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Críticas

Cineplayers

Rango não é perfeito, mas seu humor nonsense diverte.

7,0

Rango é o primeiro longa-metragem de animação feito pela toda-poderosa dos efeitos especiais Industrial Light & Magic, vencedora de 15 Oscars e com tantas outras indicações. Com um currículo tão extenso, era de se esperar um filme com um primor em sua execução que pudesse se equiparar ao menos com a Pixar, ou a Dreamworks. Ao mesmo tempo, a falta de experiência em toda a fase de produção, e um diretor estreante na função de uma animação, poderiam gerar desconfiança.

Pois a Industrial Light & Magic não decepcionou. Tecnicamente Rango é irrepreensível, e graficamente complexo. O roteiro exige um universo de personagens e ambientes castigados pelo sol e pela falta de água, pela vivência em um terra hostil. Ao mesmo tempo, há uma ligação muito forte com dois gêneros, que trazem elementos muito específicos e quase conflitantes, que é o faroeste e o infantil. Mas o longa se supera ao conseguir criar personagens que conseguem ser divertidos, interessantes, e ao mesmo tempo sofridos e longe de serem fofos. Rango não vai ser campeão de vendas de bonecos, isso é certo. E, pra ser sincero, não deve agradar todos os públicos. Crianças, principalmente, tendem a ficar muito inquietas na cadeira nesse tipo de filme.

O maior problema do filme é o roteiro, que não se sustenta até o final. Embora comece divertido e com um humor beirando o nonsense, na parte final acaba se tornando arrastado e menos interessante. Ainda que consiga fazer o máximo do universo que aborda, tornando a pequena cidade de Dirt um lugar verossímil, algumas derrapadas fazem com que o público não consiga se ater à história. Por exemplo, desde a primeira cena em que o Prefeito aparece, nós sabemos que ele é o vilão. Está em todos os traços da animação, na sua voz, na forma como se porta. Só falta uma plaquinha de Vilão no pescoço. Como se não bastasse, Beans, a única personagem que parece ter algum tipo de percepção dos problemas da cidade, fica apontando como é suspeito que o Prefeito não tenha sede. Ainda assim, quando o banco é roubado e a água desaparece, o roteiro leva os personagens a procurarem uma outra causa, que embora seja divertida, é infundada quando sempre foi deixado tão claro quem era o antagonista da história.

Isso, somado a um ritmo que nem sempre carrega a história de forma interessante, a alguns personagens fantásticos no terceiro ato que não combinam com o tom do roteiro, e a algumas soluções desnecessariamente fáceis (como o Prefeito, que apesar de ter um plano durante todo o filme, acaba partindo para violência física sem razão) comprometem um pouco o filme. Mas não o suficiente. Durante boa parte da projeção, as piadas funcionam, a trilha envolve, a direção é inventiva, a dublagem (principalmente a americana com Johnny Depp) diverte e o filme cumpre sua função.

A direção merece destaque, por saber explorar muito bem as vantagens de um filme de animação, utilizar enquadramentos pouco comuns e ainda assim belíssimos e bem construídos dentro da narrativa. Gore Verbinski se redime da sua última tentativa de western moderno, A Mexicana (The Mexican, 2001), e mostra muita habilidade e versatilidade. Entre os filmes de ação da série Piratas do Caribe, o drama O Sol de Cada Manhã (The Weather Man, 2005), o terror O Chamado (The Ring, 2002), o infantil Um Ratinho Encrenqueiro (Mousehunt, 1997), pode-se dizer que apesar de não acertar sempre, Verbinski consegue ao menos surpreender nas suas escolhas.

Rango pode não ser perfeito, mas é melhor do que 70% das animações que são lançadas no cinema hoje em dia. Quando o filme acerta, ele é ótimo. E quando erra, parece um filme da Dreamworks. É um nobre esforço de trazer algo de novo em um gênero que está se esgotando pela quantidade e falta de qualidade. Um primeiro esforço de tirar o chapéu.

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