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Senhor dos Anéis: As Duas Torres, O

(Lord of the Rings: The Two Towers, The, 2002)
8,3
Média
1400 votos
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Críticas

Cineplayers

O segundo filme da trilogia de Peter Jackson consegue manter a série com o status de obra-prima.

9,0

Não há necessidade de apresentações. Nessa altura, todo mundo que conhece um mínimo de cinema já sabe o que é e sobre o que é O Senhor dos Anéis: As Duas Torres. Portanto, passemos por cima de introduções e sinopses, indo direto ao ponto. Também saliento que aqui não serão analisados os pontos do filme que divergem da história do livro. O filme será analisado pelo que ele é, pois acima de tudo é a visão de Peter Jackson sobre a obra de Tolkien que está em foco.
 
As Duas Torres é, primeiramente, um filme bem diferente do original. O clima fantástico é deixado um pouco de lado por um clima mais realista. A ação toma conta do filme, e os personagens-chave são diferentes. Agora, os hobbits aparecem menos tempo na tela, e são os homens os principais protagonistas. Porém a sensação de grandeza épica não só continua, como se vê aumentada neste novo filme. É tudo maior, melhor, e mais divertido para o espectador. Temos uma das melhores cenas de ação já criadas para o cinema, a esperada batalha entre humanos e as forças de Saruman combatendo no Abismo de Helm. E ela é tudo que foi prometido... precisa dizer mais?
 
Todos os personagens estão excelentemente interpretados. Desde Gríma (Brad Dourif), até a bela Éowyn, interpretada por Miranda Otto, todos aparecem caracterizados na tela como o mais exigente fã de Tolkien gostaria que aparecessem. As Duas Torres também marca a entrada da poesia de Tolkien na trilogia, praticamente ignorada no primeiro filme. Sam, em seu monólogo final, recitando um belíssimo trecho do livro, emociona com sua mensagem de coragem, que dá forças a Frodo continuar na sua jornada para a destruição do Um Anel.
 
Tecnicamente falando, Senhor dos Anéis eleva novamente o limite em termos de efeitos especiais, e o que é melhor: sempre em favor da história. O número de efeitos é muito maior do que no filme original, porque a história assim exige. E eles não decepcionam em momento algum. O destaque, é claro, é a criatura Gollum, que, embora ainda não seja perfeita (ainda dá pra perceber que é criada no computador), está à frente de recentes “invenções” incríveis da tecnologia, como Yoda de Star Wars e também de todos os humanos de Final Fantasy. A movimentação dele é incrivelmente realista, assim como a interação com os ambientes e objetos (muitas vezes um problema na criação de personagens digitais). Tudo isso, claro, graças ao fato do ator Andy Serkins ter dado vida ao personagem gravando as cenas juntamente com os atores, para depois ser substituído pela versão digital.
 
Além do departamento de efeitos especiais ter se mostrado extremamente competente, todos os outros aspectos técnicos do filme estão incríveis. As novas locações são magníficas (sempre ajudadas pela beleza natural que as cerca), o figurino é belíssimo, e a maquiagem melhorou ainda mais. O Rei Théoden envelhecido por feitiço é um exemplo disso.
 
A trilha sonora de Howard Shore continua tão boa quanto no capítulo inicial. Acho que o melhor que uma trilha sonora pode fazer para um filme como este é deixá-lo melhor, mais emocionante, intenso. A música não pode jamais se sobressair às imagens (sendo mais notável que a história), porém também não pode ficar “invisível” em relação a elas (afinal, cinema é também som). Música e imagem devem se completar, em igualdade de importância, acrescentando energia à história. Howard Shore fez uma das melhores trilhas sonoras dos últimos anos, e em As Duas Torres ela continua tão boa quanto no filme original, ganhador do Oscar nessa categoria. Utilizando temas novos, como o de Gollum, com temas já conhecidos do primeiro filme, a trilha de As Duas Torres é daquelas para se ter em casa, colocar pra escutar, fechar os olhos, e relembrar os grandes momentos do filme.
 
Poucos filmes do gênero têm um número tão grande de cenas tão intensas, divertidas, ou simplesmente plausíveis aos olhos como tem As Duas Torres. Algumas são longas seqüências de ação, como a batalha do Abismo de Helm; outras, como o monólogo final de Sam sobre o porquê de toda a jornada, são emocionantes ao extremo; outras, fazem bem para os olhos, como as imensas e belíssimas paisagens; outras, são simplesmente utópicas (antes), como a cena em que Smeágol trava um combate mental com Gollum. Certamente, As Duas Torres é o filme com mais momentos “antes nunca imaginados” que já foi lançado. Por isso, o filme será lembrado por décadas e décadas, assim como foram outros tantos (e ainda são), como Ben-Hur e Star Wars. E isso não é pouco...
 
Há pontos fracos? Claro, até hoje não conheço um filme que não os tenha. As pessoas não iniciadas na obra de Tolkien (ou quem já a leu há muito tempo) certamente precisarão ver o filme pelo menos duas vezes para compreenderem todos os pormenores da história. Outro ponto fraco é a presença de algumas cenas, como todos os flashbacks mostrando o relacionamente entre Arwen e Aragorn, que deixam o filme com o ritmo um pouco caído, porém jamais chegando a ter o ritmo lento do primeiro filme. Nem todos os efeitos especiais são perfeitos, algumas cenas ainda se mostram falsas, e vê-se que há ainda inúmeros passos na chegada da perfeição digital (porém, estes continuam sendo os efeitos mais incríveis já vistos em um filme).
 
O grande trunfo do filme, de maneira geral, é fazer com que o espectador seja transportado para uma época distante, porém de fácil reconhecimento pelo tom de realismo dado à história e, durante quase três horas, acompanhe intensamente a vida de todo um mundo passar por inúmeras transformações, através de seus personagens: ódio, amor, esperança, desespero, alegria, tristeza, devoção, incredulidade, angústia, paciência e, para o espectador, divertimento, como poucas vezes se viu antes no cinema. O melhor disso tudo é saber que o melhor ainda está por vir...
 
Atualização - 04/01/2004
As Duas Torres - Versão Estendida

Depois de muita reclamação, a Warner resolveu lançar no país, nos cinemas (porque em DVD ainda está difícil de acontecer) a versão estendida de As Duas Torres, com exatos 43 minutos de cenas extras. Esta versão, que certamente será reconhecida como a "definitiva" ou a "ideal" no futuro (embora o diretor Peter Jackson sempre diz que prefere as versões originais) serve para desenvolver muito mais os personagens, trazendo-os para mais perto do que são no livro, e justificando algumas ações duvidosas na versão original.

Todas as cenas com Bárbarvore, por exemplo, ganham novo sentido e dimensão. Agora os hobbits Merry e Pippin não mais apenas andam o tempo todo de lá pra cá na floresta de Fangorn. A parte do livro onde eles dormem na floresta, descobrindo logo em seguida que a água de lá os torna mais altos, está muito bem inserida, e há até mesma uma pequena homenagem a Tom Bombadil, o personagem mais misterioso de toda a trilogia nos livros, quando Barbárvore liberta os dois hobbits das árvores da floresta. Segundo Walsh (roteirista e esposa de Jackson), como seria complicado colocar Bombadil em Sociedade do Anel, pois confundiria o público que não leu o livro, ela e o marido resolveram criar essa pequena cena. De fato, ficou sutil e muito bem realizada.

Agora, a melhor adição nesta nova versão é a cena, em forma de flashback, envolvendo Faramir, Boromir e seu pai, o regente de Gondor, Denethor. A cena é fundamental para entendermos as ações de Faramir na versão original (uma das principais reclamações para com o personagem). Com esta cena, poderosa e incrivelmente bem interpretada, Jackson dá uma profundidade enorme aos personagens envolvidos, destacando o preconceito que Faramir sofre de seu próprio pai. O resultado: ele se sente obrigado a se mostrar útil ao pai, e tenta tomar o Um Anel de Frodo.

Ainda há mais algumas, ou mesmo várias, cenas menores e boas. Algumas são inúteis e só estão lá para divertir (novas piadas com o anão Gimli, um dos pontos negativos do filme, em minha opinião), enquanto outras destacam bem a árdua jornada dos personagens, como uma nova conversa entre Frodo e Gollum, que torna este último um personagem ainda mais sofrido durante o filme, justificando a pena que Frodo sente dele. Enfim, o que já era maravilhoso, ficou ainda melhor. Logicamente, o filme tem um ritmo um pouco mais lento que a versão original, então se essa era uma das reclamações suas, não recomendo assistir esta nova versão.

Mesmo com a melhora dos personagens, o filme ainda não é perfeito (e repito: não existe filme perfeito). Fora o problema do ritmo, e sem tocar no assunto da adaptação em alguns pontos bem divergente do livro (fato que nunca me incomodou), o roteiro força talvez demais nas piadas do anão, em momentos bem inapropriados e alguns efeitos especiais não justificam o Oscar ganho nessa categoria pelo filme (embora no geral seja um filme impressionante nesse requisito, e as novas cenas estão cheias de novos efeitos também).

As Duas Torres - Um ano depois

Passado um ano desde que vi o filme pela primeira vez (quando logo em seguida escrevi a primeira parte desta crítica), revi o filme outras cinco vezes. Este é o filme que mais revi, porém a versão estendida apenas foi uma vez. E posso garantir que tudo que disse depois da primeira vez permanece. É um filme visualmente espetacular, com interpretações fenomenais, levando-se em conta o gênero (onde sempre há uma linha muito fina entre o crível e o risível) e direção majestosa.

Os detalhes do filme, que certamente escapam à primeira vista, por serem tantos, agora já estão bem claros. Cada nova vez que assisto ao filme, novos adereços dos sets são percebidos, diálogos adquirem um efeito diferente, a trilha sonora torna-se mais e mais adequada (falando nela, para os 43 minutos de cenas estendidas, Howard Shore gravou várias trilhas novas), enfim, o filme confirma-se como obra-prima cada vez mais. Peter Jackson sabia que seu desafio era imenso. O filme original rendeu aproximadamente 868 milhões de dólares mundialmente. Milhões de pessoas tornaram-se fã da obra, e uma expectativa totalmente nova cercou-se em cima da seqüência.

Você deve saber por si mesmo que a maioria das seqüências ou continuações, no cinema, simplesmente não corresponde à obra original. As Duas Torres é uma das poucas exceções, pois para muitos (eu incluso) este filme é melhor que o original. Por outro lado, chamar As Duas Torres de uma seqüência também não é correto. É a mesma história, continuação direta dos fatos narrados em A Sociedade do Anel. Esta é sim a segunda parte de uma história. Nem mais, nem menos. O resultado foi uma bilheteria mundial de 922 milhões de dólares (6% maior que o filme original), mostrando que o filme adquiriu milhares de novos fãs ao redor do mundo.

Mas deixarei agora números e estatísticas de lado e falarei um pouco mais do filme em si. O diretor, acostumado a fazer filmes pequenos, boa parte deles pertencentes ao famoso gênero trash, é o principal responsável por esse imenso sucesso (ao lado, obviamente, de J.R.R. Tolkien, quem escreveu essas maravilhosas histórias). Mesmo tendo de lidar com um orçamento de centenas de milhões, uma responsabilidade enorme, Jackson não abandonou totalmente seu espírito independente. Ele pode ser notado em alguns momentos de As Duas Torres. Particularmente no modo como os "bandidos", principalmente os Uruk-Hai, são tratados. As ações deles são bobas, eles são estúpidos e suas falas são risíveis ("- Rapazes, a carne voltou ao menu!" é um bom exemplo disso). Certamente há muito mais de Jackson do que de Tolkien nisso tudo.

Muitos recriminam essa forma de mostrar os maus da história, dizendo que é preconceito e racismo por parte do diretor. Eles morrem fácil, cometem ações idiotas, deixando-se morrer facilmente, enfim, além de não terem personalidade, são tratados como meros clichês ambulantes. Isso é fato! Mas não deve-se negar que o texto original de Tolkien não apresentava um vilão em carne-e-osso, como Darth Vader, de Star Wars, por exemplo, ou o alien, o exterminador, etc. Jackson soube lidar muito bem com isso, criando essa atmosfera trash para os vilões (enquanto eventualmente vemos o olho de Sauron na torre de Barad-Dur), focando-se 99% do tempo na beleza e habilidade dos mocinhos. É um risco que o roteiro tomou, e que não me incomoda, mas certamente irrita muitas pessoas.
 
Conclusão

O papel de ser o filme do meio de uma trilogia que para muitos será a melhor de todos os tempos (e crescerá entre os descrentes com o passar dos anos) tinha tudo pra ser complicado. Afinal, é um filme sem início e sem final. Poderia ter ficado sem identidade nenhuma. Mas o diretor, roteiristas, a equipe de atores, e todo o resto do elenco (assista o documentário que vem no DVD para ver como todo mundo se divertiu nas gravações) fizeram um trabalho não menor que incrível. O filme tem sim uma identidade própria, com cenas inesquecíveis, tanto os momentos gigantescos - a batalha do Abismo de Helm - quanto os momentos ínfimos e singelos - a canção de Eowyn a seu irmão morto em batalha, na versão estendida.

As Duas Torres é um filme para ficar para a história do cinema, como parte da talvez melhor trilogia de todos os tempos. Só o tempo confirmará...

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