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Shazam!

(Shazam!, 2019)
6,2
Média
148 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

A arte de não se levar a sério.

7,0
Em uma das melhores piadas de Deadpool 2, o personagem-título pergunta ao seu antagonista Cable: “Você é tão sério! Tem certeza que você não é do universo DC?”, confirmando a pecha que a visão de Snyder influiu naquele universo, bem como a visão politizada porém acessível de Kevin Feige conferiu a personalidade da Marvel. Preocupada com as críticas, a Warner Bros./DCEU soltou Esquadrão Suicida e Liga da Justiça, cujos principais problemas era a salada de tons que nos era narrada. Afinal, era para levar a sério ou não?

Porém, pelo visto, a produtora conseguiu sair do ponto mais crítico da franquia um pouco revigorada por conta de Mulher-Maravilha, lançado cinco meses antes de Liga da Justiça e conquistando bilheteria e crítica, beneficiando-se de diretores e roteiristas mais livres para explorar os personagens, conectados superficialmente com o todo e menos preocupado com ser o rival direto da Marvel. Não é que deu certo? Patty Jenkins fez um filme aventureiro e dramático e com um senso de propósito com gás narrativo invejável. A história de Diana de Temiscira garantiu Aquaman, que repetiu a história manjada de príncipe renegado explorada no primeiro Thor mas se comprovou uma bela cama para o olhar grandiloquente e colorido de James Wan. E Shazam! é o resultado de um olhar mais relaxado e até displicente sobre a temática.

A clássica história do personagem que já foi conhecido como Capitã Marvel foi atualizada aqui como a história de Billy Batson, um garoto órfão que vive fugindo de orfanatos até ser adotado por uma nova família, cheia de irmãos um tanto peculiares. Ao proteger um deles de valentões na escola, Billy acaba encontrando um mago que lhe confere poderes através dos dizeres “SHAZAM!”, um acrônimo para suas novas capacidades inspiradas em heróis mitológicos: a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, a resistência de Atlas, a magia de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio.

O diretor David F. Sandberg, que anteriormente comandou Quando as Luzes se Apagam, baseado em seu próprio curta-metragem homônimo e Annabelle 2: A Criação do Mal, spin-off do universo Invocação do Mal, consegue fazer render alguns momentos interessantes em seu longa, como ao apresentar a câmara mágica que confere poderes àquele que for digno: tomadas áreas, câmeras circundando personagens, grandezas de quadro exageradas compõem realmente um ar fantástico.

Como diretor de terror, Sandberg também orquestra com muita naturalidade a construção do Dr. Silvana, que é renegado pelo Mago Shazam quando criança ao falhar em um teste e passa o resto de sua vida ressentido em busca de encontrar novamente o portal e conquistar poder. Ele consegue isso arruinando o templo e sendo o hospedeiro de sete demônios que representam os Pecados Capitais, mas passa a querer cobiçar os poderes do próximo Shazam. Os demônios parecem egressos de filmes de terror de shopping, aplicando jumpscares e performando cenas de violência no limite da classificação etária. O intérprete Mark Strong chega a lembrar Patrick Wilson em Aquaman - o único ator levando o filme (mais ou menos) a sério no meio da bagunça. Funciona - cria antagonismo com sua crueldade sempre em tom sério, mas ao mesmo tempo confere uma faceta mais vulnerável ao “cara mau” de sempre.

E claro, o aspecto principal pelo qual o filme será inevitavelmente lembrado: Shazam é, principalmente, uma comédia. E isso se deve, principalmente, ao carisma de Zachary Levi, que desde o início acerta o tom no conceito “garoto em corpo de adulto” na melhor escola Quero Ser Grande. Boa parte do filme é dedicada a Shazam descobrir seus poderes, ficar viciado na fama que acarreta e aprender com a irresponsabilidade de seus atos. A mistura de sagacidade com obtusidade, de sorriso moleque com olhar aparvalhado, é um acerto e tanto em matéria de atuação - difícil não rir a cada nova besteira feita ou dita. 

É positivo também o fator que o ator-mirim tenha ficado com todo o substrato dramático. Sempre com o tom de garoto rebelde e abandonado, é ele que aprende com as irresponsabilidades de Shazam; aquele que seria seu mentor, o Mago Shazam, some da trama e ele tem de aprender certos valores como confiança e ligações afetivas a duras penas. Dr. Silvana é introduzido quando Shazam não tem mais ninguém e resta a Billy entender o que é um herói. Uma dualidade interessante, rascunhada mas não muito aprofundada, e que o filme consegue tocar com muita organicidade, acrescentando camadas ao personagem sem se deslocar muito do fio narrativo principal. 

Não podemos esquecer, é claro, que Shazam! é o mesmo filme de sempre pela enésima vez. Tem alguns diferenciais como mencionados acima (personagens tridimensionais, momentos de terror...) mas é o filme colorido e engraçado de sempre - e mais ainda. É um roteiro cujo espírito reside na total recusa em se levar realmente a sério e, assim como o Deadpool 2 citado lá no início, se permitir brincar com os maiores clichês do gênero. Como o público, os personagens amam a mitologia pop dos super-heróis, e a citam tentando seguir seus passos. Se a fórmula foi estabelecida lá atrás, temos agora uma autoconsciência por vezes revisionista (vide Logan), por vezes apenas sem medo de incorporar ao amor pelo modelo narrativo à própria narrativa em si. Candidato ao posto de filme mais divertido do ano.

Comentários (11)

Walter Prado | sábado, 06 de Abril de 2019 - 14:20

Bom, então, eu não gosto, fazer o que...

Matheus Bezerra de Lima | domingo, 07 de Abril de 2019 - 22:00

Eu só quis dizer que não dá para generalizar os problemas de Hollywood. Super-heróis também podem ser maravilhosos, só isso. O que falta é arriscar mais ou mais coração e alma. O melhor dos super-heróis ainda se encontra disparado muito mais nas séries animadas, embora ainda curta demais muitos filmes de herói.

Conde Fouá Anderaos | segunda-feira, 15 de Abril de 2019 - 19:04

Divertidíssimo. Boa surpresa. Nostálgico. Os acertos superam os erros por longa margem.

Abelardo Barbosa | terça-feira, 09 de Julho de 2019 - 18:03

Achei um filme legal até a metade depois foi horrível .Final muito ruim. esse filme não vale nem nota 5.5 . bizarro como os fans elevam essa porcaria a um patamar onde ele não merece estar . se é ruim!! é ruim . e obriga a Warner a investir a fazer filmes melhores .
se é ruim e vc diz que é bom . vc está elogiando merda.

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