão de o cineasta ter feito mais esforço em mostrar que viu todos aqueles filmes do que para contar sua história.

Um possível foco de interesse do filme, frágil dentro da avalanche de citações, é o fato de que o amor da moçoila ser disputado por dois homens maduros. Assim, abre-se espaço para uma certa sofisticação, que entre as comédias românticas entre gente jovem parece ser impossível hoje em dia. José Garcia e Carré fizeram uma quando jovens, Romuald e Juliette (1989), igualmente nula, e retornam à dupla agora, 18 anos depois.

Os dois têm química, mas insuficiente para segurar o filme, como faziam Spencer Tracy e Katharine ou Rock Hudson e Doris Day nos anos de ouro de Hollywood. Aliás, essa fórmula parece ter se perdido. Nem americanos nem franceses conseguem repeti-la, e filmes deliciosos e hilários como Quando Setembro Vier parecem hoje relíquias do passado insuperáveis, apesar da fragilidade das obras. 

Pode-se dizer que Quatro Estrelas é uma diluição pretensiosa, mas com ritmo, louve-se. Seu lugar é na Sessão da Tarde.

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