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Críticas

Cineplayers

Divertidíssimo filme politicamente incorreto que engrossa a lista de belas comédias lançadas por Hollywood nos últimos anos.

7,0

Não me recordo, nas últimas duas décadas, de um momento tão produtivo para a comédia comercial norte-americana quanto o atual. Após o lançamento de O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos, quando dois dos principais cômicos da nova geração, Steve Carell e Seth Rogen, finalmente estouraram para o grande público junto daquele que é conhecido como o clã Apatow, Hollywood vem emplacando uma série de belos filmes cômicos que parece não ter mais fim. Superbad - É Hoje, Trovão Tropical, Queime Depois de Ler e Segurando as Pontas são alguns exemplos de filmes que teriam presença garantida em qualquer compilação de melhores trabalhos contemporâneos do gênero, lista que ganha um novo integrante com o lançamento deste novo filme de Todd Phillips.

Phillips passou os anos 2000 inteiros fazendo comédias, mas nenhuma com força cômica suficiente para transgredir seu pesadíssimo estilo narrativo. Se Caindo na Estrada e Dias Incríveis realmente possuíam alguns bons momentos de inspiração, o timing cômico do diretor terminava por frear a dinâmica dos filmes e provocar aquela habitual sensação de chateação transmitida por grande parte das comédias ruins – que assim como em todo gênero são lançadas aos montes, obviamente. Já ao final da década, porém, Phillips faria deste The Hangover (a tradução nacional é de cortar os pulsos e pedir por álcool) sua redenção, bem como a surpresa da temporada de verão dos cinemas norte-americanos, mantendo-se por duas semanas no topo das bilheterias.

E não é que o filme merece mesmo todo o alarde? Assim como seus trabalhos anteriores, The Hangover é besteirol puro; uma espécie de Cara, Cadê Meu Carro? com temática adulta em Las Vegas – mas com uma habilidade em conectar piadas e potencializar de maneira sempre surpreendente a bola de neve em que os personagens se inserem jamais vista em sua carreira. O ponto de partida é a despedida de solteiro de um dos três integrantes de um grupo fechado de amigos, que decide partir junto deles para a “cidade do pecado” a fim de aproveitar a noite derradeira de sua vida de solteiro. Juntam-se aos três o irmão da noiva, um daqueles personagens que precisam existir em qualquer filme de humor (o gordinho bobão e desajustado), e a Mercedes de estimação do sogrão, e a bagunça está armada.

Se Beber, Não Case começa ganhando pontos justamente pela forma como aborda esta premissa pouco inventiva: ao invés da bebedeira e da farra da noitada, o filme se concentra, como já antecipa o título, na ressaca do dia seguinte. A introdução da problemática é uma das dezenas de grandes sacadas: depois de um brinde no telhado do Caesar’s Palace, hotel onde se instalam, a câmera arremessa o foco dos atores para a cidade, cheia de luzes e neóns. No plano seguinte, estamos de volta à suíte do hotel, plenamente bagunçada, com resquícios de festa por todos os lados, dois dos personagens dormindo ao chão, uma galinha, um tigre e até mesmo um bebê dentro do  armário.

Depois de se sentirem estranhos o suficiente com a situação e darem conta de que não lembram de absolutamente nada da noite anterior, os amigos do noivo descobrem ainda que o próprio anfitrião da festa sumiu. É a partir desta bizarra coleção de objetos misteriosos que o grupo precisa investigar o que realmente aconteceu durante a festa, para encontrar o noivo a tempo de não arruinar casamento. Procurando conectar uma pista a outra, aos poucos eles vão preenchendo lacunas e recebendo novas evidencias de seu roteiro da noite passada, e da mesma forma como no supracitado Cara, Cadê Meu Carro?, porém, logicamente, com um humor muito menos zoado e mais próximo à comédia de costumes, vão encontrando tipos bizarros e entrando em novas confusões.

Phillips chega em The Hangover ao limite do humor politicamente incorreto – o que em alguns momentos chega a ser surpreendente num filme de tamanho sucesso comercial nos dias de hoje, já que a censura e o falso moralismo estão mais do que nunca em evidência. Há uma variada paleta de piadas que poderiam tranquilamente ser motivo de birra para quem assiste a comédias com olhares mais conservadores: mulheres, negros, homossexuais, enfim, há um grande desfile de estereótipos sendo desenvolvidos e trabalhados em prol do humor, mas a maneira como Phillips conecta todas estas situações e a inventividade de grande parte das cenas deveria ser motivo suficiente para deixar de lado estes preconceitos (afinal, não deixa de ser um) e se divertir com a jornada inusitada na qual mergulham os personagens.

Jornada que, como diversas outras comédias atuais, tem em seu cerne um verdadeiro discurso de adoração à amizade e a este conceito de buddies, de melhores amigos, o que faz deste filme, assim como outros citados anteriormente (evidente que neste sentido Superbad continua sendo o filme a ser batido já que, acima de tudo, é um dos mais sinceros filmes sobre amizade de que eu me recordo), um riquíssimo material para ser visto em grupo, em reuniões de amigos. Não que sem este discurso The Hangover não fosse um filme ideal para ver numa noite de curtição, afinal, um filme que traz ninguém mais ninguém menos que Mike Tyson cantando Phil Collins antes de sentar a porrada nos homens que seqüestraram seu tigre de estimação enquanto invadiam sua mansão chapados durante a madrugada só pode ser o filme perfeito para este tipo de situação.

Comentários (1)

Liliane Coelho | sexta-feira, 14 de Outubro de 2011 - 11:24

Será que sou a única que não achou tanta graça assim nesse filme? Ri pouquíssimas vezes. Horrible Bosses é muito melhor.

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