Saltar para o conteúdo

Rambo: Até o Fim

(Rambo: Last Blood, 2019)
5,9
Média
65 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Quando o pioneiro já não tem mais fôlego.

4,0

Quando lançou Rambo - Programado Para Matar em 1982, o astro Sylvester Stallone já estava no terceiro filme da franquia que o lançou para a fama, Rocky, Um Lutador, e surpreendentemente a história do veterano do Vietnã John Rambo injetou um novo gás em sua carreira. Nos próximos seis anos, mais dois filmes da franquia seriam lançados, transformando o dramático primeiro filme sobre um homem que não consegue superar os traumas da guerra em um astro do tal “cinema brucutu”, ícone quase estereotipado da Era Reagan, em que heróis patrióticos derrotavam simbolicamente os “inimigos do mundo livre”. O exagero se transformou quase em anedota, ao menos por um tempo: em 2008, o ator levou o personagem aos limites com Rambo, um exercício de ultraviolência gráfica que testava as fronteiras entre ação e terror. Para onde ir depois daí?

A julgar pelo que vemos em Rambo: Até o Fim, ninguém sabe, quanto mais Sylvester Stallone. O novo filme parte de um ponto improvável para o personagem: após ter problemas com a lei no primeiro filme, enfrentar vietcongues e oficiais americanos corruptos em Rambo II: A Missão, salvar seu mentor Coronel Trautman dos soviéticos em Rambo III e enfrentar mercenários em Burma no quarto filme, desta vez vemos John Rambo isolado na fazenda do seu pai, onde adotou como família a ex-funcionária Maria Beltran e sua sobrinha adolescente Gabrielle. A jovem, órfã de mãe e abandonada pelo pai, viaja para o México para saber mais sobre sua família, mas acaba sendo sequestrada por um cartel de prostituição mexicano, e Rambo parte em missão atrás deles.

Inusitado para uma franquia um personagem que ficou conhecido por protagonizar histórias de ação militaristas desta vez estar em uma missão familiar e não ligada à ocupação que o tornou famoso além de o personagem já não ter mais a clássica caracterização dos cabelos fora de corte e a conhecida faixa na cabeça —, o que no geral faz o clima parecer que estamos mais numa rendição de Stallone ao tipo de filme que Liam Neeson tornou conhecido em Busca Implacável.

Para a direção, Stallone contratou Adrian Grunberg, apadrinhado de Mel Gibson que trabalhou como assistente de direção em O Fim da Escuridão e estreou nos longa-metragens comandando o eterno Mad Max em Plano de Fuga, em que Gibson voltou à velha forma interpretando o típico personagem deslocado e à beira da insanidade, conquistando recepções positivas à época. E esse é mais ou menos um Rambo de Adrian Grunberg: um herói de meia idade que anda por um México com o clichê filtro amarelo popularizado em Traffic em busca de resolver um problema familiar.

O quarto Rambo certamente deixou sua marca na franquia, porque Rambo: Até o Fim também é outro abuso de violência: abundam mutilações, torturas, degolas e cabeças decapitadas, tudo dirigido de maneira burocrática (depois de um tempo, as inúmeras “mortes repentinas” perpetradas cessam em causar tensão e causam mais riso ou catarse), com algumas escolhas simplesmente esquisitas, como a “montagem videoclipe” mostrando o paralelo de Rambo com a sobrinha jamais repetida no resto do filme, ou zooms ao estilo documentário que causam estranheza por não casar com o resto da linguagem. A abertura do filme em si já funciona quase como um prenúncio, sendo completamente descartável, sem ritmo de abertura de obra, completamente corrida, situacional e nada dramática — ainda que envolva um resgate durante uma enchente.

Pode-se dizer que o roteiro é ousado, corajoso, até por fazer algumas escolhas que outros filmes normalmente se acovardam por meio de conveniências. Mas é sempre bom lembrar que “ousado” não é necessariamente bom ainda mais quando elas são acompanhadas de uma construção inverossímil um militar veterano, especializado em combate em desvantagem como Rambo iria mesmo se expôr a tal risco como quando apanha dos traficantes, ou a cena só serve mesmo como gatilho dramático? Isso para não dizer quando não apela para o clichê extremo, já que todo o arco de Rambo com Gabrielle apela para um festival de frases feitas passíveis de serem encontradas em dezenas de outros filmes do gênero.

E desconsiderando todas as bobagens e perdas de tempo no meio do caminho, como a desperdiçada jornalista de Paz Vega, que aparece duas vezes no filme para supostamente “ajudar Rambo” mas depois simplesmente some, temos o clímax final, onde Rambo usa de toda a sua expertise em armas e armadilhas quase vintage para enfrentar traficantes com armamento bélico de ponta. Sergio Peris-Mencheta (A Vida em Si) é o “vilão latino genérico” da vez, mais um na longa fileira do preconceituoso cinema de ação após os russos, chineses, vietnamitas, birmaneses e outros serem igualmente retratados como bastardos sem alma, mas até que impõe algum nível de respeito por “botar a mão na massa” e ir no “mano a mano” contra Rambo, fugindo do clássico estereótipo de líder acovardado que apenas sabe gritar e delegar funções.

Mas Rambo chega no seu “último sangue”, como diz o título original, como uma franquia já cansada. Nada mais é novidade: a expertise de Rambo com armadilhas, já vimos em todos os outros filmes, a violência gráfica excessiva perde feio para o quarto e lá para o final vira apenas fanfarronice e a tentativa de apelar para temas mais modernos mais descaracteriza a essência do personagem do que qualquer outra coisa. A impressão é de que Stallone comprou para si um roteiro rejeitado e jogou o nome da franquia em cima. E, como era de esperar, pouco ou nada funciona aqui, e esse é mais um filme de um gênero extremamente saturado cujo único atrativo é a presença de um veterano. Para resumir: apesar da apelação de ser o “último filme da franquia”, é completamente esquecível, e o anterior continua funcionando como um fechamento imperfeito, porém mais digno que essa “batida de cartão” sem vergonha que vemos aqui.

Comentários (1)

Rodrigo Nuso | sexta-feira, 20 de Setembro de 2019 - 08:25

A Folha e o Omelete não gostaram. Logo, deve ser no minimo divertido pra caralho! hahah

Bernardo D.I. Brum | sexta-feira, 20 de Setembro de 2019 - 18:49

Quem dera, é bem medíocre e esquecível, na verdade.

Faça login para comentar.