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Críticas

Cineplayers

Ratatouille reafirma o prestígio da Pixar e confirma o talento de Brad Bird.

8,0

Apesar de não superar o sucesso que obteve com Os Incríveis, o diretor Brad Bird se firma como um dos mais talentosos da Pixar, voltamos a ver a magia trabalhando durante a projeção de Ratatouille, uma animação cheia de classe que não apenas deve divertir pais e filhos, mas deve ser um dos melhores filmes americanos do ano.

Já virou clichê apresentar o currículo da Pixar, por isso, a esta altura, quem conhece e gosta não vai se decepcionar. Em cada cena, se vê a atenção para detalhes e o meticuloso trabalho técnico e artístico de cada elemento, a Paris é rendida com uma paleta de cores quente, vibrante, e cada prato de comida tem um realismo que faz com que você sinta fome durante a projeção. A animação é impecável, o timing, a atuação, a direção de cenas. Mas de novo, é nos personagens e no roteiro que está o melhor do filme.

A saga do ratinho Remy é a clássica história de um personagem dividido entre dois mundos, o mundo dos ratos é descrito da mesma maneira como o dos brinquedos em Toy Story, inserido num contexto "real" onde eles agem à margem do conhecimento dos humanos, o que funciona melhor do que no universo totalmente fantasioso de Carros por exemplo, a câmera de Bird frequentemente se coloca na perspectiva do rato, passeando por dentro de paredes e sobre prateleiras na escala diminuta deles, criando empolgantes cenas de ação. Já para o universo dos humanos, qualquer um que assiste programas gourmets na TV vai se identificar e, mesmo que não assista, o próprio filme se encarrega de introduzí-lo: da hierarquia da cozinha, às personalidades fortes dos chefs e a paixão pela boa comida, tudo inserido no charme francês. E charme o filme tem de sobra.

A magia está na maneira como uma série de improváveis e divertidos incidentes une Remy e o jovem e desajeitado Linguini, o roteiro é ágil e os dois personagens se complementam não apenas tematicamente, mas sua dinâmica funciona que é uma beleza. Já foi dito que as cenas em que Remy controla os movimentos de Linguini é comparado à melhor comédia física de gênios do cinema mudo, apesar do exagero essas cenas realmente são brilhantes e reafirmam o talento dos animadores da casa. Sua habilidade em tornar até os personagens secundários carismáticos e interessantes também é louvável, a eclética equipe da cozinha do Gusteau's, ou o irmão bonachão de Remy se destacam, mas quem rouba a cena é o funesto crítico gastronômico Anton Ego, dublado com perfeição pelo veterano ator Peter O'Toole, é uma daquelas criações que se tornam inesquecíveis e é inteligente da parte de Bird economizá-lo até o genial clímax da história. Recomendo aos adultos que forem sem crianças ao cinema conferirem a versão legendada, só por causa dele.

Eu compreendo a bronca do meu colega Emilio em sua crítica por causa das frequentes lições de moral que Remy escuta do fantasma do Gusteau, mas num momento Remy chega a dizer para o fantasma/consciência que o segue: "Você só diz o que eu já sei!" Passando assim a agir mais por instinto, sem se prender por muitos dilemas e regras, inclusive os auto-impostos. Ele ainda diz ao pai (que vive preso a um pacote de regras e morais próprias também) sobre "seguir diante", essa é a única mensagem verdadeira de Ratatouille. Pode-se dizer até que o filme é anti-lições de moral, pois são elas que impedem o personagem de crescer.

Ingênua a história pode ser, mas é difícil não se envolver com os personagens e os elementos exagerados da trama fazem parte do melhor da história, do que a faz divertida. Claro que animação não deve conhecer limites, pelo contrário ela deve quebrá-los, senão teria sido melhor filmar em live-action. O público na minha sala parecia se divertir bem mais do que na sessão de Shrek Terceiro que assisti alguns dias antes, exatamente por conta das tais cenas absurdas, que remetem a clássicos da animação como Tom & Jerry e Pateta. Se tem alguma coisa que eu achei um tanto mal resolvida foi o falso final, antes do climax verdadeiro vários pontos da trama se resolvem rápida e abruptamente. Há de se louvar o desejo de não esticar desnecessariamente a película, mas comprometeu um pouco a fluidez da história, impecável até esse ponto. Ratatouille é um daqueles filmes que dá prazer de assistir e já estou com vontade de revisitar o restaurante de Remy.

Um lembrete: o curta exibido antes do filme é divertidíssimo, não chegue atrasado.

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