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Críticas

Cineplayers

Razoavelmente divertido, esta versão jovem de Rain Man falha em roteiro e elenco.

5,0

Filmes sobre gênios ou pessoas superdotadas sempre rendem bons dramas. Baseando-se na força de seus personagens, seus dons acabam tornando-se suas ruínas, criando histórias ricas e multidimensionais, vide Uma Mente Brilhante e Gênio Indomável, somente para citar dois exemplos recentes. Quebrando a Banca leva esse tipo de filme – se é que ele pode ser considerado um subgênero – para uma visão extremamente hollywoodiana: elenco jovem, reviravoltas no roteiro e um romance no meio disso tudo. O resultado não poderia ser mais óbvio: uma sessão ligeiramente divertida e altamente descartável de cinema contemporâneo. Ou ainda, uma versão jovem e piorada de Rain Man. Quem já viu ambos deve concordar; quem não viu, ao ler a sinopse, vai entender.

Baseado em livro de bem Mezrich (que, por sua vez, foi baseado em um caso real), “21” é sobre um grupo de alunos bem (bem mesmo) acima da média que une-se para “contar cartas” no blackjack, o mais popular jogo nos cassinos de Las Vegas (e acredito que do mundo todo). Utilizando-se de sua imensa capacidade mental para guardar combinações e números, criam um sistema lógico que, adicionado a uma estratégia em grupo, garantiria milhões ao grupo, chefiado pelo seu professor Micky Rosa (Kevin Spacey). Não chega a ser roubo, mas apenas uma maneira de jogar que fica no limite moral entre o honesto e o desonesto. Para os donos dos cassinos, é claro, a atividade é abominável.

Infelizmente, a idéia é muito superior à sua realização. Composto de um elenco bastante jovem e inexperiente, não há destaque algum dentre os atores, que não conseguem ser salvos nem mesmo pela presença do incontestável talento de Kevin Spacey, aqui aparecendo um tanto quanto deslocado, com seu personagem de duas caras que acabou recebendo um clímax constrangedoramente ruim. Não há nem o que discutir muito a esse respeito, o roteiro tenta surpreender mas acaba caindo no lugar-comum de tentar ser inteligente e agradar o público ao mesmo tempo, algo difícil de fazer acontecer e que aqui não foi exceção.

O restante do elenco é ordinário ao máximo, e Jim Sturgess, que estourou com Across the Universe, ainda terá tempo e outras oportunidades para provar que tem algum diferencial. Porém, o problema maior aqui é particularmente Kate Bosworth: ajudado por um texto muito mal escrito para ela, sua personagem é um protótipo de mocinha que os roteiristas supõem ser o sonho de qualquer marmanjo: bonita e ousada no papel, acaba sendo mesmo é um exemplo de inconstância, tornando sua presença bastante detestável: no início, ela não deseja relação alguma com o pobre Ben (Sturgess), mas logo depois, sem justificativa plausível, a moça entrega-se a ele em uma cena de sexo adolescente de extremo mal gosto e absolutamente desnecessária, mostrando as intenções puramente comerciais de um roteiro que quer vender muito visual e pouco conteúdo.

Outro problema, além do elenco fraco, é o quanto o filme subestima seus espectadores. Utilizando um recurso já visto anteriormente em filmes como Uma Mente Brilhante, acompanhamos o desenvolvimento dos pensamentos de nossos “gênios” em montagens compostas entre a ação no carteado e o que se passa na cabeça deles – como a lógica do esquema do grupo funciona. O problema é que, se na primeira ou segunda vez é tudo bacana e divertido, na terceira para frente não será difícil para os espectadores de QI um pouco mais elevado sentirem-se insultados, pois a montagem continua utilizando esse recurso até perto do final do filme, como se não fosse realmente possível entender tal esquema, mesmo que somente o suficiente para acompanharmos a continuidade da história, já logo cedo. Comercialmente, entende-se essa opção, pois a massa de espectadores não quer ir ao cinema para pensar de jeito nenhum, mas analisando de um ponto de vista puramente crítico, este é um grande ponto negativo.

Há outras bobagens no roteiro, que tornam a experiência menos agradável. Por exemplo, como alguém que dizem ser e se considera um gênio não pensa em um local mais inteligente para armazenar o dinheiro que ganha nos jogos? No final das contas, “21” é apenas mais um filme americano que – vejam só que surpresa – é uma ode ao consumismo exacerbado, jogando na cara de seus espectadores que a única forma de ser feliz (e de fazer sexo com a garota de seus sonhos) é tendo muito dinheiro. É arrojado e razoavelmente divertido ao executar essa função, mas é muito menos esperto do que acredita ser na realidade, transformando-se em uma sessão no máximo regular de cinema. Regular e totalmente dispensável.

Comentários (2)

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