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Críticas

Cineplayers

Um pequeno pretexto, um grande filme.

8,0
É claro que toda essa expansão do universo Star Wars que a Disney vem fazendo é um movimento muito menos romântico do que o sub-título de "Rogue One: A Star Wars Story" sugere. Depois do investimento bilionário para adquirir a franquia, foram anunciados uma nova trilogia e filmes spin-offs que se alternarão em anos de lançamentos com esses episódios principais, o que deixou uma pequena sensação de estarmos tendo uma overdose de Star Wars. Mas não é que os resultados em tela têm se mostrado muito melhores do que esperávamos?

Rogue One nasceu das entrelinhas do ingênuo texto que abriria toda a série, em 1977: os rebeldes haviam roubado os planos de engenharia de uma super arma, hoje mundialmente famosa como Estrela da Morte, e com eles poderiam destruí-la e trazer a paz para a galáxia novamente, ameaçada pelo Império.

O gap não apenas tecnológico como financeiro entre as obras é óbvio, com um Star Wars original enxuto, direto ao ponto, de inocente aventura clássica vestida de sabre de luz e naves pouco cientificamente empíricas, e um Rogue One muito mais evoluído, de lentes ágeis, ação convincente e câmeras que agora podem se afastar muito mais, flutuando por lasers e explosões e dando muito mais dimensão a tudo - a Estrela da Morte mesmo, em ação, é mais bruta do que imaginávamos. Não muito atrás, o som também usou o tempo - e a tecnologia - a seu favor: os walkers AT-AT nunca foram tão pesados e tão imponentes - nem tão facilmente derrubados, mas nem tudo é perfeito.

É normal achar o início um pouco desinteressante e truncado: conhecemos o universo, mas não o particular daqueles novos personagens, e isso talvez tenha sido o maior desafio do roteiro. Ligar os pontos era fácil, afinal, é um filme de passagem entre dois momentos já muito bem definidos, mas os rebeldes, até então sem nomes e sem rostos, precisavam de motivações e da empatia do público para o filme funcionar. Se há falhas, é a falta de tempo para desenvolver tão bem todos os personagens, já que todos eles são novos, não contam com carinho prévio da nostalgia e devem ser apresentados de forma satisfatória, o que não acontece homogeneamente.

Jyn Erso (Felicity Jones, linda e competente), novamente uma protagonista feminina forte, viu seu pai ser levado pelo Império como o principal engenheiro daquela que viria ser a Estrela da Morte. Por muito tempo afastada desse ambiente - e até conformada com a presença do Império -, acaba se aproximando dos Rebeldes quando vê a possibilidade de se encontrar novamente com ele. Não temos os personagens clássicos da franquia, mas mais uma vez o laço familiar característico da série está presente servindo como estímulo para o início de algo muito maior.

Mas ela é apenas o centro de uma nova gama de personagens que rapidamente aparecem e vão de encontro com um fim já previsível, afinal, estamos falando de um prequel. E no meio de rebeldes que sujam as mãos para conseguir seus objetivos e de um império politicamente dividido pelo poder - algo novo na série, a política desenvolvida de forma interessante em lados não tão antagônicos - temos apenas uma jovem que quer reencontrar com seu único vínculo afetivo ainda vivo e só isso, nada mais nobre ou engrandecedor além. 

Chirrut Îmwe (Donnie Yen) é um personagem interessante por trazer a Rogue One a mitologia Jedi em uma época onde, cronologicamente falando, isso ainda era apenas um mito - e o fato de ser cego acrescenta muito a sua personalidade, visto que a primeira vez que Luke usou a força estava com uma venda nos olhos. Já o robô imperial reprogramado K-2SO (dublado por Alan Tudyk) comprova de vez que a Disney está em uma fase inspirada em criar novos andróides, dessa vez um ácido e extremamente sincero, e também por isso muito engraçado, ainda que seja questionável o fato dele se originar do adversário e nunca mais termos visto nenhum em ação durante a série (que foi feita antes, obviamente, mas o fato de ser um prequel dá oportunidade a esse tipo de questionamento lógico; apenas bobagem minha compartilhada com vocês).

Mas o grande mérito de Rogue One é, sem dúvidas, se encaixar tão bem ao cânon da série que dá todo um novo ar ao já conhecido e revisitado Episódio IV, ainda que o respeitando e homenageando em diversos momentos feitos especificamente para os fãs reconhecerem (holograma, aparições, naves conhecidas...). A luta, muito mais densa e visceral do que estamos acostumados (em um dos momentos, o cenário lembra o Vietnã!), concede peso à missão tanto dos rebeldes daqui quanto os de Leia e companhia, uma vez que agora somos próximos aos 'rebeldes que roubaram planos imperiais'. Até mesmo pequenos furos de roteiro do original, como a falha bizarra que pode destruir a arma, aqui é justificada. Hoje, é impossível pensar no Episódio IV sem considerar Rogue One, e isso é um baita elogio.

Se tematicamente o filme se torna tão importante assim, dá para dizer o mesmo de seu tom artístico, inspiradíssimo: há pelo menos três ou quatro cenas já emblemáticas e inesquecíveis à saga. Dá até para ser um pouco mais ousado: aqui temos a melhor cena de Darth Vader de toda a franquia Star Wars. Como diz um personagem em determinado momento, agora há esperança. O futuro é promissor novamente para um balde de pipoca no espaço.

Comentários (7)

Alexandre Carlos Aguiar | sexta-feira, 23 de Dezembro de 2016 - 21:46

Em 1977, fizemos filas imensas a contornar quarteirões para assistir ao começo desta saga. No primeiro filme, a gente saiu de olhos vidrados e embasbacados da sessão. Perguntávamos: o que foi que eles fizeram? Então vieram todos os outros, nos tornamos fãs, assumimos ser jedianos e trouxemos a Força até nos momentos mais comuns de nossas vidas. Mas aquela estupefação nunca mais existiu. Ao sair do cinema após Rogue One, sentimos que alguma coisa diferente foi criada. Tem erros, discute-se alguns furos do roteiro? Há o que melhorar aqui e ali? Claro, tem que ter, até para haver discussão. Mas, não se pode duvidar do tamanho da potência deste filme para anabolizar a franquia. Poderoso. Fantástico. Aplaudi de pé quando a sessão acabou. E rolou uma lagrimazinha.

Alexandre Koball | terça-feira, 28 de Março de 2017 - 07:53

Vi ontem, finalmente, e impressiona como ficou ruim. O CGi dos personagens originais distrai demais, os novos personagens são fracos (Felicity Jones, péssima escolha, sem carisma algum para alguém que deveria despertar empatia), as piadas forçadas em péssimos momentos (ao estilo Marvel), etc.

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