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Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, O

(Lord of the Rings: The Return of the King, The, 2003)
8,9
Média
1645 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um sentimento de nostalgia incrível com um final perfeito da trilogia que vai deixar saudades marcadas em muitos.

10,0

Finalmente a espera chegou ao fim. Sem sombra de dúvidas, essa semana foi uma das mais prazerosas que já tive com relação ao cinema em toda a minha vida – e, sinceramente, duvido que algum momento futuro a supere. Digo isso porque, durante essa semana, tive o prazer de desfrutar dos dois primeiros filmes da série, O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel e O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, em suas versões estendidas com telão e som perfeitos. Claro que isso serviu como preparação para encarar o último episódio, lançado nesse dia 25 de Dezembro. A melhor notícia é que ele superou todas as expectativas possíveis, fechando com perfeição a saga de Frodo e seus amigos para destruir o anel do mal, mas também deixou um certo ar de saudade, nostalgia, que somente um grande filme poderia deixar em sua conclusão. Mais a frente vou tentar explicar, sem me alongar muito, porque essa série é minha preferida, porque o filme fechou com chave de ouro a trilogia e o porque dessa tristeza chata que sinceramente incomoda bastante.

O filme não se inicia com uma recapitulação do que aconteceu nos dois anteriores ou então de modo agitado como o segundo, e sim com uma simples exibição de como Sméagol conseguiu se apossar, pela primeira vez, do anel. Isso é bom porque, de certo ponto, Jackson tem a confiança de que o público não se esqueceu de sua obra, mas realmente pode ocasionar uma certa dose de ‘estou perdido’ nos menos fascinados pelo filme ou livro. Mas ao mesmo tempo que ele assume essa posição no início, erra ao fazer pequenas recapitulações de itens ou acontecimentos menores dos filmes anteriores em flashbacks relâmpagos. Ou seja, o recurso ainda está presente em um momento ou outro.

Da história mesmo em si, tudo continua praticamente na mesma, mas tomando proporções cada vez mais cavalares. Enquanto no primeiro filme tínhamos um imbatível espírito de aventura – e é o meu preferido por isso, por ser um filme ‘menor’ -, o segundo já apresentava a dimensão que toda a disputa do bem contra o mal estava ganhando. E esse terceiro vem para fechar tudo o que foi iniciado à dois anos atrás, deixando todas pessoas – mesmo que não fãs – curiosas para saber se Frodo iria conseguir carregar seu fardo ou não até o fim, só que balanceando perfeitamente o espírito do primeiro com as batalhas do segundo. Enfim, a resposta já está dada. Sam e Frodo continuam sendo guiados por Gollum até Mordor para destruir o anel, enquanto Gandalf, Légolas e Gimli acompanham Aragorn em sua busca para, como o filme é intitulado, assumir o posto que é seu de dever.

Alguns personagens ganharam uma dimensão muito mais especial, como os hobbits Pippin e Merry. Se em As Duas Torres eles já tinham uma participação significativa pro desenrolar na história, aqui eles ganharam um desenvolvimento psicológico e uma tensão dramática importante o suficiente para que nos preocupemos com os destinos dos pequeninos. Outro que ganhou destaque foi Faramir, depois de ter sua personalidade um pouco deturpada com relação ao livro em As Duas Torres – fator corrigido pela versão estendida do mesmo, que acrescenta MUITO à história. Aqui percebemos muito mais o seu drama, o que lhe motiva a fazer tudo o que faz. Agora quem cresceu mesmo foi Sam. Se nos outros filmes ele já era uma peça importante, arrisco dizer que aqui ele se tornou imprescindível para a história. O personagem pediu uma pesada interpretação de Sean Astin, merecendo ao menos uma indicação para coadjuvante esse ano, se a justiça for feita.

Para entender um pouco da complexidade em que o personagem se encaixou, ao pensar nele, um leque de possibilidades se abriu a minha frente para comentar: atores, a emoção adicionada ao filme, a relação pura de amizade entre ele e o possuidor do anel. Frodo não mudou muito em relação aos filmes anteriores, mas o trio formado por Aragorn, Légolas e Gimli, por incrível que pareça, teve a participação diminuída um pouco. Não que eles tenham perdido a importância na história e que seus momentos não sejam marcantes, mas para um filme que relaciona o subtítulo ao personagem Aragorn, por exemplo, creio que ele tenha ficado pouco tempo na tela. Mas nada que comprometa o resultado final, pois no momento em que estão lá continuam os mesmos; Aragorn com sua força e presença de tela, Légolas com seus malabarismos milagrosos que divertem a todos (aqui ele faz uma cena inteira fantástica) e Gimli com seu bom humor característico, se bem que bem mais moderado que no segundo capítulo da trama (na seqüência dessa cena de Légolas, Gimli faz uma das piadas mais engraçadas da trilogia inteira). Gandalf mostra uma força ainda maior, talvez justamente respondendo o que todos devem ter se perguntado de onde ele teria conseguido destruir um demônio como Balrog.

Muito foi comentado sobre o corte das cenas de Saruman. Sinceramente, não senti falta do personagem, uma vez que temos sua conclusão em As Duas Torres e tudo o que foi suposto no segundo filme foi confirmado pelo terceiro. Claro que no livro ele tinha uma participação bem maior, mas como toda boa adaptação, algumas coisas têm que ficar de fora, e como estou analisando o filme pelo que ele é, e não pelo que ele deixou de ser, digo que a saída encontrada por Jackson foi excelente e bem satisfatória. Os cavaleiros negros voltaram à ativa e acrescentam uma tensão bem maior do que no segundo filme, onde eles praticamente não haviam sido utilizados. Apesar disso, achei a conclusão dos personagens fraca, talvez o maior ponto fraco do filme. Não gostei mesmo de sua luta final, deixou a desejar nesse sentido.

Talvez um outro pequeno ponto negativo seja, em parte, a grande batalha do filme. Não que ela seja ruim, que você não deixe de ficar tenso um segundo sequer ou não torça pelos personagens, mas sim, já pelo tamanho do filme, a duração acabou ficando um pouco prejudicada. Ou seja, quando você está se empolgando, termina. Mais uma vez, repito para não ficar mal entendido: ela não é ruim, e quase todos os monstros apresentados anteriormente pelo filme participam, mas talvez justamente para dar a dimensão que Jackson queria dar ao combate, creio que a batalha tivesse que ter uns 10 a 15 minutos a mais. Mas, mesmo assim, ainda há momentos brilhantes, principalmente por parte do trio principal e dos enormes olifantes que deram o tempero perfeito ao combate.

Enquanto a batalha foi prejudicada nesse aspecto, creio que o final já tenha sido o inverso. Apesar de ter gostado muito, admito que os diversos finais seguidos complicaram um pouco o ritmo do filme, deixando ele um pouco arrastado. Cheguei a ouvir, em certo momento, de uma pessoa que estava sentada ao meu lado: ‘esse filme não acaba não?’, mas não em um tom de insatisfação, mas justamente uma reação natural à diferença de ritmo que o filme vinha tendo pouco antes. Estava claramente impresso na tela que Jackson não queria terminar com todo o trabalho. Também pudera, depois de depositar sete anos de trabalho de sua vida no filme, ele estava chegando ao fim. O filme termina com um já esperado ‘The End’, diferente dos outros dois filmes, e os créditos finais são espetaculares, uma obra prima visual. O gostinho de quero mais, e o pensamento de saber que acabou, que não haverá mais toda a expectativa ano após ano de saber como tudo vai terminar, me deixou triste de verdade, mas muito satisfeito com o resultado do filme.

Mas chega de coisa triste ou de falar mal do filme, porque isso tudo é muito fácil. Com a nota que carrega, é bem óbvio que o filme tem infinitamente mais qualidades do que defeitos, e é justamente delas que eu vou tratar agora. Pegando carona com o parágrafo anterior, em que eu falei do final do filme, quero comentar algo que realmente foi novo para mim no terceiro episódio: a emoção. A todo momento você está grudado na cadeira, torcendo pelos personagens, completamente dentro da história, e isso é um ponto fortíssimo a favor, pois não são personagens comuns, mas mesmo assim tem a simpatia do público e toda a sua torcida por um final feliz. Foi extremamente gratificante ver, ao final da sessão, que a platéia batia palmas e estava realmente feliz com o filme. Muitos choraram, confesso que foi muito difícil segurar as lágrimas em diversos momentos do filme, algo que nos dois anteriores não tinha acontecido. Me arrepio só de lembrar as cenas emocionantes, os discursos que não cativam somente os personagens, mas a todos nós, a emoção e pena que os acompanha... A relação de amizade que Tolkien criou entre Frodo e Sam e que Jackson conseguiu transpor perfeitamente para a tela é uma mensagem muito bonita que funciona de maneira sublime. E a inocência adotada aos hobbits desde o primeiro episódio é um dos principais fatores que tirarão muitas lágrimas do público. Tudo, novamente, mérito de Jackson.

Escrevendo agora eu vejo o quanto é mais difícil falar bem de algo. Mas talvez o que resuma bem o que estou sentindo seja apenas uma palavra: satisfação. É bem claro que isso é favorecido pelos três filmes terem sido gravados juntos, e mesmo com todos os cortes que ele sofreu, a história é toda muito bem costuradinha. Para tudo o que acontece, nada é gratuito, tudo tem uma reação ao final, e isso foi algo que me agradou bastante no roteiro – e justamente um ponto a favor que resultou no tamanho da grande batalha do filme.

A cena em que a Laracna aparece é fabulosa. Além do animal estar absurdamente bem feito – aliás, mais uma vez o filme arrebenta nesse sentido, outro exemplo são os Olifantes – há uma tensão fabulosa que vai deixar todos sem respirar por alguns segundos, enquanto acompanham a cena. Eu arrisco até a dizer que é a cena mais sombria e assustadora do filme, afastando um pouco da característica geral da série, mas isso não é ruim, e sim o cinema feito de sua melhor maneira. Gollum novamente está sublime, ainda melhor que no segundo filme, mas o que impressiona nessas criaturas todas digitais é o nível de interatividade que ela tem com o mundo real, sem nunca – repito, nunca – soar falso e cair no ridículo. Ou seja, apesar de toda a fantasia no ar, o filme sempre convence, e isso é outro fator importantíssimo a favor.

A arte então, é um trabalho que vemos de décadas em décadas. Desde o primeiro filme podemos ver o trabalho primoroso que foi realizado na série, reproduzindo fielmente as armas, feitas da maneira que elas eram feitas por nosso antepassados, uma por uma em pró do realismo. E isso é bom, pois funciona e realmente torna-se um filme visualmente deslumbrante de se acompanhar, quando somada à bela fotografia com o tom que a história propõe. Ou seja, tecnicamente o filme é impecável. Talvez somente a canção tema seja inferior a do primeiro filme e não acompanhe o ritmo dos outros setores, mas a trilha arrebenta e me peguei cantando várias vezes o tema de viagem durante o dia, enquanto escrevo e em diversos outros momentos do dia.

É difícil comentar sobre os acertos do filme sem soltar uma ou outra informação a mais, então prefiro parar por aqui. Mas não se esqueçam de tudo o que eu disse a favor, pois apesar de ter falado um pouco demais sobre os defeitos, ressalto mais uma vez que o filme é extremamente emocionante e um dos melhores meios de se fazer cinema que eu já vi, ou seja, esses defeitinhos em nenhum momento comprometem o resultado final da obra – menos ainda da trilogia. É para sentar, torcer, se emocionar, enfim, uma obra bem completa.

Fecha com chave de ouro tudo o que os outros filmes abriram, são todos os jogos de RPG que já joguei na vida e um pouco mais, é um momento único que lembrarei por décadas, então fica aqui a minha recomendação. Sem dúvida, uma das mais prazerosas sessões de cinema que já assisti. Não quero falar bem demais também para não estragar, mas dificilmente você vai deixar de mergulhar no filme e concordar com tudo o que falei. Talvez seja difícil também entender que o filme seja tão bom sem assisti-lo, mas acreditem, ele é tudo isso e muito mais. Pena que não terei que esperar mais um ano para curtir mais uma parte da aventura, o que cria esse forte tom ambíguo com as palavras q eu todos esperavam desde 2001: ‘The End’.

Comentários (2)

Ian P. B. | domingo, 21 de Setembro de 2014 - 11:43

Não vi o filme e pretendo ver. Mas depois de tantos elogios e prêmios que esse filme ganhou... Muito, muito provavelmente eu vou ama-lo.😁

Luiz F. Vila Nova | domingo, 21 de Setembro de 2014 - 14:34

O meu preferido da trilogia continua sendo 'A Sociedade do Anel'. Este aqui expande os limites dos anteriores, com efeitos visuais soberbos (embora algumas cenas estejam hoje datadas), um elenco afiado, um ótimo roteiro e uma direção inspirada de Jackson. Porém, o primeiro continua sendo o mais belo e envolvente da trilogia.

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