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Críticas

Cineplayers

Ainda mais perigoso.

3,0

Pode parecer bobagem, ou talvez cair no óbvio, afirmar que para funcionar um filme como RED 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos (Red 2, 2013) é preciso, antes de tudo, do mínimo de noção e talento do diretor. Claro, todo filme precisa de um cineasta talentoso no comando para ter maiores chances de se sair bem, mas no caso deste aqui tudo é mais crítico quando notamos que mesmo com a expectativa geral lá embaixo, o resultado é decepcionante. Vendido como um filme de ação com comédia, ou comédia com ação (e a ordem dos fatores faz a diferença nesse caso), RED 2 herda as mesmas deficiências do trabalho anterior e ainda traz consigo novos escorregões, quando na verdade poderia aproveitar melhor sua situação.

Pensando pelo lado prático, é uma situação até favorável: elenco de peso, orçamento razoável, e a benção de não se sentir na obrigação de superar grandes expectativas. Afinal, é um filme ciente de sua condição de mera continuação caça-níquel, que sabe que ninguém vai aos cinemas esperando encontrar nele o filme do mês. Tendo em vista isto, bastava a Dean Parisot seguir algumas fórmulas vagabundas do cinema pipoca recente para elevar RED 2 como um filme ao menos simpático, ou satisfatório. Mas até nisso ele escorrega, primeiramente por partir do mesmo erro crítico do primeiro capítulo: não se definir nem como uma comédia, nem como um filme de ação. Ele tenta mesclar os dois, como se houvesse uma suposta linha tênue entre um gênero e outro, quando na verdade há um abismo. O mote que na teoria propulsiona a trama de RED 2 vem da hipótese de arrancar risadas do público ao colocar um grupo de agentes aposentados, já na terceira idade, em situações extremas de pura ação mentirosa, com direito a explosões, tiroteios e espionagem. Para essa ideia ganhar um rendimento eficiente, o óbvio é torná-lo um filme de comédia ou de ação, e não é isso que nem o antigo diretor como Parisot fazem.

Por não saber que caminho seguir com segurança, RED 2 tenta percorrer cambaleante e hesitante por dois rumos. Ele pode até enganar quando tenta partir para a ação, dopando o público com infindáveis explosões e correria pra lá e pra cá, auxiliado por uma trilha sonora frenética que dá a sensação de que estamos diante de algo dinâmico e muito empolgante, mas quando tenta arrancar alguma risada, derrapa feio. Nada além de piadinhas rápidas, frases de efeito, e sacadas esporádicas tentando temperar uma trama que não consegue se desenrolar por meio de uma narrativa, por mais simples que seja. Parisot vai levando nas coxas todo o trabalho, sem nenhum senso de direção, escondendo a total falta de narrativa por meio de infindáveis momentos catárticos, para chegar ao final sem ter o que apresentar como clímax, já que toda a barulheira já foi gasta desde o início. 

Na dúvida, ele joga a responsabilidade para o elenco de feras, que agora conta com a ilustre participação de Anthony Hopkins, que está ali claramente com a intenção de fazer dinheiro. Mary-Louise Parker continua na função de gerar alguma identificação com a platéia, embora esteja menos inútil que no outro filme, enquanto Bruce Willis reinterpreta o mesmo papel de toda a sua vida, do brucutu mercenário com certo charme e bom humor. John Malkovich e Helen Mirren continuam como o elo mais forte da corrente, embora isso não seja grande mérito para nenhum dos dois. A trama envolvendo dispositivos nucleares que misteriosamente desaparecem traz consigo o incômodo cheiro de mofo, e para nós brasileiros há sempre os subtítulos imbecis como toque especial (se houver uma parte III, talvez venha algo do tipo “ainda aposentados, e mais perigosos do que nunca”). 

Se por um lado escalar um elenco desse porte pode parecer uma grande vantagem para a divulgação de RED 2, por outro pode acabar virando um tiro que sai pela culatra. Afinal, quanto maior for o peso do elenco, maior é a decepção de ver que nome algum ali conseguiu salvar a pátria. Da mesma forma, quando se erra a mão na comédia, o erro também soa gritante para o público. E se valer apenas pra ver ação inconseqüente e ininterrupta comandada por atores populares, melhor poupar o dinheiro do cinema e sair para alugar algo como Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012), só para citar um exemplo mais recente.

Comentários (41)

Victor Ramos | quinta-feira, 08 de Agosto de 2013 - 16:19

E Os Mercenários tem muito da pegada do Stallone, tanto quanto Rambo IV, talvez. É no segundo que ele abre mão da cadeira de diretor e fica apenas com a produção e o elenco.

Vinícius Aranha | quinta-feira, 08 de Agosto de 2013 - 16:32

Por isso acho Os Mercenários 2 inferior ao primeiro, apesar de ser ótimo à sua maneira. No primeiro o resgate do gênero era mais pessoal, ligado às ambições sinceras do Stallone autor, enquanto o 2 é o verdadeiro exercício de nostalgia oitentista.

Renato Coelho | terça-feira, 19 de Novembro de 2013 - 22:08

Crítica perfeita. RED é mais uma tentativa pífia de ganhar dinheiro.

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