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Críticas

Cineplayers

A história é praticamente a mesma do filme original, mas também é quase tão divertida quanto.

7,5

Em time que está ganhando não se mexe. Essa parece ter sido a máxima adotada pelo diretor Todd Phillips e seus roteiristas na hora de desenvolver a história de Se Beber, Não Case 2 (The Hangover 2, 2011), sequência do surpreendente sucesso de dois anos atrás. Na hilária produção original, que fez quase 300 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos, um grupo de amigos acorda em um hotel de Las Vegas após uma despedida de solteiro, sem qualquer lembrança da noite anterior. No quarto, encontram nada menos que um tigre, um bebê e uma galinha, ao mesmo tempo em que se dão conta do desaparecimento do noivo. O filme acompanhava as investigações do trio enquanto tentavam juntar as peças para entender o que havia ocorrido, em uma sequência de situações inusitadas e extremamente engraçadas, conduzidas no limite do politicamente correto pelo cineasta e sustentadas por atores em ótimos desempenhos, capazes de construir personagens carismáticos com o qual a plateia conseguia se identificar.

Pois bem. Troque Las Vegas pela Tailândia, substitua o tigre por um macaco e coloque o irmão da noiva no lugar do noivo desaparecido e eis a trama da continuação. Phillips, Craig Mazin e Scot Armstrong não perderam muito tempo pensando em um novo enredo e nem parece que tiveram como objetivo fazer a história seguir adiante. Ainda que isso demonstre uma certa preguiça por parte do diretor e dos roteiristas, que optaram pelo caminho mais seguro, também não deixa de ser uma solução eficiente. Afinal, alguém realmente queria assistir Se Beber, Não Case 2 esperando algo além do grupo novamente tentando recriar os passos de uma noitada maluca? Claro que a repetição de algumas piadas, como a de um personagem saltando de dentro de um espaço fechado, o resgate da pessoa errada e o trio sendo perseguido por criminosos, poderia ter sido evitada, mas, na maior parte do tempo, o filme consegue criar gags novas, garantindo as risadas – aliás, elas ocorrem até mesmo nessas “reedições” do que se viu na obra anterior.

Muito disso se deve ao fato de Phillips, mais uma vez, fugir do tom de assepsia que impera na imensa maioria das comédias feitas hoje em dia, inclusive naquelas de Judd Apatow, cineasta/produtor que é considerado o “mago” do gênero atualmente. Em Se Beber, Não Case 2, assim como no primeiro, o humor é quase ofensivo, com piadas sobre racismo, sexo e até cenas de nudez que não são comumente vistas no cinema norte-americano. Na realidade, o filme lembra os primeiros trabalhos dos irmãos Peter e Bobby Farrelly, como Débi e Lóide (Dumb and Dumber, 1994) e Quem Vai Ficar com Mary? (There’s Something About Mary, 1997), apostando em personagens carismáticos às voltas com situações absurdas, que beiram – e às vezes até superam – os limites do escatológico. No entanto, estes momentos não são gratuitos, surgindo de forma orgânica à trama e aos acontecimentos. É exatamente dessa dessa capacidade de convencer a plateia de que os acontecimentos incríveis realmente poderiam ocorrer que vêm as risadas.

E este é, em essência, o segredo do sucesso de Se Beber, Não Case (The Hangover, 2009) e desta continuação. Por não se tratar de um besteirol aos moldes de Corra que a Polícia Vem Aí! (The Naked Gun: From the Files of Police Squad!, 1988), a história e os personagens são fundamentais, transmitindo o grau de veracidade que estabelece o contraste perfeito entre as situações absurdas vividas pelos protagonistas, o que faz com que as cenas se tornem realmente engraçadas. Em relação ao enredo, é divertido acompanhar o trio buscando reconstituir a noite anterior – e quem já acordou como eles, sem lembrar de muita coisa de uma noite de excessos, certamente tem tudo para se identificar –, aprendendo, pouco a pouco, tudo o que se passou. De certa forma, tirem o lado cômico da situação e tanto este filme quanto o primeiro possuem uma estrutura de filme policial, com os personagens saindo atrás de pistas com o objetivo de tentar entender o acontecido. Esta caça atrás das evidências pode não ser tão atraente quanto da primeira vez, mas é igualmente um bom gancho para prender a atenção da plateia, que se mantém curiosa o tempo inteiro para descobrir os fatos, o que somente ocorre junto com somente à medida que os personagens.

E Phil, Alan e Stu, o trio de protagonistas, novamente consegue estabelecer uma boa identificação com o espectador. Obviamente, não são personagens construídos com profundidade ou complexidade, mas o roteiro e os atores oferecem uma quantidade suficiente de personalidade para que eles se tornem interessantes. Bradley Cooper, por exemplo, novamente faz de Phil o centro de razão do grupo, aquele que tenta buscar soluções e compreender o que está acontecendo. A sua contrapartida é Alan, novamente interpretado pelo hilário Zach Galifianakis (que se tornou um dos grandes nomes da comédia atual após o primeiro filme), o elemento do grupo que parece sem noção sobre qualquer assunto e é responsável por alguns dos grandes momentos da produção. Mas o destaque dessa vez é Ed Helms, no papel de Stu: mesmo sendo o ator cuja carreira menos decolou após a obra original, Helms demonstra mais uma vez ser um excelente comediante, com timing impecável – é impossível segurar a gargalhada diante de sua expressão e seus ataques de desespero após uma certa “revelação” em um bordel, na que talvez seja a cena mais engraçada de Se Beber, Não Case 2.

Como se não bastassem estas divertidas situações, uma razoável parte dos diálogos também se revela inspirada. É o caso, por exemplo, da confusão que Alan faz com as palavras “demônio” e “sêmen” (claro que a fala somente se justifica na língua original) ou a conversa nonsense que o mesmo personagem tem com Stu sobre ursos:
 
- Meu tio uma vez viu um urso polar albino.
- Como ele sabia que era albino se todos os ursos polares são brancos?
- Esse era preto.

São momentos como este que fazem de Se Beber, Não Case 2 uma comédia acima da média. Há instantes de apelação, nos quais as risadas acabam não vindo (explorar um animal para fazer rir sempre demonstra um desespero por parte do cineasta), porém, na maior parte das vezes, Se Beber, Não Case se revela quase tão engraçado quanto o seu antecessor. A trama é quase igual, não tem a mesma originalidade e nem o mesmo grau de surpresa, mas quem pensa nisso quando está rindo sem parar?

Que venha a nova ressaca.

Comentários (1)

Robson Nakazato | sábado, 02 de Março de 2013 - 15:45

Vale lembrar que filme possui 2 atores filhos de grandes cineastas.Manson Lee,o filho de Ang;e Nick Cassavetes,filho de John e da atriz Gena Rowlands.

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