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Críticas

Cineplayers

Não é uma obra-prima, mas Ray pode ser considerado ainda assim uma boa homenagem ao grande músico.

6,5

Foi surpreendente quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas - essa mesma, a que distribui os Oscar todo ano - anunciou as seis indicações de "Ray" (a saber: som, montagem, figurinos, ator, diretor e filme). A indicação de Jamie Foxx era até esperada, mas ver a película ser indicado a filme e a diretor (o sempre medíocre Taylor Hackford, que fez besteiras como "O Advogado do Diabo" e "Prova de Vida", mas que aqui está até correto) foi constatar mais uma vez o quanto a Academia é negligente. Obras marcantes, ousados e inesquecíveis, como "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" foram deixados de lado. Os motivos: não é fácil dizer, mas eu diria que a morte do biografado neste filme, Ray Charles, neste ano, influenciou bastante. E a atuação "reencarnação" de Jamie Foxx do mestre da música levanta qualquer filme.

Vamos ao filme. O roteiro segue duas linhas narrativas ao mesmo tempo. Enquanto em flashbacks são mostradas cenas da infância de Ray Charles, há um outro seqüencial que vai mostrando ele já adulto tentando a sorte como músico. Obviamente o rumo do filme é linear, como toda cinebiografia que siga a cartilha, com esses eventuais flashbacks que incomodam por quebrar constantemente o ritmo do filme e que acabam deixando a seqüência principal um pouco fragmentada.

Nesses flashbacks são mostrados a dura vida do garoto negro sulista que acaba sendo acometido por um grande trauma (e que no filme esse trauma acaba influenciando, e muito, a vida do músico, a ponto dele ter certas alucinações estapafúrdias e bastante difíceis de terem veracidade). O diretor Hackford inclusive acerta ao fazer a grande interseção entre as duas linhas narrativas no momento certo, onde algumas dúvidas são eliminadas. Já no tempo cronológico principal acompanhamos a difícil realidade que Charles teve ao tentar a carreira sendo cego e quase sempre enganado. Depois, acompanhamos seu crescente sucesso até se tornar o ícone que é hoje, sem esquecer seus problemas com drogas, seu casamento problemático e suas várias amantes.

É clichê dizer que o que vale no filme é Jamie Foxx. O sujeito que até pouco atrás não era ninguém (lembro-me de ter reparado nele pela primeira vez em "Um Domingo Qualquer") e que teve o ano de 2004 como o ano da sua vida. Roubou a cena de Tom Cruise no ótimo thriller "Colateral" e parece estar perfeito no papel do grande Ray Charles. Em algumas cenas ele parece até super-representar, exagerando um pouco nos movimentos, mas como não conhecia o modo de ser do Ray Charles, fica difícil afirmar com certeza. Mas Foxx convence perfeitamente e passamos por todo o filme vendo Ray Charles, e não alguém tentando imitá-lo. Isso é de uma dificuldade tremenda, até porque Foxx ficou muitíssimo parecido com o músico (e Foxx ainda toca piano também).

Quanto à direção de Hackford, como já disse anteriormente, é correta e nada mais. Ele tenta imprimir ao filme um visual de época utilizando-se de recursos de iluminação e também inserindo letreiros que remete à época, o que funciona muito bem. Mas ao mesmo tempo alonga o roteiro o máximo possível tornando-o desnecessariamente longo (há uma versão do diretor ainda mais longa, de três horas de duração) e que dilui o interesse. Inclusive, há vários personagem que vão sendo descartados pelo roteiro sem eira nem beira, como se não servissem mais aos propósitos do filme. Hackford também errou ao escalar a bonitinha mas ordinária Kerry Washington (de "Revelações") como Della Bea, a esposa do cantor. Washington é má atriz e contracenando com a força de Foxx acaba por se tornar mera peça decorativa. Quem ganhou com isso foi Regina King (que protagonizará ao lado de Sandra Bullock "Miss Simpatia 2"), que merecia uma indicação ao Oscar de coadjuvante como a inquieta e atrevida Margie, backing vocal e amante do músico. O restante do elenco é afinado e não compromete.

Tecnicamente, o filme é realmente muito bem feito. Os cenários, os figurinos, a fotografia, tudo é bastante adequado. E o filme ainda tem a sorte de ser embalado por uma trilha sonora com canções de Charles, claro. É bastante curioso reparar quando o cinema em peso começa a cantar junto "Unchain My Heart" quando a música começa a tocar no filme. É, Ray Charles morreu e recebeu uma homenagem e tanto. Com falhas, mas uma grande homenagem.

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