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Críticas

Cineplayers

Jorge Furtado surpreende com a maior decepção de 2015.

4,0

Uma discussão sobre a beleza, não a mais óbvia (essa é justamente atacada pelo filme), mas sim aquela que só um olhar atento pode enxergar, serve como mote e metáfora a produção que traz Jorge Furtado de volta aos cinemas, um ano após O Mercado de Notícias e muitos após seu último longa de ficção. O afastamento do homem Furtado, seja ele pelo motivo que for, não fez bem ao diretor Furtado, que volta descaracterizado no nível do irreconhecível, em tema e imagens. À nossa frente uma busca pelo que de mais recôndito há na aparência bela; na tradução imagética nada vemos, ou vemos o contrário de seu significado.

Dono de uma filmografia rara no nosso cinema, Furtado não nos preparou para uma queda tão vertiginosa e não demora para sentir desconforto com o material apresentado, tamanho o espanto para com a ideia tão distante do seu habitat. Sai o grande argumentista, o excepcional diretor de elenco, o maravilhoso frasista, e entra em cena uma pálida versão sua, da qual ninguém nunca imaginou que ele iria chegar. Nem cabem muito críticas negativas em comparação porque simplesmente parece outra pessoa, pouco tem de Furtado ali.

Na trama apresentada, vemos o olheiro João passeando por cidades gaúchas em busca de um novo rosto. Mas como ele explica bem, não é qualquer beleza que transforma uma menina em uma super modelo: uma combinação de olhos, atitude, sorriso, intuição, boca, pernas, muita coisa. Um 'it', que João sabe reconhecer. Mas dessa vez a situação esta mais difícil: nenhuma chamou sua atenção. Até aparecer Maria, uma menina de 16 anos que tem os predicados necessários. Só um problema: o pai de Maria é contra uma possível carreira de modelo. Então João vai até seus pais, em busca da aprovação para essa única chance que ele tem de encontrar alguém. Conhece então Anita, a sisuda mãe de Maria, ainda bonita embora apagada pelo tempo. E a ligação entre ambos é imediata.

O filme lida então com uma clássica situação de triângulo amoroso, envolvendo o trio Vladimir Brichta, Adriana Esteves e Francisco Cuoco. Tirando de letra personagens que são mais "anotações" que seres de carne e osso, o que fica claro é que Furtado se cercou de um sexteto possante (além dos astros, o trio novato também é acima da média), mas que necessariamente não tem uma direção de atores sempre eficiente; de qualquer maneira, o elenco meio que tira de letra sozinho o que geralmente necessita de uma ajuda mínima. Ou seja, é um filme alquebrado, praticamente pela metade; vez por outra, funciona e cola... mas isso é pouco para um Furtado. "Vez por outra"? Jura?

De qualquer forma, sobram a primeira e a última aparição de Cuoco, o momento em que João se depara com Maria repetindo os cacoetes da mãe, e todas as cenas envolvendo os personagens coadjuvantes Bruno e Wilson, tão desperdiçados pelo roteiro esquemático e pouco imaginativo. Quem cresceu vendo Houve uma Vez Dois Verões, O Homem que Copiava e Saneamento Básico (além do histórico curta Ilha das Flores), infelizmente não precisa chegar ao final para o sentimento de frustração tomar conta.

Comentários (3)

DEMETRIO ISLAUSKAS DEMOSTENES IVANOFF | domingo, 09 de Agosto de 2015 - 13:17

Fiquei estupefato com esse escrito. Furtado é um dos diretores atuais que mais prezo. Honra diretores como Lima Barreto, Humberto Mauro, Nelson Pereira dos Santos, Adhemar Gonzaga, Anselmo Duarte e outros grandes de nosso país. Assim que houver oportunidade pretendo deixar meu agradecimento na bilheteria pelo que ele já nos legou (Caso o filme decepcione). Como acredito que não irá me decepcionar, ficarei devendo ainda gratidão ao cineasta. Temo apenas a presença do jovem e cabotino ator Francisco Cuoco. Foi por falta de opção jovem Furtado?

Cristian Oliveira Bruno | quinta-feira, 13 de Agosto de 2015 - 10:00

Só pelo pouco que vi e li sobre este, mesmo sendo do Jorge Furtado, não me interessei nem um pouco. Não sei se foi o tempo que ele passou longe dos holofotes, mas essa trama aí tão razinha e xinfrim não me atraiu em nada. Vou esperar passar na Globo, já que nossos filmes passam na TV aberta em uma velocidade recorde.

DEMETRIO ISLAUSKAS DEMOSTENES IVANOFF | quinta-feira, 13 de Agosto de 2015 - 13:36

Jovem Cristian, nem tanto pelo que disse a respeito da obra do Furtado vos escrevo aqui. Infelizmente, como bem disse, os filmes viraram mercadoria barata, coisas descartáveis. E assim após curto período nas bilheterias já ganham a tela pequena. Uma pena para as obras de valor (que são poucas).Essa idéia de descartabilidade infelizmente impera em todos os setores. Chamam música, o que não é. Pintura coisas horríveis como esse grafitado que emporcalha toda a cidade. Que triste mundo o rock está nos legando.

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