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Críticas

Cineplayers

Um exemplar menor da filmografia de animação japonesa, ainda assim possui muito charme e excelentes qualidades.

7,0

Estimuladas pelo sucesso cada vez mais evidente de animações pouco convencionais, como as que vêm de estúdios pouco familiares para os ocidentais, as distribuidoras brasileiras começam, finalmente, a trazer ao mercado títulos até então desconhecidos no país. Catapultados pelo êxito indiscutível alcançado por A Viagem de Chihiro, é natural que alguns desses trabalhos sejam lançados sob a fama de Hayao Miyazaki, embora tenham com o diretor japonês nenhuma relação, a não ser pertencerem ao mesmo estúdio.

Produzido sob a tutela de Hiroyuki Morita, O Reino dos Gatos não é um dos principais títulos do Studio Ghibli, ainda mais por ter seu roteiro derivado de um filme mais antigo do estúdio, Mimi no Sumaseba (sem traduções oficiais). Mesmo assim, em sua humildade de produção secundária, O Reino dos Gatos mantém-se firme e resguarda virtudes típicas das outras animações do estúdio.

Desenvolvido a partir de uma premissa simples, e tomando rumos desembaraçados para a resolução do enredo, o filme apóia-se na personagem Haru (voz de Chizuru Ikewaki), uma colegial como qualquer outra. Certo dia, voltando da escola, Haru avista um gato peculiar, que leva consigo, na boca, um pequeno embrulho. Distraído, o gato principia a travessia de uma rua movimentada, mas se atrapalha com o embrulho e não percebe que um automóvel vem à sua direção. Haru corre para salvá-lo, e o faz com êxito. No dia seguinte, fatos estranhos somam-se à rotina da garota, em decorrência da vida que salvou.

O gato que Haru socorreu era, na verdade, príncipe do Reino dos Gatos, e, como agradecimento, o rei vai pessoalmente cumprimentá-la, além de explicitar seus desejos de que Haru vá ao Reino e se case com seu filho. A princípio empolgada com a idéia, Haru logo percebe que o convite é absurdo – afinal, ela é um ser humano, e não um felino. Para fugir da comitiva que a levará ao Reino, a garota pede ajuda a outros gatos, o que apenas aumenta a confusão.

Enquanto o resto do enredo intimida-se numa visita a um universo paralelo – o reino do título – a direção e a produção técnica vêm confirmar a simplicidade da película, mas sem comprometer sua qualidade. Com uma história sem maiores compromissos, que se resolve por si mesma, o filme poderia ter gastado inúmeros recursos com aperfeiçoamentos visuais – e não é o que ocorre. O estúdio opta pela arte simples e pelo traço sincero, talvez para aplicar à película o máximo de transparência, o que vêm perdendo as mais modernas animações ocidentais.

Comparado a Hayao Miyazaki, que desde 1997 já definia seu estilo com traços marcantes e um visual crescentemente arrebatador, Hiroyuki Morita resguarda-se na honestidade do desenho simples e no colorido pastel, que nada remonta às cores febris dos pincéis de Miyazaki. Com uma equipe artística pouco preocupada com adornos excessivos – mas nunca relapsa –, O Reino dos Gatos, quanto à estética, nada tem de impressionante, o que reforça o sentido aonde é direcionado: o público mais jovem.

O aspecto mais valoroso da arte de Morita é a escolha por Yuji Nomi na composição da trilha sonora, que, responsável por melodias maravilhosamente orquestradas e a costumeira peça cantada que conclui o filme, enquadra-se no escalão dos compositores mais renomados do estúdio, como Joe Hisaishi (A Viagem de Chihiro, O Castelo Animado e Meu Vizinho Totoro).

O Reino dos Gatos é, apesar de tudo, um filme que será visto mais por adultos que por crianças. Ainda assim, demonstra inegavelmente uma inclinação para o que há de mais lúdico nas produções infantis – é claro, nunca se perdendo em piadas recorrentes ou momentos vazios, porque Studio Ghibli não é de se entregar a filmes quaisquer, por mais infantis que sejam.

Comentários (1)

Gian Luca | domingo, 23 de Agosto de 2015 - 17:34

Boa crítica. O filme tem realmente uma simplicidade que fascina.

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