Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Penúltimo capítulo da saga é uma desvalorização de elenco e conteúdo.

4,0
Apesar das claras ambições mercadológicas, aquela divisão do último livro da saga Harry Potter em duas partes certamente beneficiou os dois filmes que brotaram dali, muito distintos entre si, mas que se completavam de uma forma bela e, devido à densidade do material, ganharam a oportunidade de não espremer o material de J.K. Rowling em uma massa confusa. Pois bem, o passar dos anos garantiu que esta opção se tornasse uma nova identidade das sagas voltadas ao público infanto-juvenil, garantindo que outros infantes como Crepúsculo e Jogos Vorazes tomassem a mesma liberdade de adaptação. Nenhum com resultados satisfatórios.

E já como um reflexo da sombra onde nasceu, debaixo de outros derivados como Maze Runner ou O Doador de Memórias, A Série Divergente: Insurgente assume o posto de primo pobre de todas estas franquias, já que convenhamos, este mundo distópico criado pela mente de Veronica Roth nunca empolgou, ao menos nas telas, como seus irmãos mais ambiciosos. Apesar da funcionalidade de Divergente em nos apresentar aquele universo e a razoável eficiência de Insurgente como ponto de transição, sempre foi latente a ausência de alma e coração na transposição do material, calcado no sucesso de seus irmãos mais ambiciosos, mas distante de alcançar a mesma satisfatoriedade (e esse próprio ponto também é uma variante, vale lembrar).

Iniciado do exato ponto onde Insurgente terminou (e ainda insistindo numa extensa recapitulação em seus 30 primeiros minutos), Beatrice (Shailenne Woodley) e Tobias (Theo James) se arriscam a descobrir o que há fora do Muro da cidade de Chicago, acompanhados por Christina (Zoe Kravitz), Caleb (Ansel Elgort) e o dúbio Peter (Miles Teller, o ponto alto do elenco). Logo descobrem uma civilização mais avançada comandada por David (Jeff Daniels), enquanto uma nova divisão social surge devido às atitudes de Evelyn (Naomi Watts), em confronto com a pacífica Johanna (Octavia Spencer).

Convergente começa pecando ao apresentar este mar de rostos e nomes dentro de uma narrativa que visa se estender para além da suposta funcionalidade destes personagens, denotando um desinteresse pela coerência nas atitudes que o roteiro entrega ao elenco. Shailenne parece ter ciência de que não há muito o que fazer por uma personagem injustificada como Tris e entrega uma atuação cansada, visivelmente exausta pele repetição de diálogos infames que foi obrigada a decorar. Theo James não está ali para outra coisa além de ser um suposto rosto bonito (ênfase no suposto), Jeff Daniels caí no maniqueísmo básico de um novo rosto que aparenta ser uma coisa boa, mas que previsivelmente, e muito cedo, mostra não ser. Naomi se esforça para trazer alguma dignidade a Evelyn, que num impasse incompreensível, começa a tomar as mesmas atitudes equivocadas da personagem de Kate Winslet no passado. E são linhas e mais linhas exemplificando que, no número de nomes talentosos do elenco, sobra espaço para a coerência nas suas atitudes.

Ao menos em sua concepção visual, Convergente representa um avanço para a saga. O deserto marcado por um tom de vermelho que se aproxima do sangue é interessante, assim como a própria nova civilização descoberta por Tris e seus companheiros, bem exemplificada conforme os personagens vão adentrando sobre ela. Mas são fatores que, novamente, funcionam aos olhos no momento, mas perdem sua força quando são conceitualmente deixados de lado, acreditando que meramente satisfazer o público com mínimo de encantamento visual será suficiente. Não sei se boa parte da culpa está no diretor Robert Schwentke, que além da exploração rasa do design de produção ao pé da vista, pouco se esforça para que suas cenas de ação ultrapassem o limite do burocrático, e isso porque estamos falando de alguém com dois ótimos filmes de ação e suspense no currículo: Plano de Voo e RED - Aposentados e Perigosos. Para a pirotecnia da vez, Schwentke parece acreditar que filmar uma explosão virar um comboio e capturar isto em câmera lenta já é delirante o bastante para o público consumidor deste tipo de material.

Com efeitos especiais abaixo do que já fora visto nos capítulos anteriores (a sequência da travessia do muro é um riso só), o desleixo dos envolvidos em Convergente resultou no que já deveria ser esperado: uma queda brusca na arrecadação mundial, o que irá afetar até mesmo o capítulo final, que contará com o menor orçamento de todos os filmes. Culpa de um trabalho que se contenta com o básico, que acredita que a realização feita sobre as coxas é suficientemente necessária para continuar a atrair o público. Convergente é um blockbuster redondinho, cheio de concessões e conveniências, e por isso mesmo, tão esquecível quanto a própria saga já se tornou desde antes de seu término.

Mas apesar dos pesares, que venha o capítulo final.

Comentários (0)

Faça login para comentar.